"É triste ter medo. Esse coronavírus veio para acabar com meus projetos." O desabafo é da capixaba Jovana Mazioli Saccani, de 56 anos, que mora em Mântova, na Itália, uma das províncias atingidas pela decisão do governo de colocar em quarentena toda a região da Lombardia, no Norte do país, isolando cerca de 16 milhões de pessoas. O decreto, que vale até 3 de abril, inclui Milão, a região de Veneza, o Norte de Emiglia Romana, o leste de Piemonte.
Natural de Vitória, Jovana contou que um dos planos interrompidos foi a viagem que sua mãe faria para visitá-la, já que a companhia aérea suspendeu temporariamente as passagens para Milão até 16 de abril. "Ela chegaria no início do mês. Já chorei muito, porque estava doida para rever minha mãe", diz ela, que mora com o marido e o filho mais novo em Mântova desde 2017.
A ida de seu filho mais velho, que vive na Austrália, também está ameaçada, já que a chegada do rapaz à Itália está prevista, justamente, para o próximo dia 3. A capixaba já havia programado suas férias com toda a família inclusive para outros países, como Espanha e Portugal:
Ela trabalha em uma cooperativa que fornece almoço para estudantes e se viu em férias forçadas, já que as aulas foram suspensas no dia 27 de fevereiro. "Se as crianças não vão para a escola, a gente não tem como trabalhar."
Para Jovana, a quarentena imposta terá um impacto grande na economia da Itália: "O risco de o país entrar em recessão é alto. Aqui perto de casa, por exemplo, tem um centro comercial e todas as lojas não podem abrir nos fins de semana. Apenas o supermercado funciona e a gente é orientado a manter distância de 1 metro entre as pessoas. Na entrada, eles disponibilizaram álcool em gel e luvas para os clientes", relata.
Aliás, a rotina em toda a cidade mudou. "Não é a mesma coisa. As pessoas estão evitando sair de casa. Mântova é uma cidade histórica, com muitos museus, e percebe menos gente nas ruas, está diferente." Segundo a capixaba, o isolamente é uma das maiores dificuldades: "O direito de ir e vir é essencial, mas sabemos que precisamos seguir as orientações e nos precaver. Eu fico vendo TV direto."
Com 7.375 doentes confirmados, a Itália viu o número de mortes aumentar 50% em um dia, para 366, e se manteve como o segundo país do mundo em número de mortos, atrás da China (80.695 doentes, 3.097 mortes). Esse avanço da doença levou à quarentena obrigatória anunciada neste domingo (8) pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.
Idas e vindas terão que ser autorizadas pelo governo por motivos de saúde ou de trabalho. Devem ser montados pontos de fiscalização em estrada e estações, mas o transporte público continuará funcionando. Segundo a agência italiana de aviação, todos os aeroportos do país continuavam funcionando normalmente neste domingo, inclusive na zona de quarentena. O mesmo ocorria com as viagens de trem.
Museus, casas de espetáculo e outros pontos de aglomeração foram fechados em todo o país, e casamentos, missas e funerais, suspensos. O decreto também estabelece que as pessoas fiquem a pelo menos um metro de distância das outras em mercados, restaurantes ou igrejas.
Neste domingo, o papa rezou o Angelus de dentro do palácio apostólico, e não da janela em que costuma aparecer para o público na praça São Pedro, em Roma.
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