O caso do ator Kayky Brito, atropelado em uma avenida na orla do Rio de Janeiro na qual a velocidade permitida é de 70 km/h, suscitou um debate acalorado nas redes sociais após a promessa do prefeito da cidade, Eduardo Paes (PSD), de reduzir esse limite.
Evidências científicas mostram que a redução da velocidade tem um impacto significativo na fatalidade associada a acidentes de trânsito.
E Londres é um exemplo disso.
A capital do Reino Unido viu uma redução de 25% (de 94 para 71 no período analisado) em colisões que resultaram em morte ou ferimentos graves depois que os limites de velocidade foram reduzidos para 20 milhas por hora (cerca de 30 km/h) nas principais ruas da cidade, em março de 2020.
O período analisado compara dados dos 26 meses terminados em fevereiro de 2023 com igual intervalo de tempo anterior à implementação da medida.
Já as colisões envolvendo pedestres, ciclistas e motociclistas caíram 36% (de 453 para 290). A queda foi ainda mais acentuada envolvendo apenas pedestres: 63% (de 124 para 46).
Atualmente, mais da metade das ruas de Londres têm um limite de velocidade de 20 mi/h.
No ano passado, acidentes de trânsito na região metropolitana de Londres (ou seja, envolvendo vias com diversas velocidades) deixaram 101 pessoas mortas e outras 3.873 gravemente feridas. Cerca de 23 mil ficaram levemente feridas.
Limites de velocidade mais baixos são um dos principais objetivos da gestão do prefeito de Londres, Sadiq Khan, para eliminar mortes e ferimentos graves na rede de transporte da cidade.
Segundo a TfL, órgão de transporte da Prefeitura de Londres, pessoas atropeladas por um veículo a 20 mi/h (32 km/h) têm cerca de cinco vezes menos probabilidade de morrer do que a 30 mi/h (48 km/h).
Dados mundiais mostram que a velocidade a que as pessoas conduzem é o fator mais importante para determinar se uma colisão ocorre e a gravidade dos ferimentos das pessoas envolvidas.
Em 2020, a velocidade contribuiu para 48% das colisões fatais na cidade. Desde que os limites de velocidade de 20 mi/h foram introduzidos em Londres, houve reduções de 1,7 a 5 mi/h na maioria dos locais monitorados pela TfL.
Segundo o órgão, a análise dos tempos de viagem, fluxos de tráfego e velocidades sugere que o limite de velocidade de 20 mi/h não aumentou o congestionamento.
A TfL informou que vai realizar análises quantitativas adicionais para avaliar o impacto "na suavização dos fluxos de tráfego".
Segundo a Prefeitura de Londres, "os novos limites de velocidade também tornaram uma grande parte de Londres mais segura para as pessoas viverem, trabalharem e se deslocarem, incentivando mais londrinos a abandonarem os seus carros para caminharem, andarem de bicicleta e utilizarem os transportes públicos".
"Mais pessoas utilizam agora formas mais saudáveis e sustentáveis de transporte, o que é vital para reduzir o congestionamento e a poluição atmosférica", informou a Prefeitura em comunicado.
A Tfl também está trabalhando com a Met Police, a polícia metropolitana londrina, para aumentar sua capacidade de tomar medidas coercivas contra motoristas e passageiros que desrespeitam os limites de velocidade.
No período entre 2021 e 2022, a Met aplicou 476.685 infrações por excesso de velocidade, um aumento de 72% em comparação com o ano anterior.
Em nota, Will Norman, comissário de Caminhadas e Ciclismo de Londres, disse que "reduzir a velocidade é uma das coisas mais importantes que podemos fazer para reduzir o perigo nas ruas e tornar mais fácil e seguro para as pessoas caminharem, andarem de bicicleta e usarem o transporte público, criando uma Londres mais segura e verde para todos."
Para Penny Rees, da TfL, "os limites de velocidade de 20 mi/h (32 km/h) não apenas salvam vidas, mas também incentivam os londrinos a viajar de maneira mais ativa e sustentável. Esperamos ver a expansão do programa beneficiar mais áreas de Londres", disse em comunicado.
Londres não está sozinha em reduzir os limites de velocidade em suas vias; trata-se de uma tendência mundial.
A capital da França, Paris, reduziu seu limite de velocidade de 50 km/h para 30 km/h em agosto de 2021. Em janeiro daquele ano, a capital da Bélgica, Bruxelas, já havia limitado a velocidade a 30 km/h nas ruas da cidade.
Na Espanha, por exemplo, o limite de velocidade nas vias de sentido único em vilarejos e cidades é de 20 km/h, 30km/h em vias com uma faixa em cada sentido e 50km/h em vias com duas faixas em cada sentido.
A medida foi tomada em maio de 2021 após números oficiais mostrarem que, pela primeira vez em 2019, a proporção de pedestres, ciclistas e motocilistas mortos nas vias espanholas excedeu os mortos em veículos.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a velocidade máxima permitida deve ser igual ou inferior a 50 km/h em vias urbanas.
Segundo o DataSus, que compila dados do Sistema Único de Saúde, em 2021 morreram 33.813 mil pessoas em acidentes de trânsito no Brasil, um crescimento de 3,5% em relação ao ano anterior.
O ator Kayky Brito foi atropelado na madrugada do último sábado (2/9), na avenida Lúcio Costa, na orla da Barra da Tijuca.
Brito teve politraumatismo e traumatismo craniano. O artista segue internado em estado grave na UTI do Hospital Copa D’Or.
Imagens de vigilância divulgadas posteriormente mostram que o motorista do veículo tentou frear e desviar do ator, mas acabou o atingindo de frente. A polícia constatou que o condutor não havia ingerido bebidas alcoólicas.
Ele alegou à polícia que estava dentro da velocidade permitida no momento do acidente e prestou socorro.
Uma perícia será iniciada para confirmar a versão do motorista.
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