SÃO PAULO - As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre os governos de esquerda na América Latina causaram desconforto no Chile e em seu presidente, Gabriel Boric. No debate na noite deste domingo (28) - promovido por UOL, Folha de S. Paulo, Band e TV Cultura - Bolsonaro acusou Boric de ter ateado "fogo em metrôs".
Em nota, o governo chileno citou o presidente brasileiro por nome e afirmou que as falas "são inaceitáveis e não estão de acordo com o tratamento respeitoso devido aos chefes de Estado ou com as relações fraternas entre dois países latino-americanos".
Ao mirar seu principal oponente nas eleições deste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe do Executivo brasileiro disse ontem: "Lula apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tocar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo o nosso Chile?".
Boric, de 35 anos, é ex-líder estudantil e o presidente mais jovem da história de seu país. Sua vitória representa uma guinada à esquerda e rompeu com três décadas de alternância entre os partidos de centro desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. No início do ano, Bolsonaro rejeitou ir à posse de Boric e enviou seu vice, Hamilton Mourão (Republicanos).
Ainda no discurso contra o petista, Bolsonaro citou os governos da Argentina, Colômbia e Venezuela antes de falar sobre a Nicarágua. "O nosso prezado presidente Lula apoiou, na Nicarágua, [Daniel] Ortega, que agora persegue cristãos, prende padres, expulsa freiras. Uma perseguição religiosa sem tamanho. E quando ele é questionado sobre isso, ele diz: 'Não devemos meter o nariz em outros países'".
A fala não é isolada. Em suas lives semanais, o presidente brasileiro tem investido contra esses governos, ressaltando, como ontem, que o Brasil estaria recebendo "mais de 500 pessoas por dia" da Venezuela "fugindo da fome, da miséria, da violência".
As críticas do presidente a respeito da "nossa Argentina" giram em torno da economia do país, enquanto as sobre a Colômbia assumem um tom moral, alegando que o presidente Gustavo Petro apoia "liberação de drogas, liberação de presos".
Em entrevista na semana passada ao Jornal Nacional, Bolsonaro propositalmente evidenciou uma "cola" em sua mão esquerda com as palavras: "Nicarágua", "Argentina", "Colômbia" e "Dario Messer", também conhecido como "o doleiro dos doleiros".
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