Embora os partidos apontem seus candidatos a primeiro-ministro da Alemanha, e eles façam campanha política, os eleitores alemães não escolhem diretamente seu chefe de governo. Tudo vai depender da eleição para o Bundestag, o equivalente à Câmara dos Deputados na Alemanha. A eleição dos deputados também é diferente da brasileira: cada eleitor marca dois votos na cédula.
Cerca de 60,4 milhões de alemães com mais de 18 anos podem votar, presencialmente, neste domingo (26), ou pelo correio, que já começou a receber as cédulas. A primeira-ministra do país, Angela Merkel, optou pela correspondência neste ano, segundo sua assessoria. Há cerca de 2,8 milhões votando pela primeira vez (4,6% do total).
No primeiro voto, o eleitor escolhe um candidato a deputado para ser seu representante no seu distrito - há 299 distritos eleitorais no país, cada um com cerca de 250 mil eleitores, e os candidatos a representante pelo distrito fazem campanhas voltadas para os problemas e interesses específicos de cada região.
Os partidos também apresentam listas de nomes em cada um dos 16 estados e, no segundo voto da cédula, o eleitor vota no partido com base em seu programa mais amplo. É esse segundo voto que vai definir o número de cadeiras a que cada sigla tem direito no Parlamento.
Entenda abaixo como funciona o pleito que irá eleger o sucessor (ou sucessora) de Angela Merkel e as principais propostas dos três favoritos. Os líderes nas pesquisas são Olaf Scholz (SPD) , Armin Laschet (CDU) e Annalena Baerbock (Verdes).
Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), integra a ala mais centrista do partido de centro-esquerda. Prometeu salário mínimo mais alto e aposentadorias seguras e estáveis. Quer aumentar a "solidariedade" e o "respeito" no país e se apresentou como o sucessor natural de Merkel, de quem é vice-primeiro-ministro, embora de partido rival.
Armin Laschet, da União Democrata Cristã (CDU), apoia as políticas conservadoras do partido de centro-direita. Retratou seu partido como uma âncora de estabilidade e confiabilidade durante tempos incertos e difíceis. Prometeu reduzir a burocracia e defender as liberdades individuais dos cidadãos: "Não vou lhe dizer como você deve pensar ou como você deve viver".
Annalena Baerbock, dos Verdes, faz parte da corrente mais pragmática e menos dogmática do partido ambientalista. Prometeu pôr fim aos "anos de paralisação". Apresentou-se como a candidata da "mudança real" e da transição verde socioecológica, enquanto os outros são "mais do mesmo".
Scholz afirma que a proteção climática só pode ter sucesso se for impulsionada pela inovação e que a indústria deve fazer parte da solução. Defende mais regulamentação e investimento em rede elétrica de alto desempenho e aumento de geração de eletricidade limpa. Defende cortar as emissões de CO2 em 65% até 2030, 88% até 2040 e 100% até 2045 e diz que a eletricidade deve vir de fontes renováveis até 2040.
Laschet também defende cortar as emissões de CO2 em 65% até 2030, 88% até 2040 e 100% até 2045. É contra a proibição dos carros a diesel e a implementação de limites de velocidade nas rodovias, como querem os adversários. Diz que elevará incentivos de mercado para que a indústria acelere a transição verde, com dedução no imposto de investimentos em eficiência energética. Afirmou que vai priorizar o hidrogênio como fonte renovável.
Annalena quer cortar as emissões em 70% até 2030 e usar apenas fontes de energia renováveis até 2035. Quer que as metas do Acordo de Paris sejam incluídas na Constituição e que todas as leis sejam revistas para ficarem compatíveis com as metas ambientais. Defende a eliminação progressiva do carvão até 2030, em vez do atualmente obrigatório 2038, e a proibição da venda de carros movidos a combustíveis poluentes até 2030. Afirmou que os Verdes não querem proibir voos, como dizem seus rivais, mas defendem a expansão da rede ferroviária para que se transforme em alternativa factível à aviação.
Annalena é a única candidata que não se opõe, em princípio, à vacinação obrigatória de certas categorias.
Laschet é o mais liberal e pró-negócios dos três. A proteção à indústria foi carro-chefe de seu governo estadual e, no debate do final de agosto, apresentou-se claramente como candidato das empresas. É a favor da eliminação total da sobretaxa de solidariedade --que financia investimentos na Alemanha Oriental-- e de redução dos impostos sobre empresas.
Scholz priorizou a rede de proteção social: defende salário mínimo de 12 euros por hora, habitação mais acessível e pensões estáveis.
Annalena focou o combate à pobreza, considerando inaceitável que 1 em cada 5 crianças alemãs vivam hoje nessa condição. Defende que haja uma renda de segurança para pais pobres com filhos pequenos.
Scholz é contra o corte de impostos para empresas no atual quadro de endividamento alemão e defende mais equilíbrio na cobrança, aumentando em três pontos percentuais a alíquota sobre rendas maiores: "Quem está na minha faixa de renda [200 mil euros por ano] ou acima deveria pagar um pouco mais".
Laschet manteve seu mantra de que os aumentos de impostos são o "caminho errado" e podem sufocar uma economia que ainda está se recuperando da pandemia. Diz que sua abordagem sobre impostos é a "diferença fundamental" entre ele e os outros candidatos.
Annalena diz que sua prioridade é lutar contra a evasão fiscal e aliviar parte do fardo daqueles que não ganham muito dinheiro. Para tal, propõe aumentar o imposto sobre rendas anuais acima de 100 mil euros.
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Com exceção da ultradireitista AfD, os principais partidos defendem a União Europeia, o euro e a Otan (aliança militar entre Europa e norte-americanos);
Scholz e Laschet defendem o fortalecimento da Europa como ator global, num cenário de retirada do apoio dos EUA.
Laschet disse que deveria ser evitada "uma situação como a de 2015" e adota a posição dos conservadores, de aumentar a deportação de imigrantes irregulares.
Os Verdes defendem a ampliação do programa de refúgio alemão.
Os três candidatos disseram que a retirada dos EUA no Afeganistão mostra a necessidade de fortalecer a política de segurança alemã e o papel do país na segurança europeia.
Laschet pretende criar um novo Conselho de Segurança Nacional, aumentar a penalidade mínima para agressões a trabalhadores de emergência e instalar mil novas câmeras por ano em estações de trem.
Scholz disse que a videovigilância é uma possibilidade que já está sendo usada e que ele defende.
Annalena critica a ênfase em videovigilância e defende equipar mais a polícia e manter abertas as delegacias em zonas rurais.
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