SÃO PAULO - No mais grave incidente entre aeronaves da Rússia e do Ocidente desde o começo da Guerra da Ucrânia, um drone americano caiu no mar Negro após o que os Estados Unidos acusaram ser uma colisão com um caça de Moscou, não muito distante do teatro do conflito.
O drone caiu no mar no começo da manhã desta terça (14), segundo a Força Aérea dos EUA, que acusou a Rússia de conduta antiprofissional e tentativa de interferir com a operação do modelo de vigilância que operava na área, mas não de deliberadamente derrubar o aparelho. Já o Departamento de Estado convocou o embaixador russo para se explicar.
Já o Ministério da Defesa da Rússia disse, em seu canal no Telegram, que dois de seus caças Sukhoi Su-27 interceptaram o drone MQ-9 Reaper após ele ter violado seu espaço aéreo. A pasta negou ter havido uso de armas ou mesmo o contato entre as aeronaves, dizendo que o aparelho caiu devido a uma manobra abrupta.
Segundo o relato americano, interceptaram o Reaper sobre águas internacionais do mar Negro, onde ficam as costas sul da Rússia e da Ucrânia — e a disputada península da Crimeia, anexada em 2014 por Vladimir Putin.
Segundo o porta-voz do Pentágono, general Patrick Ryder, um dos caças voou na frente do drone e despejou combustível em seu caminho, uma forma nunca antes vista de tentar afetar os sistemas do rival. Ao fazer manobras perigosas, diz o militar, atingiu a hélice do Reaper, que fica na parte anterior da aeronave não tripulada.
O dano levou o drone a fazer um pouso na água, mas não foi informado se alguma tentativa de resgate ocorreu. Ryder disse que há imagens em vídeo provando a versão, e que elas estão em processo de liberação, o que não é imediato.
O Reaper é um dos principais drones americanos, com 20 metros de envergadura e 11 de comprimento, sendo capaz de missões de vigilância e ataque a solo. Versão mais poderosa do famoso Predator, é capaz de ficar 14 horas no ar e custa cerca de US$ 30 milhões (R$ 157 milhões).
A Força Aérea disse que o modelo derrubado não estava armado. O assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jack Kirby, tentou reduzir a tensão acerca da intencionalidade dos russos. "Mesmo nas últimas semanas houve outras interceptações, mas esta é notável por ter sido tão insegura e não profissional", afirmou. Ele disse que está em contato e já se queixou com os russos.
O mar Negro é um dos pontos de maior atrito entre Forças Aéreas do mundo, ao lado do Báltico, do estreito de Taiwan, do mar do Sul da China e das águas do Pacífico Ocidental. Em todas elas, russos e chineses se opõem a americanos e seus aliados.
Interceptações são semanais, quando não diárias, e sempre há o risco de uma colisão acidental ser lida como um ato de agressão. Recentemente, os EUA acusaram a China de quase provocar a queda de um avião-espião em uma ação dessas em 2001, um choque derrubou um caça de Pequim e avariou um aparelho de espionagem americano, que teve de pousar em solo rival.
Com o contexto da Guerra da Ucrânia, as interceptações ficaram ainda mais perigosas. As incursões não visam apenas testar a rapidez da reação dos rivais, como é usual, mas o espaço aéreo em locais como o mar Negro de fato está congestionado de aparelhos de reconhecimento e vigilância.
A Rússia considera as águas e o espaço aéreo em torno da Crimeia suas, o que o Ocidente rejeita. Um caça russo inclusive disparou um míssil perto de um avião-espião britânico em outubro, em um incidente que Moscou qualificou de acidente.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta