Um em cada dez negros residentes na União Europeia afirma já ter sido parado pela polícia apenas por causa de sua cor, e 2% deles já foram vítimas de violência racista por parte de um policial nos últimos cinco anos, mostra pesquisa da FRA (agência para direitos fundamentais da UE) realizada com 5.803 pessoas, em 12 de 28 países do bloco (o trabalho inclui o Reino Unido, que está em processo de saída).
A violência policial contra negros está na origem de protestos que se espalharam por vários países do mundo, depois que o americano George Floyd foi morto por um agente branco nos EUA.
Na Bélgica, protestos neste domingo pediram justiça pela morte de Adil, 19, de ascendência árabe, morto após perseguição policial em abril. Na França, as manifestações retomaram a morte de Adama Traoré, encontrado morto pelos bombeiros na delegacia de Persan, no subúrbio de Paris, no dia em que completou 24 anos.
"O racismo baseado na cor da pele de uma pessoa continua sendo um flagelo generalizado
em toda a União Europeia", afirma o diretor do órgão, Michael O'Flaherty, que considera os resultados do levantamento, feito em 2018, motivo de "vergonha e raiva".
O trabalho ouviu imigrantes de primeira geração ou europeus com ao menos um dos país nascidos na África sub-saariana, residentes na Alemanha, Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Portugal, Reino Unido e Suécia. Na França e no Reino Unido foram incluídos os que vieram do Caribe.
Os negros que moram na Áustria foram os que mais relataram violência por parte de policiais (5% do total). Também na Áustria há a maior porcentagem de negros parados pela polícia nos cinco anos anteriores à pesquisa (66%), e quase 4 em 10 (37%) consideram que a ação teve como motivo a cor da pele.
A Itália, porém, tem a maior taxa motivação racista vista entre os que foram parados pelos policiais: 60% dos casos, com a Áustria logo atrás (56%). A percepção de racismo vem se intensificando no país: quando o período é limitado a 12 meses antes da pesquisa, são 70% os negros parados por agentes italianos que dizem que a cor da pele motivou a ação.
Os menores índices de negros que dizem ter sido alvo de revista por causa da cor foram os de Malta (onde 5% relataram racismo policial), Irlanda (5%), Portugal (7%), Reino Unido (7%) e Suécia (7%).
Independentemente do motivo, 1 em cada 4 negros já foi parado numa batida. Os dados mostram que homens têm o triplo de chances de serem parados que as mulheres (22% a 7%) e a percepção de motivação racista por parte deles é o quádruplo da registrada entre mulheres (17% a 4%).
Os mais jovens são os mais propensos a identificar racismo na atitude da polícia: metade dos que foram parados dizem que a razão foi a cor da pele. O índice cai para 35% entre os de 45 a 59 anos.
A maioria (60%) dos entrevistados que foram parados pela polícia nos cinco anos anteriores à pesquisa disseram que foram tratados com respeito durante a abordagem mais recente, contra 16% que relatam desrespeito (mas apenas 9% deles fizeram uma reclamação a respeito).
Dinamarca (30%) e Áustria (29%) foram os que tiveram maiores índices de falta de respeito.
No geral, o nível de confiança dos negros na polícia é de 6,3 em uma escala de 0 a 10. Os policiais da Finlândia (8,2) obtiveram a melhor marca. A Áustria, mais uma vez, ficou na última colocação, com 3,6.
De forma geral, quase um terço (30%) dos negros que moram na UE dizem já ter sido alvo de agressão racista (sem violência física) nos últimos cinco anos, e 21% no ano anterior ao do levantamento (20% das mulheres e 23% dos homens).
Só 14% desses casos foram relatados à polícia ou a outros serviços públicos de combate à discriminação --as mulheres reclamaram mais que os homens (16% delas, 12% deles).
Violência racista atingiu 5% dos entrevistados (incluindo agressão por um policial), com as maiores taxas na Finlândia (14%), na Irlanda e na Áustria (ambos com 13%).
As taxas mais baixas foram observadas em Portugal (2%) e no Reino Unido (3%).
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