A pandemia do coronavírus chegou à América Latina e ganhou contornos distintos em relação à Ásia, Europa e EUA: no continente, a doença tem ambiente em geral propício para disseminar-se.
Imagens de Guayaquil, no Equador, mostram cadáveres sem ser enterrados por conta da saturação do sistema municipal. A questão é que a cidade não é muito diferente de muitas metrópoles latinas: capital econômica do país, com 2,2 milhões de habitantes, grandes bolsões de pobreza, desigual e com taxa de informalidade econômica de mais de 60%, segundo o governo, o que significa falta de proteção aos trabalhadores.
Estes elementos podem potencializar a letalidade da Covid-19 na região, que tem países com sistemas de saúde com menos estrutura do que os europeus.
Além disso, a dificuldade de implementar quarentenas passa por questões culturais -sociedades litorâneas e quentes, como as caribenhas, não estão acostumadas a estar dentro de casa- e habitacionais -em favelas de Bogotá ou Buenos Aires, é comum que famílias inteiras vivam em ambientes de um ou dois quartos, o que torna a medida de isolamento social um ideal distante.
Na Venezuela, os hospitais sequer tinham os insumos básicos para as emergências, antes da chegada do coronavírus.
Some-se a isso a atuação dos líderes políticos. As duas principais economias e populações da região, Brasil e México, têm governantes que a princípio tomaram uma postura negacionista em relação à pandemia e só agora estão aceitando algumas das medidas adotadas em todo o mundo. O tempo perdido até que se dessem conta do tamanho do problema pode ser crucial na contagem final dos mortos.
Já no Chile, na Argentina e no Peru os governantes foram mais ágeis. Nestes países, se implementaram medidas de quarentena logo depois da aparição dos primeiros casos, o que, ao final, tem aumentado a popularidade de seus líderes.
A maior prova disso é o renascimento de Sebastián Piñera (Chile) -que vinha desacreditado publicamente por conta dos protestos no país-, mas devido à baixa letalidade da doença por lá (0,5%), viu sua popularidade passar de 8% para 15%, segundo o instituto Cadem.
Em sociedades em que a pobreza é alta, como na Bolívia, já há manifestações por conta da fome. Na Argentina, vem ocorrendo saques a mercados nas periferias ao redor de Buenos Aires.
Ainda se espera o pico da pandemia na América Latina. Especialistas falam em fim de abril, começo de maio. Depois do epicentro da epidemia mudar de Wuhan para a Italia, e daí para os EUA, espera-se que ele não encontre nos países latinos o lugar mais propício para se propagar.
Os governos tiveram tempo para se preparar, mas nem todos o usaram bem. O resultado está por ser visto nas próximas semanas.
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