Em longa entrevista à agência de notícias Xinhua na quarta (5), o ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi, rejeitou a ideia de uma Guerra Fria 2.0 com os EUA.
"A China de hoje não é a antiga União Soviética e não tem intenção de se tornar outro Estados Unidos", disse ele.
A entrevista ao veículo chinês ocorre em um momento de tensão nas relações entre os dois países.
Nos últimos meses, Washington subiu o tom em relação ao país oriental, culpando-o pela pandemia do novo coronavírus, criticando a repressão de Pequim aos protestos em Hong Kong e ameaçando impor restrições a companhias chinesas que operam no país.
Segundo Wang, há políticos americanos que são tendenciosos e hostis em relação à China e estão usando seu poder para obstruir as relações entre os dois países.
Na entrevista, o tom do chanceler foi o de estabelecer pontes, e ele se colocou à disposição para encontros com os EUA "em qualquer nível, sobre qualquer assunto" para tentar evitar mais conflitos entre as duas principais economias do mundo.
"Se a cooperação entre a China e os EUA fosse injusta e não recíproca, como poderia ter continuado por várias décadas? Como os laços entre a China e os EUA teriam percorrido esse longo caminho?", questionou Wang.
Descrevendo a conduta de Washington em relação ao país como impulsiva, o chanceler instou os EUA a "estabelecer um diálogo de igual para igual".
"Nós exortamos os Estados Unidos a parar de agir com arrogância e preconceito", disse.
Uma das críticas de Wang foi à decisão do presidente americano, Donald Trump, de se retirar da OMS (Organização Mundial da Saúde) durante a pandemia do coronavírus. "O governo atual se retirou de mais tratados internacionais do que qualquer um antes dele."
"O verdadeiro desafio para a ordem internacional é o fato de que os EUA, o país mais forte do mundo, colocam seus próprios interesses acima de todo o resto", disse.
Trump anunciou o rompimento com o órgão de saúde em maio. Os EUA são os maiores doadores da OMS -em 2019, o país desembolsou US$ 400 milhões (R$ 2,06 bilhões), equivalentes a cerca de 15% do orçamento da organização sediada em Genebra.
À época, o americano disse que os pagamentos seriam direcionados a outras entidades de saúde pública.
No capítulo mais recente da crise diplomática entre as duas potências, Pequim ordenou o fechamento do consulado americano em Chengdu, no sudoeste do país.
Foi o cumprimento de uma promessa de retaliação anunciada assim que Washington mandou fechar o consulado chinês em Houston, no estado do Texas.
"Todas as desculpas para o fechamento apresentadas pelos EUA não passam de invenções para difamar a China, e nenhuma delas é apoiada por qualquer evidência ou resiste a escrutínio", disse Wang.
"A China não tem intenção de lutar uma 'guerra diplomática' contra os Estados Unidos", acrescentou.
Washington tem acusado Pequim de ser responsável pela disseminação do novo coronavírus --o vírus foi detectado pela primeira vez na província de Wuhan. E têm usado o cerco da China a Hong Kong para criticar o país asiático também no campo dos direitos humanos.
No mês passado, a Casa Branca determinou o encerramento da política de tratamento econômico especial dado à ex-colônia britânica em resposta à imposição chinesa de uma lei de segurança nacional que erodiu grande parte das liberdades do território semiautônomo.
Os EUA também têm apoiado os manifestantes anti-Pequim -Hong Kong vive uma onda de protestos desde junho de 2019.
No início da entrevista à Xinhua, o chanceler relembrou a visita histórica de Richard Nixon à China em 1972, que marcou a retomada de relações diplomáticas entre os dois países, e disse que as diferenças sociais entre as potências não afetaram a coexistência pacífica no passado e não deveriam afetar relações no futuro.
"Não é necessário nem possível que um país mude o outro. Deveríamos, em vez disso, respeitar a escolha feita de forma independente pelos povos de cada lado", afirmou Wang. "O socialismo com características chinesas serve a China e tem o firme apoio da população."
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, já afirmou que o Partido Comunista Chinês é uma "ameaça para a humanidade" e pediu que o povo chinês "mudasse o partido", aumentando especulações de que uma estratégia de mudança de regime poderia ser aplicada ao país oriental.
"A China continuará a promover o desenvolvimento e o progresso para atender as expectativas de seu povo, e fazer novas e maiores contribuições à humanidade", disse o chanceler.
"Qualquer pessoa que tentar atrapalhar esse processo encontrará o fracasso."
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