O governo dos Estados Unidos reagiu à visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Moscou, na quarta-feira (16), questionando o fato de o líder brasileiro ter expressado "solidariedade" à Rússia.
O presidente esteve com Vladimir Putin em Moscou, em meio à crise envolvendo a Ucrânia, que opõe os russos ao Ocidente. Antes de um almoço e de uma reunião fechada, nas palavras de abertura do encontro Bolsonaro se disse "solidário à Rússia" --sem especificar a que aspecto se manifestava.
"O momento em que o presidente do Brasil expressou solidariedade com a Rússia, justo quando as forças russas estão se preparando para lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ser pior", disse um porta-voz do Departamento de Estado, segundo a agência Reuters, em declaração reservada na quinta (17).
"Isso mina a diplomacia internacional direcionada a evitar um desastre estratégico e humanitário, bem como os próprios apelos do Brasil por uma solução pacífica para a crise."
O órgão responsável pela diplomacia dos EUA também disse que há uma "falsa narrativa" de que o governo Biden teria pedido ao Brasil para escolher entre EUA e Rússia. "Esse não é o caso. Essa é uma questão de o Brasil, como país importante, parecendo ignorar a agressão armada por uma grande potência contra um país vizinho menor, uma postura inconsistente com a ênfase histórica do Brasil na paz e na diplomacia", afirmou o Departamento, de acordo com a Reuters.
Na quarta (16), Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, se limitara a dizer em entrevista coletiva que o governo dos EUA esperava que Bolsonaro tivesse reforçado com Putin a importância de respeitar as regras internacionais, que incluem não usar meios militares para pressionar outros países.
"Como países democráticos, nós [EUA] e o Brasil temos a responsabilidade de nos posicionarmos pelos valores que compartilhamos. E o centro desses valores são os princípios da ordem internacional, baseada em regras. Essa ordem que, por mais de sete décadas, fomentou níveis sem precedentes de prosperidade, segurança e estabilidade na Europa, no [oceano] Pacífico e em nosso hemisfério", disse Price, após pergunta feita pela reportagem da Folha de S.Paulo.
"Assim, nossa esperança é que o presidente Bolsonaro tenha aproveitado a oportunidade de reforçar, no encontro com o presidente Putin, as mensagens que estão consagradas sobre os valores que compartilhamos, que são parte do sistema internacional baseado em regras."
Na própria quarta, Bolsonaro também tentara minimizar a questão do momento de sua visita e repetiu que apenas apoia "governos que querem a paz", dizendo novamente que "todos os países têm problemas".
"Alguns países achavam que não deveríamos vir. Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira", afirmou a jornalistas, horas depois do encontro bilateral. "A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa também que busca a paz."
Questionado sobre se teria enviado alguma mensagem à Ucrânia, Bolsonaro deixou o púlpito improvisado e tentou interromper a entrevista.
Ucrânia e Rússia vivem uma crise há semanas, desencadeada depois de o Kremlin mobilizar de 100 mil a 175 mil soldados em zonas próximas às fronteiras com a Ucrânia. Os EUA e aliados da Otan, a aliança militar ocidental, acusam Putin de preparar uma invasão do país vizinho, como fez em 2014, quando anexou a Crimeia.
Moscou, por sua vez, rejeita a expansão da Otan sobre territórios próximos à Rússia e quer a garantia de que a Ucrânia jamais fará parte do grupo. Putin nega qualquer intenção de promover uma invasão.
Antes da viagem de Bolsonaro, houve pressão dos EUA para que a ida do líder brasileiro a Moscou fosse adiada. Diplomatas americanos expressaram preocupação com o timing da visita, pois a recepção de Bolsonaro por Putin passaria a mensagem de que o Brasil apoia as ações do Kremlin no Leste Europeu, dando legitimidade a algo que os EUA consideram uma violação do direito internacional.
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