A Coreia do Norte confirmou de forma oficial nesta quinta-feira (12), ainda noite de quarta (11) no Brasil, os primeiros casos de Covid-19 no país desde o começo da pandemia. A mídia estatal KCNA informou que as autoridades detectaram um surto ligado à subvariante BA.2 da ômicron, cepa mais transmissível do coronavírus e responsável por grandes picos da doença em muitos países no começo deste ano.
De acordo com a agência Reuters, a ditadura já fala em um quadro de "grave emergência nacional" e o líder Kim Jong-un determinou medidas de isolamento de parte da população.
Um comunicado publicado no site da KCNA reconheceu "a grave situação [...] em meio ao agravamento da crise global de saúde" ao anunciar as restrições e definir que "o estado atual de trabalho de prevenção deve ser trocado para o sistema de máxima emergência". O país classificou o "buraco na barreira de segurança" de "o maior incidente de emergência do país".
Os textos da agência estatal não especificam, porém, os números de casos detectados — nem se alguma morte já chegou a ser registrada. Sabe-se apenas que as amostras das pessoas infectadas com o vírus foram coletadas no último domingo (8).
O relatório foi divulgado após uma reunião do Partido dos Trabalhadores, chefiada pelo líder norte-coreano, para discutir a pandemia. Kim ordenou que todas as cidades e condados do país "bloqueiem rigorosamente" suas regiões para impedir a propagação do vírus e disse que o governo mobilizaria uma reserva de suprimentos médicos de emergência.
A televisão estatal chinesa informou que a Coreia do Norte exigiu que seu povo ficasse em casa devido a "sintomas de gripe", sem se referir à Covid-19 — a China tem enfrentado um surto em grandes cidades e vê críticas à forma como lida com a questão vindas internamente e até da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Antes disso, um site com sede na Coreia do Sul que monitora as atividades em Pyongyang havia relatado nesta semana que os moradores foram instruídos a voltar para casa e permanecer lá por causa de um "problema nacional", sem maiores detalhes. Segundo Kim, citado pela KCNA, a quarentena imposta agora visa a controlar a disseminação do vírus e curar rapidamente os infectados, de forma a eliminar a fonte de transmissão o mais rapidamente possível.
Um analista ouvido pela agência Reuters aponta que o fato de uma reunião do partido ter sido convocada às pressas e sua deliberação vir a público na sequência indica que a situação pode realmente ser urgente — e inclusive indicar, para o público externo, um pedido indireto de ajuda.
Em junho passado, dois dias depois de ter afirmado à OMS (Organização Mundial da Saúde) que não havia casos de Covid-19 na Coreia do Norte, o ditador demitiu vários membros da elite do Partido dos Trabalhadores devido a um "grave incidente" relacionado ao coronavírus, "o que criou uma grande crise para o segurança do país e de seu povo".
A última vez que a Coreia do Norte falou publicamente em um possível surto da doença foi em julho de 2020, quando um homem cruzou a mais patrulhada fronteira do país, com a Coreia do Sul. A cidade de Kaesong, onde ficam as principais bases de controle da divisa, ficou fechada por 20 dias, mas um eventual surto nunca foi confirmado oficialmente.
Desde o começo da pandemia, a Coreia do Norte, já então considerado o país mais fechado do mundo, isolou-se ainda mais, proibindo todas as viagens internacionais, inclusive para as vizinhas China e Rússia, e restringindo as domésticas. O objetivo era evitar que a entrada do coronavírus agravasse ainda mais a já abalada situação humanitária do país, embora seja quase impossível verificar a afirmação, feita pelo governo, de que os norte-coreanos estivessem livres de contaminação.
A preocupação é agravada porque, como lembrou em reportagem recente o jornal americano The Washington Post, há uma falta generalizada de vacinas no país asiático. Segundo a publicação, a Coreia do Norte ainda não administrou nenhuma dose de imunizante contra a Covid-19 e chegou a recusar ofertas do consórcio Covax Facilty e do governo chinês.
Pelos dados mais recentes disponíveis na OMS, referentes ao final de março, o país de quase 25 milhões de habitantes já tinha realizado 64.207 testes de Covid, com nenhum resultado de infecção e nenhuma morte.
Após a notícia desta quinta, Seul disse estar disposta a fornecer assistência humanitária à Coreia do Norte — o presidente Yoon Suk-yeol assumiu no começo desta semana com acenos a Pyongyang. O país, que também sofreu com uma onda provocada pela ômicron, sempre manifestou dúvidas em relação às estatísticas sobre a doença no Norte.
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