Não houve eleição de rainha do festival de cerveja neste ano em Hassloch (pronuncia-se haslórr), no sudoeste alemão. A rainha e a princesa do ano passado "manterão seus cargos por mais um ano", diz o site que anuncia o evento, promovido todos os anos no quarto final de semana de setembro.
Em 2021, a festa da cerveja coincidiu com a eleição federal, que vai definir o sucessor da premiê Angela Merkel. Mas foi a pandemia, e não o compromisso cívico, que cancelaram o concurso de beleza na maior aldeia da Alemanha, com 20 mil habitantes e 12 mil eleitores .
Os "jardins da cerveja", porém, estiveram abertos para quem mostrasse um certificado de vacinação.
Nas longas mesas cobertas por toalhas de plástico com estampa xadrez, moradores e turistas podiam tomar a bebida produzida no mosteiro de Andechs, na Bavária, e comer pratos clássicos do estado no sul da Alemanha.
A política também estava presente. Entre as oito entidades que organizaram o evento estavam os dois principais partidos do país, a CDU, de Angela Merkel, e o social-democrata SPD.
No sábado pela manhã, a 50 metros da entrada, dividiam a mesma calçada um quiosque dos Verdes e um estande de ativistas da ultradireitista AfD.
Localizada a cerca de 500 km a sudoeste de Berlim, no estado da Renânia-Palatinado, Hassloch está no centro do mapa dos departamentos de marketing de empresas alemãs.
Por causa de sua estrutura populacional em que faixas etárias e classes sociais se aproximam da média alemã, ela foi escolhida como cidade-teste para novos produtos.
Suas lojas recebem as novidades antes e uma rede de televisão a cabo e jornais exibe anúncios feitos especialmente para esses produtos que outras cidades só verão no futuro.
Parte das famílias usa um código de barras em todas as compras, e seus hábitos são rastreados e acompanhados pela GfK (instituto de pesquisa de consumo), que analisa a aceitação dos produtos testados.
Os resultados costumam prever o sucesso futuro com cerca de 90% de precisão, de acordo com a consultoria.
Se representa um público médio para o consumo, o mesmo não se pode dizer da política. Na eleição de 2017, a cidade deu um terço de seus votos para a União, como o total do país, mas a fatia da AfD chegou a 16%.
"Eles cresceram a partir da chegada de refugiados em 2015, com um discurso de que 'os alemães não se sentem mais em casa' ", afirma Annemarie Dewald, 37, filiada aos Verdes.
Hassloch recebeu 211 refugiados na abertura promovida por Merkel em 2015, um número que representa 1,1% da população -a mesma proporção registrada no país como um todo. Hoje, são 152, dos quais 72 ainda aguardam análise do pedido de asilo.
Nos três dias que passou em Hassloch, a Folha de S.Paulo viu apenas duas pessoas não brancas.
"Tenho medo de voltar para casa à noite", diz um dos cartazes de propaganda da AfD afixados em postes da cidade, embora, na noite de sábado, pessoas de todas as idades caminhassem tranquilamente.
"Isso é ridículo, não faz o menor sentido aqui, mas tem impacto com algumas pessoas", diz Annemarie, para quem a sigla xenófoba continua ganhando espaço.
Hassloch também destoou da média alemã na parcela de eleitores que preferiram votar antecipadamente, pelo correio. Por volta de 40% na Alemanha, ela chegava a 50% na aldeia.
No domingo (26), enquanto as seções eleitorais contavam as horas, a 2ª equipe do 1. FC 08, de uniforme branco, enfrentava os vermelhos do TuS Maikammer, sob o olhar atento de 27 torcedores.
Iniciada às 16h15, a partida terminou às 18h, exatamente quando as urnas foram fechadas. Até as 22h, jogadores e torcida ainda encontrariam abertos os jardins da cerveja.
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