O governo da China enviou um recado nada sutil à Índia nesta quinta (10), ao divulgar que está treinando militares para operações em terrenos de alta altitude.
O anúncio, feito em reportagem da TV estatal CCTV, ocorre em meio ao aumento da tensão entre os países no conflito que travam desde o fim dos anos 1940 sobre fronteira na região do Himalaia mais conhecida pelo nome indiano de Ladakh.
O terreno em disputa tem exatamente as características citadas pela CCTV, altitudes acima de 4.000 metros -o que torna operações militares difíceis pela inacessibilidade e pela falta de condicionamento de soldados.
Segundo a TV, uma brigada de operações especiais do Comando do Tibet e uma brigada de aviação participaram dos primeiros treinos com salto de paraquedas em terrenos dessa altitude recentemente, mas sem divulgar a data.
Foram 300 militares envolvidos numa primeira fase, que será expandida a mais 1.000 soldados. Além disso, canais oficiais das Forças Armadas mostraram a presença de um avião de transporte Y-20 e de pelo menos três bombardeiros H-6 em uma base na região do Tibet, que tem condições semelhantes às da fronteira disputada.
Nesta mesma quinta, a Índia apresentou a entrada em operação de seus primeiros 5 de 36 caças franceses avançados Rafale, que vão operar na base de Ambala, relativamente próxima da região contestada.
As manobras chinesas se somam a outras feitas pelos dois países desde maio, quando começou a atual rodada de provocações na fronteira.
O ponto mais alto foi em junho, quando pelo menos 20 indianos e um número não revelado de chineses morreram quando houve um embate fronteiriço, à base de paus e pedras para não violar o cessar-fogo vigente na região desde 1996.
Um vídeo começou a circular com soldados dos dois lados se atacando nas redes sociais indianas e chinesas, mas não é possível dizer de quando ele é. As últimas mortes por armas de fogo haviam sido em 1975, e uma guerra vencida por Pequim chegou a ser travada em 1962 na área.
Na segunda (7), após movimentações descritas pelos dois lados como provocativas em torno do lago Pangong, houve mais uma situação grave: chineses e indianos se acusaram de atirar, violando o cessar-fogo, e de mover tropas sem respeitar a fronteira presumida da chamada Linha de Controle.
O entrechoque veio três dias depois de os chanceleres dos dois países se encontrarem em Moscou, parceiro de ambos. Pequim vê Nova Déli, próxima do governo de Donald Trump, como parte da campanha americana da Guerra Fria 2.0. Já os indianos temem a aliança militar entre China e Paquistão, seu maior rival regional.
Uma guerra entre as potências nucleares asiáticas, que somam 2,8 bilhões dos 7,8 bilhões de humanos, é improvável e indesejável. Mas ambas as lideranças têm de responder a públicos internos belicosos e nacionalistas, então choques não são nada improváveis.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta