Setenta e três países alertaram que estão em risco de ficar sem medicamentos antirretrovirais (ARV) em razão da pandemia de Covid-19, de acordo com pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) feita antes da conferência bianual da Sociedade Internacional de Aids. Vinte e quatro países relataram estar com baixo estoque de ARVs ou sofrerem com interrupções no fornecimento desses medicamentos que salvam vidas.
A pesquisa se deu após uma previsão, em maio, de que uma interrupção de seis meses no acesso a esses medicamentos poderia levar ao dobro nas mortes por aids na África Subsaariana - apenas em 2020.
Em 2019, aproximadamente 8,3 milhões de pessoas foram beneficiadas pelos antirretrovirais nos 24 países que estão enfrentando a escassez no fornecimento. Isso representa cerca de um terço de todas as pessoas no mundo que estão em tratamento contra o HIV. Apesar de não haver cura, os antirretrovirais podem controlar o vírus.
A incapacidade dos fornecedores de entregarem os antirretrovirais no prazo e a paralisação dos serviços de transportes terrestre e aéreo estão entre as causas das interrupções citadas na pesquisa. O acesso limitado aos serviços de saúde em decorrência da pandemia também é um fator preponderante.
"As descobertas dessa pesquisa são muito preocupantes. Países e seus parceiros precisam fazer tudo que puderem para garantir, a quem precisa, o acesso ao tratamento contra o HIV. Não podemos permitir que a pandemia de Covid-19 desfaça todas as conquistas na resposta global a essa doença", alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
O número anual de novas infecções pelo HIV atingiu 1,7 milhão nos últimos dois anos. Houve, diz a OMS, pequena redução nas mortes relacionadas à doença, de 730 mil em 2018 para 690 mil no ano passado.
Procurado, o Ministério da Saúde do Brasil informou não haver desabastecimento de remédio. "Apesar da ocorrência de diversos desafios logísticos em razão da pandemia", o governo diz ter garantido estoque suficiente para que as pessoas em terapia antirretroviral recebam medicamentos para 60 ou 90 dias de tratamento .
Após a suspensão de programas de vacinação para evitar aglomerações e deslocamentos durante a pandemia, a OMS também tem alertado sobre o risco de disseminação de outras doenças nos próximos meses. Segundo a entidade global, ao menos 68 países interromperam, em algum momento, campanhas de imunização infantil de doenças cuja prevenção é possível, como sarampo, poliomielite e difteria.
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