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Em Paris, Lula chama de 'ameaça' carta da UE sobre acordo com Mercosul

Em Paris, Lula chama de 'ameaça' carta da UE sobre acordo com Mercosul

Presidente criticou a ausência de menção à desigualdade em encontro com líderes mundiais

Publicado em 23 de junho de 2023 às 12:40

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PARIS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a fazer críticas ao acordo entre Mercosul e União Europeia nesta sexta (23) em sua passagem pela França. "Não é possível que haja uma carta adicional fazendo ameaças a parceiro estratégico", reclamou Lula.

"Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Não é possível a carta adicional que foi feita pela União Europeia. Vamos mandar resposta, mas é preciso que comecemos a discutir", disse o petista.

Presidente Lula falou em Paris, na Cúpula para Novo Pacto Financeiro Global
Presidente Lula falou em Paris, na Cúpula para Novo Pacto Financeiro Global. (Ricardo Stuckert/PR)

Em seguida, o presidente elogiou a União Europeia — cuja criação foi, segundo ele, "um patrimônio democrático para a humanidade depois de duas guerras".

Disse ainda que gostaria de fazer o mesmo na América Latina e que hoje a União Africana é muito mais organizada que os países latinoamericanos.

Lula voltou a defender moedas para o comércio internacional que tornem os países independentes do dólar — "por que preciso do dólar para negociar com a Argentina, com a China?", exemplificou.

Lula avisou que falaria de improviso. "Já mudei meu discurso dez vezes e não vou ler", afirmou.

"Não é possível que, em um encontro com líderes mundiais, a palavra desigualdade não apareceu", afirmou o presidente Lula em encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, e dezenas de chefes de Estado, na cerimônia de encerramento da da Cúpula do Novo Pacto Financeiro, que acontece em Paris.

Presidente Lula falou em Paris, na Cúpula para Novo Pacto Financeiro Global
Presidente Lula falou em Paris, na Cúpula para Novo Pacto Financeiro Global. (Ricardo Stuckert/PR)

O encontro promoveu seis mesas redondas para discutir a reforma de instituições financeiras multilaterais e bancos de desenvolvimento, com o objetivo de alavancar o investimento em infraestrutura básica e ações climáticas nos países em desenvolvimento.

"Junto da questão climática, temos que colocar a desigualdade. Salarial, de raça, de gênero, de saúde", propôs Lula, acrescentando que o mundo aumentou a concentração de riqueza.

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Se não discutir a desigualdade com igual prioridade à questão climática, podemos ter um clima muito bom e o povo morrendo de fome em vários países

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Lula voltou a dizer que é fácil governar para os pobres e afirmou que o governo precisa agora, com a volta da fome, fazer de novo tudo que foi feito em 2003.

"Vamos acabar com a fome. Dilma sabe que podemos. Agora ela pode preparar a caneta para assinar uns empréstimos, para o Brasil e para os países mais pobres", afirmou.

O presidente defendeu reformas no Banco Mundial e no FMI e voltou a criticar o critério do assentos permanentes no conselho de segurança da ONU, que, segundo ele, não representa mais a realidade de 2023, mas a de 1945.

Ao defender que a ONU tenha mais representatividade e força política, Lula afirmou que "sem isso, a questão climática vira uma brincadeira". O presidente citou como exemplo a falta de implementação dos acordos climáticos.

"Vamos ser francos: quem aqui cumpriu [o Protocolo de] Kyoto? [A decisão de] Copenhague, COP21? [O Acordo de] Paris?", questionou, em tom de provocação aos chefes de Estado.

Lula ainda criticou o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), ao que atribuiu o retorno do protecionismo.

Sentado ao lado de Macron no encerramento da cúpula, Lula abordou o acordo comercial negociado entre a União Europeia e o Mercosul.

O presidente reforçou o convite para a COP30 do Clima e também para a Cúpula da Amazônia, que acontece em agosto e deve reunir líderes dos países amazônicos para formular propostas para as grandes florestas, que depois também devem ser integradas em articulações com Indonésia e países africanos.

Lula repetiu dados sobre a conservação da Amazônia, o compromisso de zerar o desmate até 2030 e a predominância da energia renovável na matriz brasileira. Também citou adversidade como o garimpo, o crime organizado e o avanço agrícola sobre a floresta.

"Tem pessoas de má-fé que tentam fazer com que se plante soja e milho na floresta, quando isso não é necessário", disse, citando que há 30 milhões de terras degradadas disponível para recuperação e plantio.

"Empresários responsáveis sabem que isso [o desmatamento] vai criar um problema muito sério aos produtos que queremos vender aos outros países", citou, citando também a importância dos outros quatro biomas brasileiros, para além da Amazônia.

Ao final do discurso, Lula disse que, apesar dos 77 anos de idade, tem a energia de quando tinha 30 anos.

"Macron, se prepare, que estou com mais vontade de brigar nesses próximos três anos como presidente do Brasil", disse o presidente ao final do discurso. Ao falar na sequência de Lula, o francês respondeu que também estava indignado e com a mesma energia que todos ali.

A repórter viajou a convite da Embaixada da França no Brasil.

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