Em live promovida pelo Itamaraty para discutir as relações entre o Brasil e os EUA, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ignorou a eleição americana e afirmou que o presidente americano, Donald Trump, tem mostrado "grande deferência" e defendido o governo Bolsonaro e o Brasil.
Em mais de 1 hora e 10 minutos, Eduardo não mencionou nem uma única vez a eleição presidencial americana, em novembro. Ele também não se referiu ao candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, que tem vantagem de dois dígitos nas pesquisas nacionais e em está à frente de Trump na maioria dos estados-pêndulo.
Biden anunciou nesta terça-feira (11) a senadora Kamala Harris como a vice em sua chapa.
Por outro lado, Eduardo não demonstrou estar torcendo por Trump na eleição, como vinha fazendo.
Como mostrou a Folha de S. Paulo, os democratas demonstraram irritação com a torcida ostensiva do presidente Bolsonaro, de seus filhos e de alguns assessores por Trump.
Eduardo rebateu as críticas de que o governo Bolsonaro tenha feito uma guinada na política externa, passando a se alinhar automaticamente aos EUA.
"Na verdade, o que o Ernesto [Araújo, chanceler] deseja é resgatar a política do patrono do Itamaraty, o barão do Rio Branco, que nos aproxima dos EUA, povo muito mais próximo dos brasileiros, deixa o Brasil alinhado à maior potência bélica do mundo, maior potência econômica, em vez de se alinhar a outros países que não comungam dos mesmos valores", disse o deputado.
"Defendemos uma sociedade semelhante à americana: nos EUA, nunca houve regime ditatorial, protege-se a liberdade de expressão, o [direito a portar] as armas de fogo, para garantir que não ocorra o que houve na Venezuela. Este é o resgate que Bolsonaro deseja e foi apoiado por 57 milhões de votos --os que discordam devem esperar até 2022 para que seu candidato tenha maioria considerável como essa."
Estados Unidos, Israel e Japão foram citados por Eduardo como países prioritários para a política externa brasileira, ao lado da Hungria. "Dinheiro não tem cheiro e não vamos fechar as portas, vamos fazer acordos, vender e comprar [com outros países]", afirmou.
Mas, segundo ele, os países prioritários são os que têm maior identificação com o Brasil.
Eduardo lembrou da primeira visita de Bolsonaro a Trump, em março de 2019, quando o americano convidou o deputado para participar de uma reunião no salão oval da Casa Branca e, depois, agradeceu a ele durante uma entrevista coletiva.
"O presidente da maior potência do mundo fazer uma deferência, uma quebra de protocolo na primeira visita, eu não esperava, ficou marcado na minha vida", disse. Segundo ele, Trump voltou a demonstrar sua "deferência" em agosto de 2019, ao receber Ernesto e Eduardo em Washington, mesmo sem a presença de Bolsonaro.
O deputado, que havia sido criticado por não defender de forma enfática os brasileiros que foram deportados dos EUA, afirmou que a maioria dos imigrantes brasileiros não comete crimes, porque não quer ver os Estados Unidos transformados no Brasil.
"A esmagadora maioria faz o certo, até porque eles não querem que os Estados Unidos virem o exemplo de insucesso do Brasil com relação à violência, à corrupção e a vários outros fatores negativos com relação à qualidade de vida", disse.
O deputado também afirmou que Trump impediu que a política ambiental do governo Bolsonaro fosse alvo de notas de repúdio que poderiam levar a boicotes durante o pico das queimadas na Amazônia e das críticas internacionais.
"Dessa reunião das sete maiores potências do mundo [reunião do G7 em agosto de 2019], poderia ter nascido uma nota de repúdio ou algo depreciativo para o Brasil, que poderia dar ensejo a boicotes ou outras reações. No entanto, o presidente Trump fez a defesa do Brasil e não permitiu que saísse uma nota conjunta", disse Eduardo.
Roberto Goidanich, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), braço de conferências e cursos do Itamaraty, que promoveu a live, defendeu-se de questionamentos de parlamentares da oposição.
Deputados criticam o fato de a Funag promover eventos apenas com personalidades de direita, apoiadores do presidente Bolsonaro, e com temas pouco relacionados a política externa, como combate ao comunismo e ao aborto.
"A visão conservadora é predominante na sociedade brasileira, tanto é que o presidente Bolsonaro recebeu mais de 57 milhões de votos. Isso demonstra que nossa sociedade tem valores conservadores que jamais eram abordados", disse. "Já existe na academia, na universidade, predomínio muito grande da visão da esquerda."
Ao final da fala de Eduardo, Goidanich afirmou que havia sido "uma aula brilhante", "realmente espetacular".
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta