O Senado dos EUA começa nesta terça-feira (9) o segundo julgamento de Donald Trump, primeiro presidente a ter um processo de impeachment analisado mesmo após deixar o cargo. Na segunda (8), deputados democratas afirmaram que Trump foi responsável pelo "crime constitucional mais grave já cometido por um presidente" ao incitar uma multidão a atacar o Capitólio, no dia 6 de janeiro, quando o Congresso certificava a vitória de Joe Biden.
"As evidências da conduta do presidente Trump são avassaladoras. Ele não tem desculpa ou defesa válida para suas ações. E seus esforços para escapar da responsabilidade são totalmente inúteis", dizem os democratas. "Ele violou seu juramento e traiu o povo americano. Seu incitamento à insurreição contra o governo dos EUA - que interrompeu a transferência pacífica de poder - é o crime constitucional mais grave já cometido por um presidente."
A manifestação foi uma resposta à defesa do republicano, apresentada ontem. Os advogados de Trump alegam que o impeachment de um presidente fora do cargo é inconstitucional e acusam os democratas de montarem um "teatro político". Ainda segundo a defesa de Trump, ele não orientou os extremistas que atacaram o Congresso e não tem culpa por ter falado que seus apoiadores deveriam "lutar como o inferno" contra o resultado da eleição.
Desde a invasão, o entorno do Capitólio está bloqueado por seguranças e os corredores do Senado e da Câmara estão cheios de homens da Guarda Nacional. Tapumes protegem parte das janelas. Em algumas, é possível ver nos vidros quebrados as marcas da invasão.
Se condenado, Trump pode ficar impossibilitado de concorrer novamente. Para isso, pelo menos 17 dos 50 senadores republicanos precisam condenar o ex-presidente. No entanto, não há, até agora, disposição política para condená-lo - um sinal da influência que o ex-presidente ainda mantém sobre a base eleitoral e sobre o seu partido.
"O Senado deve rejeitar sumariamente este ato político descarado", escreveram os advogados de Trump, Bruce Castor Jr., David Schoen e Michael van der Veen, chamando o único artigo de impeachment de "inconstitucional por uma série de razões, qualquer uma das quais sozinha seria motivo para anular o processo.
Juntos, eles demonstram de forma conclusiva que ceder à "fome" dos democratas da Câmara por este "teatro político" é um perigo para os EUA, para a democracia e para os "direitos que consideramos caros", afirmam os advogados do ex-presidente americano.
O julgamento deve acabar só no início da semana que vem, com debates de terça-feira a sexta-feira, interrompidos no sábado a pedido da defesa de Trump, e possivelmente retomados no domingo. A alegação dos deputados que aprovaram o impeachment na Câmara, antes de o presidente encerrar seu mandato, é que Trump cometeu traição "de proporções históricas" ao afirmar que as eleições foram fraudadas e que ele, e não Biden, havia vencido.
Os democratas afirmam que Trump incitou a multidão à ação, no dia 6 de janeiro, quando extremistas invadiram o Congresso e cinco pessoas foram mortas. Segundo os deputados democratas, responsáveis pela acusação na Câmara, a ação do ex-presidente começou antes do discurso que ele fez, no mesmo dia, no qual afirma que seus apoiadores deveriam agir.
De acordo com a acusação dos democratas, Trump "ampliou as mentiras a cada momento, tentando convencer os seus apoiadores de que eles foram vítimas de uma conspiração eleitoral massiva que ameaçava a continuidade da existência do país".
Nem democratas nem republicanos têm interesse em prolongar o julgamento. Para os republicanos, o caso expõe fraturas dentro do partido, já que muitos congressistas da legenda endossaram as acusações de fraude feitas por Trump. Além disso, o impeachment revive o ataque ao Capitólio promovido por extremistas e seguidores de teorias da conspiração que se identificam com o Partido Republicano, uma sombra para a ala moderada.
Já os democratas sabem que o impeachment dificilmente vai adiante e querem liberar a pauta para a agenda política de Biden, que vem trabalhando pela aprovação de um pacote de socorro econômico para combater os efeitos da pandemia de Covid-19.
A Casa Branca tem tentado manter distância da turbulência política. Em coletiva ontem, a porta-voz da presidência, Jen Psaki, afirmou que Biden "não gastará muito tempo assistindo" a sessão de impeachment de Trump.
"Biden concorreu contra ele (Trump) porque achou que ele era impróprio para o cargo e o derrotou. E é por isso que Trump não é mais presidente. Portanto, acho que as opiniões dele sobre o ex-presidente são bastante claras. Mas ele deixará a cargo do Senado este processo de impeachment", afirmou a porta-voz.
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