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Com 3 a cada 4 mortes por dengue no país, São Paulo decreta emergência, mas vacina não chega a 40% das cidades

Com 3 a cada 4 mortes por dengue no país, São Paulo decreta emergência, mas vacina não chega a 40% das cidades

Se por um lado os casos da doença aumentam, por outro, a vacinação contra a dengue ainda esbarra na falta de doses disponíveis – seja na rede pública ou particular de saúde.

Publicado em 21 de fevereiro de 2025 às 07:44

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Imagem BBC Brasil
Vacinas contra a dengue estão faltando até na rede particular de SP. (Getty Images)

Simone Machado

Com casos de dengue em alta, o governo do estado de São Paulo decretou na quarta-feira (19) situação de emergência para a doença em todo o Estado.

Segundo dados do painel de monitoramento do Ministério da Saúde, 152 óbitos por dengue foram registrados no país em 2025, destes, 118 ocorreram no Estado de São Paulo, o que dá um pouco mais do que 3 a cada 4 casos do país.

Mais uma morte em decorrência da doença foi confirmada pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, mas ainda não entrou na contagem do governo federal até a tarde desta quinta-feira (20). Há ainda 244 óbitos em investigação no Estado.

São Paulo ainda registrou 130.127 casos confirmados da doença – uma média de 292 casos a cada 100 mil habitantes. Outros 84.331 casos estão em investigação.

A alta incidência de casos e a projeção de crescimento para as próximas semanas, fizeram com que o Estado decretasse emergência. A medida é implantada sempre que o Estado atinge um índice de 300 casos confirmados a cada 100 mil habitantes.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, 225 municípios paulistas já atingiram mais de 300 casos de dengue por 100 mil habitantes e a média estadual está prestes a atingir o índice.

Com o decreto, gestores públicos podem destinar recursos para combater a doença com maior celeridade e sem necessidade de licitação.

Em 2024, o Estado de São Paulo também decretou emergência devido à dengue, na ocasião ela ocorreu em março. Até o final de fevereiro do ano passado, o Estado teve 198.668 casos confirmados de dengue e 159 mortes.

Vacinação esbarra na falta de doses

Se por um lado os casos da doença aumentam, por outro, a vacinação contra a dengue ainda esbarra na falta de doses disponíveis — seja na rede pública ou particular de saúde.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde 392 municípios paulistas receberam doses do imunizante Qdenga, disponibilizado pelo Ministério da Saúde através do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, outras 253 cidades não receberam a vacina, ou seja, 40% das cidades paulistas.

"A vacinação com o imunizante Qdenga ocorre em 392 municípios paulistas, contemplando crianças de 10 a 14 anos, totalizando 2.403.648 pessoas elegíveis, conforme os critérios definidos pelo Ministério da Saúde (MS).

"A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) informa que, entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025, o Estado recebeu um total de 1.839.243 doses da vacina contra a dengue. Somente em janeiro, foram repassadas 163.979 doses. De fevereiro de 2024 até o dia 19 de fevereiro de 2025, foram administradas, em todo o Estado, 670.936 vacinas da primeira dose e 268.665 segundas doses", disse em nota.

Ainda segundo a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a seleção das cidades que recebem ou não o imunizante é feita pelo Ministério da Saúde.

Imagem BBC Brasil
Em casos mais preocupantes, soro na veia pode ser usado no tratamento contra a dengue. (Getty Images)

Questionado, o Ministério da Saúde explicou que, em conjunto com o Conass e o Conasems — órgãos representantes das secretarias de Saúde de Estados e municípios —, foram definidos os critérios para a definição dos municípios que irão receber as doses, seguindo as recomendações da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"As vacinas são destinadas a regiões de saúde com municípios de grande porte, que apresentaram alta transmissão nos últimos dez anos e possuem população residente igual ou superior a 100 mil habitantes, considerando também altas taxas de casos nos últimos meses", explicou o Ministério da Saúde em nota.

O Ministério da Saúde ainda acrescentou que atualizou a recomendação de uso da vacina, permitindo a ampliação do público-alvo conforme a data de vencimento das doses.

A vacina contra a dengue está disponível nos postos de saúde para crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. Com a medida, os municípios que possuem doses com validade de até dois meses podem ampliar a vacinação para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos. Se necessário, essa ampliação pode se estender a pessoas de 4 a 59 anos, conforme a disponibilidade e a validade das doses.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo não informou se algum município estendeu a vacinação.

Faltam doses até na rede particular

Quem procura o imunizante na rede particular também não consegue encontrá-lo. Clínicas da capital paulista e interior do Estado registram falta de doses desde o final do ano passado.

"As poucas doses disponibilizadas para os serviços privados não dão conta da demanda, então há uma falta generalizada da vacina. É importante salientar que nós, a rede privada, é complementar ao SUS, ou seja, não é concorrente. Porque o SUS, ele fornece vacina para faixas etárias selecionadas para isso, ao passo que o restante do público que poderia ter acesso a essa vacina hoje não tem acesso a essas doses", diz Fabiana Funk, presidente do Conselho da Associação Brasileira das Clínicas de Vacina (ABCVAC).

Atualmente há dois imunizantes contra a dengue autorizados no Brasil: a Qdenga e a Dengvaxia.

A vacina Qdenga, da farmacêutica Takeda, que é disponibilizada para a faixa etária de 10 a 14 anos pelo SUS, pode ser adquirida na rede privada. No particular, podem tomar a vacina crianças a partir de 4 anos até adultos de 60 anos.

O esquema é de duas doses, com intervalo de três meses entre elas, e pessoas que já tiveram dengue não podem tomar. Apesar do custo médio de R$ 500 por dose, o imunizante não está sendo encontrado.

A farmacêutica Takeda explicou em nota que a prioridade é atender aos SUS, limitando as doses de vacina disponibilizadas para a rede particular. Alegando informação confidencial, a farmacêutica não informou quantas doses são destinadas a esse público não abrangido pelo SUS.

"Em relação à oferta de doses da vacina contra a dengue para o setor privado, a Takeda atualmente mantém um estoque de segurança para atender à demanda da população não elegível à vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de priorizar a segunda dose para quem já iniciou a imunização na rede particular. No entanto, o número de doses disponibilizadas ao setor privado permanece limitado, devido à prioridade dada ao atendimento do SUS", disse em nota.

Outra vacina autorizada no Brasil é a Dengvaxia, da farmacêutica Sanofi, disponibilizada apenas na rede particular. Indicada para crianças a partir de 6 anos e adultos até 45 anos, que já tiveram dengue, ela é aplicada em três doses, com intervalo de seis meses.

Segundo a fabricante, não há falta de doses do imunizante para o mercado brasileiro.

"Atualmente a produção de Dengvaxia está alinhada com a demanda do mercado e há disponibilidade do produto para estabelecimentos privados de vacinação e também para distribuidores especializados do segmento", disse em nota.

Por abranger um público mais restrito, a procura por esse imunizante é menor nas clínicas de vacinação. Por esse motivo, segundo as clínicas ouvidas pela reportagem, o investimento nesse imunizante é menor, fazendo com que ele também não seja encontrado.

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