Em mais um avanço no embargo americano a Cuba, o governo de Joe Biden anunciou nesta sexta-feira (30) um novo pacote de sanções. Desta vez, estão na mira a Polícia Nacional Revolucionária, subordinada ao Ministério do Interior cubano, e dois de seus líderes.
O Departamento do Tesouro dos EUA justificou que a medida é uma resposta à repressão policial empregada durante os atos que tomaram as ruas da ilha caribenha no último dia 11 -considerados os maiores em quase três décadas.
"Agentes da polícia foram fotografados confrontando e prendendo manifestantes em Havana [a capital], incluindo o movimento de mães '11 de julho', grupo fundado para organizar as famílias de presos e desaparecidos", alegou o Tesouro em nota.
Usando argumento semelhante, os EUA já haviam anunciado, na semana passada, outro pacote de sanções contra Cuba. Na ocasião, as medidas foram impostas a um general e a uma unidade de segurança do governo cubano.
Com a nova demonstração nesta sexta, Biden dá sinais de como pretende prosseguir nas relações diplomáticas com Cuba.
O democrata foi vice de Barack Obama, que avançou nos diálogos com o regime comunista da ilha e chegou, inclusive, a atenuar o embargo -ainda que a autoridade que possa dissolvê-lo por completo seja o Congresso. Ao assumir a Casa Branca, Biden herdou, porém, o histórico de Donald Trump, que retomou uma política de retaliações contra a ilha, e, até agora, demonstrou pouco apetite em empregar mudanças.
O anúncio das novas sanções foi feito paralelamente a uma reunião de Biden com membros da comunidade cubana que, no exterior, se opõem ao regime liderado por Miguel Díaz-Canel. De acordo com a agência de notícias Reuters, participaram do encontro o cantor Yotuel Romero, um dos vocalistas do grupo de hip-hop Orishas, e Ana Sofia Palaez, fundadora do Miami Freedom Project, grupo que atua em Miami, onde há forte lobby doméstico de cubano-americanos exilados.
Yotuel também é coautor da canção "Pátria y Vida", que viralizou nas redes sociais no início do ano ao questionar o regime de Cuba e denunciar a situação política e econômica que atravessa a ilha. Ele tem convocado atos da comunidade cubana exilada em Madri (Espanha), onde vive com a família, e nos EUA.
A expectativa é que a reunião faça avançar outra iniciativa do governo americano: o possível aumento do contingente da embaixada dos EUA em Cuba e a revisão da política de envio de remessas de dinheiro para a ilha. O Departamento de Estado americano sinalizou as intenções no último dia 20, mas logo depois vieram os anúncios do aumento das sanções.
Cuba vive sob embargo dos EUA há mais de seis décadas, desde os anos iniciais da Revolução Cubana. O que começou como retaliação política ao regime comunista desdobrou-se em um emaranhado de legislações que dificultam o estabelecimento de relações comerciais da ilha com outros países, em especial os EUA.
O tema voltou à tona após os protestos populares que ocuparam as ruas de diversas províncias cubanas pedindo mais liberdade política e políticas de combate à escassez de alimentos e remédios -situação agravada na ilha durante a pandemia e a consequente paralisação do turismo, motor da economia.
As manifestações foram reprimidas pelo regime, e ativistas denunciam nas redes sociais centenas de prisões. Um homem morreu durante os protestos, segundo confirmaram as autoridades públicas.
O regime cubano imputa ao embargo americano, que asfixiaria a economia nacional, a causa do problema e do descontentamento popular. O mecanismo é criticado por ampla parte da comunidade internacional e por ativistas ao redor do mundo. Ainda assim, especialistas contra-argumentam que há uma série de fatores por trás dos atos -sendo dois dos principais o desejo de mais liberdade e a perda de poder de compra desencadeada por um projeto de reunificação das moedas.
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