O abismo entre o número de vacinas administradas em países ricos e pobres "está ficando mais grotesco a cada dia", afirmou nesta segunda-feira (22) o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Países que estão agora vacinando pessoas jovens e menos vulneráveis o estão fazendo à custa de profissionais de saúde e pessoas mais velhas e outros vulneráveis em outros lugares", disse ele.
A entidade tem pedido aos governos que, após vacinarem seus grupos prioritários, compartilhem doses de imunizantes com o consórcio Covax, cujo objetivo é fazer uma distribuição global equitativa para garantir a redução dos casos graves e das mortes em todo o mundo.
"Se não suprimirmos rapidamente esse vírus, ficaremos reféns dele por muito, muito tempo", afirmou Ghebreyesus.
Países como Israel e Emirados Árabes Unidos já vacinaram praticamente toda a sua população adulta, e o Reino Unido começou a imunizar habitantes a partir dos 50 anos de idade, enquanto nações na África e na Ásia ainda não aplicaram nenhuma dose, mostram números recentes.
O Reino Unido, ao lado do Canadá, é também um dos casos em que o número de doses de vacina contratadas supera o necessário para proteger toda a sua população.
Segundo Ghebreyesus, muitos líderes de países avançados fizeram discursos sobre solidariedade no ano passado, mas não adotaram na prática o que disseram. "A distribuição desigual das vacinas não é só um fracasso moral, mas uma derrota econômica e epidemiológica", afirmou o diretor da OMS.
Ele afirma que governos que correm para vacinar toda a sua população estão construindo uma falsa sensação de segurança, porque a transmissão incontrolada no resto do mundo estimula o aparecimento de variantes capazes de driblar os imunizantes.
"Enquanto o vírus continuar circulando, a ameaça sobre a saúde continua e a retomada econômica será mais lenta", disse.
De acordo com Ghebreyesus, a OMS está coordenando o fortalecimento de uma rede de laboratórios de sequenciamento genético para monitorar as mutações em todo o mundo, mas ela será inútil se a transmissão acelerada não for contida: "Se os governos não agirem por generosidade, que ajam ao menos por egoísmo".
A OMS apontou como obstáculo também para a aceleração dos programas de vacinação a baixa capacidade de produção.
O diretor da entidade citou como exemplo a AstraZeneca, único fabricante até agora que se comprometeu em não lucrar com a venda de seus imunizantes e licenciou a produção de vacinas para fabricantes na Coreia do Sul e na Índia -que abastecem o consórcio Covax.
Sobre a AstraZeneca, a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, criticou países que suspenderam sua aplicação apesar de ensaios clínicos terem mostrado sua eficácia e segurança e agências reguladores terem recomendado seu uso. Ela citou a conclusão dos estudos feitos no Chile, no Peru e nos Estados Unidos, que apontaram eficácia de 79%.
Na mesma entrevista, a OMS se disse "muito preocupada" com a situação da pandemia no Brasil.
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