A disseminação do novo coronavírus pelos Estados Unidos pode fazer com que o país passe a Europa e vire o novo epicentro da pandemia, alertou a OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta terça-feira (24).
Os casos confirmados nos EUA explodiram em poucos dias. No começo de março, eram menos de cem, na semana passada chegaram a 5.000, e agora são mais de 40 mil registros e 537 mortos.
Segundo a porta-voz da OMS, Margareth Harris, nas últimas 24 horas, 85% dos novos casos diagnosticados no mundo são provenientes dos EUA e da Europa, 40% deles em território americano.
Analistas acreditam que deve haver uma escalada ainda mais vertiginosa à medida que cresce também o número de testes feitos nos estados, após semanas de atrasos de resultados e falta de material para executar os exames em hospitais e laboratórios.
Os primeiros diagnósticos confirmados do coronavírus foram na China, mas o holofote passou para a Europa --com a Itália recordista em casos e mortes-- e agora a bússola parece estar se voltando aos EUA. Oficialmente, a OMS contabilizava 334 mil casos no mundo até segunda-feira, com 14,5 mil mortes.
"Mas devemos nos preparar para um salto importante com bases nos dados que recebemos ao longo da noite [de segunda-feira]", completou Harris.
As autoridades de saúde nos EUA priorizavam realizar o teste em pessoas que apresentassem os principais sintomas (febre e tosse seca) e haviam estado em contato direto com pacientes com diagnóstico positivo para o coronavírus. A morosidade do processo é outro fator que pode atrasar a atualização dos casos confirmados.
A previsão inicial é de cinco a sete dias para receber o resultado nos EUA mas, em Washington, por exemplo, esse prazo pode ser de mais de uma semana ou simplesmente não existir.
Até o fim da semana passada, 170 mil testes haviam sido feito nos EUA, segundo a Casa Branca, enquanto a Coreia do Sul, país com população seis vezes menor que a americana, tinha realizado 300 mil exames no mesmo período.
Com o crescimento exponencial dos casos em território americano, o presidente americano, Donald Trump, que inicialmente havia negligenciado a gravidade da crise, declarou emergência nacional no país, guerra ao que chamou de "inimigo invisível" e recomendou medidas de isolamento que implicaram no fechamento de escolas, bares, restaurantes, comércio e deixaram as ruas das grande cidades americanas praticamente desertas.
Trump aplicou um roteiro de isolamento social rigoroso para o país até 30 de março mas, depois disso, afirmou que vai avaliar o caminho a ser adotado nacionalmente. Desde a madrugada de segunda-feira (23), Trump tem dado indícios de querer flexibilizar medidas de distanciamento social que estão em vigor no país e já afetam 40% da população.
Sem dar detalhes, o presidente disse nesta terça-feira (24) à Fox News que quer ver os EUA reabertos até a Páscoa, ou seja, em menos de 20 dias, apesar de o protocolo de isolamento ser a principal orientação de organizações de saúde para impedir a propagação do vírus enquanto não há vacinas ou tratamentos disponíveis.
"Nosso povo quer retornar ao trabalho", escreveu Trump em seu Twitter em meio ao anúncio da organização. "Eles [americanos] vão praticar o distanciamento social e tudo o mais, e idosos serão monitorados de forma protetora e amorosa. Podemos fazer as duas coisas. A cura não pode ser pior (de longe) do que o problema."
O presidente se preocupa com o impacto que a paralisia econômica pode levar à sua campanha à reeleição, mas especialistas --inclusive de dentro do governo-- dizem que relaxar qualquer medida de isolamento agora pode aumentar significativamente o número de mortos pela pandemia no país.
Ao mesmo tempo, governadores dos estados mais atingidos, como Nova York, Califórnia e Nova Jersey, têm implementado regras mais agressivas para tentar impedir o avanço do vírus. Nenhum deles proibiu completamente as pessoas de saírem de casa, mas o isolamento está em voga em pelo menos 16 dos 50 estados americanos.
Nova York, que concentrava 20 mil casos nesta terça-feira, ou seja, quase metade do total de infectados nos EUA, é um dos que têm lançado mão de medidas mais rigorosas.
Diante dos 157 mortos até aqui, o governador democrata Andrew Cuomo pediu o fechamento de tudo o que não fosse essencial e que as pessoas na rua ficassem no mínimo a dois metros de distância umas das outras.
Além das orientações de isolamento que agora ele mesmo ameaça afrouxar, Trump suspendeu os voos da China, Irã e Europa com destino aos EUA e decretou o fechamento parcial da fronteira americana com o México e o Canadá. Somente o tráfego essencial é permitido e, segundo o presidente, a restrição não vai atrapalhar o comércio entre os países.
O governo ainda enviou ao Congresso um pacote de emergência fiscal que pode chegar a até US$ 1,8 trilhão, incluindo o pagamento direto de dinheiro aos americanos.
Um dos chefes das negociações com os parlamentares, o secretário do Tesouro Steven Mnuchin, diz estar trabalhando para que a economia dos EUA não sinta o impacto tão brusco em meio à pandemia. Ele, que é um dos principais auxiliares do presidente, segue defendendo de 10 a 12 semanas de isolamento.
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