No começo da semana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que o presidente norte-americano, Joe Biden, sabe que a "única alternativa" que o país asiático terá diante das sanções econômicas impostas contra Moscou é uma Terceira Guerra Mundial. O chefe da diplomacia russa afirmou que esse conflito seria nuclear e devastador.
Essa ameaça de uma guerra nuclear deixou o mundo todo preocupado, diante do alto potencial de destruição das armas nucleares, como é o caso das bombas atômicas.
Para especialistas, é baixa a probabilidade de que o conflito na Ucrânia cresça ao ponto de se tornar global e alcance magnitudes de uma Terceira Guerra Mundial, o que deveria estimular o uso de armas nucleares potentes.
De acordo com o professor de Relações Internacionais da Universidade Vila Velha (UVV) e analista de risco político Daniel Carvalho, desde que inventaram os armamentos nucleares a humanidade chegou perto de ter um conflito desse tipo apenas uma única vez, em 1962, na crise dos mísseis, em Cuba.
“A própria ideia de que uma guerra nuclear destruiria o mundo como um todo, inclusive os países beligerantes, fez com que as duas grandes potências da época recuassem”, afirma.
O especialista aponta que essa mesma lógica muito provavelmente é levada em consideração atualmente para evitar uma eventual escalada de tensão entre as maiores potências nucleares da atualidade: Rússia e Estados Unidos. Na década de 1950 esse raciocínio era chamado de mutual assured destruction (MAD), que em português quer dizer destruição mútua assegurada.
Ou seja, uma guerra nuclear de proporções globais poderia sim destruir boa parte do planeta, incluindo os próprios países em guerra, que seriam contra-atacados em proporções iguais ou até maiores.
Daniel Carvalho diz que a fala do chanceler russo é na verdade uma escalada retórica e nada mais do que isso. Uma mensagem que, segundo ele, mostra que a principal preocupação do governo da Rússia é a segurança do seu país.
A Ucrânia é atualmente um "país-associado" à Otan, o que significa que pode se unir à organização no futuro.
Para o governo russo, a inclusão de seus vizinhos na organização é uma tentativa dos americanos e das potências europeias de cercar seu território, o que configura uma ameaça à Rússia. “A Ucrânia é essencial para a segurança russa porque quando eles olham para outros países ao redor, como a Polônia, veem armas americanas apontadas para eles”, pontua o especialista.
QUAL O PODER DE DESTRUIÇÃO DE UMA BOMBA ATÔMICA?
O professor de logística da UVV e militar aposentado Francisco Assis pontua que para falar do poder de destruição de uma bomba atômica é preciso voltar um pouco na história, quando no fim da Segunda Guerra Mundial as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram bombardeadas entre os dias 6 e 9 de agosto de 1945.
Em Hiroshima, a bomba denominada Little Boy, com 72 quilos de urânio 235, foi lançada sobre a cidade, a mais de 10 mil metros de altura. Ela demorou 43 segundos até explodir. Tudo em um raio de dois quilômetros foi destruído pela explosão equivalente a 13 mil toneladas de dinamite. Estima-se que a explosão tenha matado imediatamente de 40 mil a 100 mil pessoas.
Três dias depois, a segunda arma atômica (Fat mand), agora de plutônio e mais potente do que a primeira, foi usada em Nagasaki. Tudo em uma área de 3 quilômetros foi destruído pela explosão equivalente a 21 mil toneladas de dinamite. Matando na hora de 25 mil a 49 mil pessoas.
“Tudo no raio da explosão foi dizimado na hora. Os corpos das pessoas foram desintegrados. Ficaram apenas uma mancha negra, onde ela estava sentada ou escorada na parede”, explica Assis.
Além dos efeitos imediatos e a curto prazo, a detonação acarretou uma grande quantidade de problemas à saúde humana ao longo de gerações, devido ao surgimento de mutações genéticas desenvolvidas pela exposição de adultos, crianças, gestantes e até mesmo fetos à radiação.
Francisco Assis explica que hoje esses efeitos, em função das novas tecnologias, seriam muito maiores. “Para se ter uma ideia, em 1961, a Rússia realizou testes com uma bomba que tinha o poder equivalente a 50 milhões de toneladas de dinamite”, destaca.
Em outubro de 1961, a Rússia (na época ainda como União Soviética) realizou teste em Nova Zembla, uma ilha no oceano Ártico, com a "Bomba-Czar". Ela era 3.300 vezes mais potente que a que atingiu a cidade de Hiroshima.
MAS AFINAL, QUAL É O TAMANHO DO ARSENAL NUCLEAR RUSSO?
Dona do maior arsenal nuclear do mundo, a Rússia tem cerca de 6.255 ogivas, ficando à frente dos Estados Unidos, que ocupa a segunda posição, com 5.550. Os dados são do relatório anual do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI), referentes a janeiro de 2021, com base nos dados disponibilizados pelos países que possuem armamento nuclear.
Estima-se que pelo menos nove países tenham esse tipo de armamento de destruição em massa: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
De acordo com Francisco Assis, com o fim da Guerra Fria vários tratados foram feitos para reduzir a corrida nuclear, o que fez o número de ogivas ao redor do mundo cair nos últimos anos, passando de 70 mil nos anos 1980 para cerca de 14 mil atualmente.
"Os arsenais nucleares hoje são divididas por objetivos, que aquele país que está adotando tem para neutralizar uma área, cidade, metrópole, região, sendo que esse arsenal vai aumentando de acordo com o objetivo", completa.
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