Apesar da curva ascendente de infecções e mortes pelo coronavírus e na mesma semana em que a Argentina entrou para o grupo dos 20 países com mais casos no mundo, o governo anunciou nesta sexta-feira (17) a flexibilização da quarentena.
As regras foram afrouxadas na região metropolitana de Buenos Aires (que inclui a capital federal) e nas províncias de Rio Negro e Chaco, que tem as situações mais críticas do país.
Segundo a universidade americana Johns Hopkins, a Argentina registrou 49.780 casos e 2.133 mortes pela Covid-19.
Foram 120 dias de medidas restritas nessas zonas mais afetadas, incluindo uma "superquarentena" de 15 dias, que termina nesta sexta.
A flexibilização começa a valer neste sábado (18) e vai ocorrer em seis etapas. Em duas semanas, haverá uma nova avaliação da situação e, se necessário, o país pode voltar a adotar as medidas de confinamento extremas.
A partir de segunda-feira (20), estão reautorizados a abrir os comércios não-essenciais, seguindo protocolos de distanciamento social e uso de álcool em gel. Restaurantes e cafés, no entanto, continuam restritos ao delivery e ao "take away", com hora marcada.
Nesta etapa, o transporte público segue restrito aos trabalhadores essenciais. E shoppings e escolas devem permanecer fechados.
As máscaras continuam sendo obrigatórias fora de casa.
Também nessa primeita etapa, fica autorizada a reunião de artistas para realizar atividades culturais a serem transmitidas por streaming. As igrejas podem voltar a abrir para visitas individuais - mas missas continuam suspensas.
Serviços médicos que estavam operando apenas em sistema de emergência, como dentistas e psicólogos, passam a ser liberadas.
As atividades de mudanças, também suspensas em março, podem ser retomadas.
Salões de beleza e barbearias ficam para uma segunda etapa do processo de flexibilização - e as visitas deverão acontecer apenas com agendamento prévio.
Depois de quatro meses fechados, os parques serão reabertos. E, a partir de segunda (20), os argentinos podem voltar a praticar atividades físicas ao ar livre entre 18h e 10h.
Mas os exercícios devem ser realizados no máximo em dupla - grupos de corrida e esportes coletivos não estão autorizados.
As crianças também ganham mais chance de sair de casa: agora elas podem circular durante a semana (e não mais apenas aos sábados ou domingos), mas continuam precisando seguir o rodízio a partir do número de célula de identidade.
Fora das regiões que registram os piores cenários de contaminação, no entanto, a vida tem voltado às ruas. Em mais de dez províncias, que não registram casos novos há dois meses, a maioria das atividades comerciais e industriais já voltaram, incluindo restaurantes, bares, cafés e o turismo interno.
Continuam fechadas, porém, as fronteiras aéreas e terrestres do país - exceto para caminhões com mercadorias e voos de repatriação. Os voos comerciais, internos e externos, devem ser restabelecidos em 1º de setembro.
O anúncio da flexibilização das regras foi feito na Quinta de Olivos, residência oficial da Presidência argentina. Como das outras vezes, o presidente Alberto Fernández sentou-se no centro da mesa, ladeado pelo também peronista Axel Kicillof (governador da província de Buenos Aires) e o oposicionista Horacio Rodríguez Larreta (do PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri, chefe de governo da cidade de Buenos Aires).
Fernández usou linguagem inclusiva para estimular a população a não abandonar as orientações sanitárias. "Todos, todas e todes conseguimos avançar. Mas precisamos continuar com os cuidados, senão, teremos de voltar atrás."
Entre os avanços, Fernández mencionou o aumento de unidades hospitalares de emergência e de leitos de UTI. "A preocupação da quarentena era preparar o sistema de saúde, e que nenhum argentino pudesse estar sem acesso à saúde. E isso nós conseguimos."
Segundo dados oficiais, há ocupação de 64% dos leitos de UTI na região metropolitana de Buenos Aires. Fernández disse que o número preocupa, mas "se não tivéssemos feito essa quarentena, estaríamos com 72% de ocupação".
O presidente afirmou que, nos últimos 14 dias, apesar do aumento do número de infecções e mortes, o país está "em uma situação boa". Como comparação, ele mostrou gráficos com os casos nos EUA, no Brasil, no Peru e no Chile.
"Precisamos, porém, ter muito cuidado, porque o vírus é muito rápido e muito contagioso."
Entre os motivos para que o governo comece a flexibilizar a quarentena, está a pressão de empresários, preocupados com a crise econômica, e da sociedade, que começou a realizar protestos contra as medidas restritivas.
Dados do setor mostram que mais de 25 mil pequenas e médias empresas do país faliram durante a pandemia, assim como 30% dos restaurantes e cafés.
Embora exista uma ajuda do governo para os trabalhadores informais, ela não tem chegado a todos - o que também tem estimulado protestos.
Por conta de um decreto do presidente que proíbe a demissão durante a pandemia, algumas empresas estão preferindo declarar falência, para poder demitir empregados. Multinacionais também começam a fechar suas atividades no país - caso da Latam argentina e da Basf alemã.
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