O jornal norte-americano The New York Times publicou na quinta-feira (11) uma reportagem destacando que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e aliados estão "exportando" sua estratégia de ataque aos resultados da eleição e trabalhando para apoiar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que deve concorrer à reeleição no ano que vem.
Intitulada "A conexão Bolsonaro-Trump que ameaça as eleições brasileiras", a reportagem relembrou os ataques feitos por Trump ao processo eleitoral no ano passado, quando perdeu as eleições para Joe Biden, alegando, sem provas, que houve fraude. No dia 6 de janeiro, quando o Congresso certificaria o democrata, manifestantes incitados por Trump invadiram o Capitólio e cinco pessoas acabaram mortas.
"Para o presidente brasileiro, que se encontra cada vez mais isolado no cenário mundial e impopular em casa, o apoio americano é um impulso bem-vindo. O nome Trump é um grito de guerra pela nova direita do Brasil e seus esforços para minar o sistema eleitoral dos EUA parecem ter inspirado e encorajado Bolsonaro e seus apoiadores", diz o jornal.
Bolsonaro fez repetidas ameaças às eleições de 2022. Em julho deste ano, o chefe do Executivo federal afirmou que não haverá disputa eleitoral se não houver "eleições limpas". A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.
Desde a adoção das urnas eletrônicas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude nas eleições. Em agosto, a Câmara dos Deputados rejeitou proposta de interesse do mandatário que pretendia incluir um módulo de voto impresso ao lado das urnas eletrônicas a partir das eleições de 2022.
"Bolsonaro já está colocando na cabeça das pessoas que não aceitará a eleição se perder", disse David Nemer, um professor brasileiro da Universidade da Virgínia que estuda a extrema-direita do país, ao jornal. "No Brasil, isso pode sair do controle."
Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Trump, disse que Bolsonaro só perderá se "as máquinas" roubarem a eleição. As alegações de fraude por parte de Bolsonaro preocuparam funcionários da administração Biden, segundo funcionários de alto escalão ouvidos pelo jornal.
Em agosto, Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, viajou ao Brasil e aconselhou o presidente brasileiro a respeitar o processo democrático.
Recentemente, no entanto, em entrevista à revista Veja, Bolsonaro evitou duvidar da segurança do processo. "Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico", afirmou ele sobre a comissão de transparência das eleições.
A reportagem do New York Times também destaca que o interesse americano pelo Brasil não é apenas político, citando redes sociais conservadoras administradas por aliados de Trump - Gettr e Parler - que estão crescendo rapidamente no país. "Além da tecnologia, muitas outras empresas americanas se beneficiaram com a abertura ao comércio do presidente Bolsonaro, incluindo as de defesa, agricultura, espaço e energia", diz um trecho.
No fim de outubro, Facebook, Instagram e Youtube derrubaram uma live em que Bolsonaro associou falsamente a vacinação contra Covid-19 à Aids.
O jornal lembra ainda que o apoio dos republicanos chega em "um momento crucial" para o presidente Bolsonaro, em razão da pandemia da Covid-19, que matou mais de 600 mil brasileiros, e do aumento do desemprego e da inflação, além das investigações envolvendo sua família e aliados na Justiça.
A reportagem cita também a CPI da Covid, que apontou Bolsonaro como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia em seu relatório final. No mesmo dia em que o relatório foi aprovado, Trump publicou mensagem de apoio ao presidente brasileiro.
Apelidado de Trump da América do Sul, Bolsonaro foi a Washington em março de 2019, pouco depois de tomar posse. Na viagem, estava o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente.
"Ele [Eduardo] então emergiu como o principal elo de ligação do Brasil com a direita americana, visitando os Estados Unidos várias vezes por ano para se reunir com Trump, Jared Kushner [conselheiro e genro de Trump], senadores republicanos e um grupo de analistas de extrema-direita e teóricos da conspiração", diz um trecho da reportagem.
O New York Times lembrou ainda que em setembro aliados mais próximos de Bolsonaro se reuniram na Cpac (Conferência de Ação Política Conservadora, na tradução do inglês), organizada por Eduardo e pela American Conservative Union, grupo de lobby republicando.
Na ocasião, o presidente da rede social Gettr, Jason Miller, que veio dar uma palestra e propagandear sua plataforma online, acabou sendo alvo de interrogatório pela Polícia Federal. A oitiva se deu dentro do inquérito que investiga a organização e o financiamento das manifestações antidemocráticas no Brasil.
A reportagem destaca ainda o discurso inflamado que Bolsonaro fez no dia 7 de setembro. Na ocasião, o presidente ameaçou o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, e declarou abertamente que não respeitaria "qualquer decisão" do ministro Alexandre de Moraes.
Dois dias depois, no entanto, ele recuou e declarou respeito às instituições brasileiras.
O jornal informou ter procurado as famílias Trump e Bolsonaro, além de Bannon, mas não teve retorno.
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