Quando o assunto é voto por correio, Utah faz valer a máxima de 1 em 1 milhão. Desde 2013, autoridades registraram apenas um caso de fraude em 970 mil cédulas enviadas por correspondência em eleições no estado, derrubando a tese vociferada por Donald Trump de que a prática aumentará a chance de irregularidades na disputa à Casa Branca.
Com 3,2 milhões de habitantes, Utah soma-se a Havaí, Colorado, Washington e Oregon entre os cinco estados que realizam eleições quase totalmente por correio nos EUA. Utilizado há anos de forma segura no país, o voto por correspondência virou tema de desinformação na disputa à Presidência e mobilizou os dois lados do xadrez político em meio à pandemia que já matou mais de 215 mil americanos.
Para evitar aglomerações, o uso do voto a distância deve aumentar consideravelmente nas eleições deste ano, o que também deve atrasar a divulgação completa dos resultados. Numa espécie de vacina para quem está dez pontos percentuais atrás nas pesquisas, Trump tem repetido o discurso de que o voto por correio pode levar a fraudes e chegou a sugerir que os americanos votem de forma presencial e por correspondência, o que é ilegal.
O presidente também se recusou a responder se vai aceitar a derrota para o democrata Joe Biden e sinalizou que pode questionar o resultado na Justiça.
As acusações do presidente, porém, não têm fundamento. Estudo da Heritage Foundation, um centro de pesquisas conservador, mostra que, desde 1988, de 250 milhões de cédulas enviadas pelo correio, apenas 208 eram fraudulentas e resultaram em condenações.
Nos EUA, além de ir à urna no dia da eleição, o eleitor pode votar pessoalmente de forma antecipada ou ainda fazer o voto por correio, que precisa ser solicitado com antecedência. As regras variam de estado para estado, mas a pandemia fez com que muitos deles deixassem de exigir justificativa para o voto a distância.
Trump avalia que mais participação de eleitores pode favorecer Biden. Diante da ofensiva do republicano, Biden inicialmente estimulou com vigor o voto por correio e foi ouvido por grande parte de seus eleitores. Pesquisa de agosto de Wall Street Journal/NBC mostrou que cerca da metade dos apoiadores do democrata pretendia votar por correspondência.
Nas últimas semanas, porém, a ideia passou a ser um problema. Não por causa das fraudes pouco prováveis, mas por erros simples que podem ser cometidos por eleitores pouco habituados a preencher, assinar e enviar as cédulas corretamente, gerando a rejeição do voto.
Não há dúvida de qual partido se beneficiaria com a desqualificação em massa de cédulas enviadas pelo correio, mas ainda não está claro o tamanho do impacto para cada candidato. A certeza é que, em razão da logística, será difícil cravar quem foi eleito presidente dos EUA na noite de 3 de novembro.
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