Jeanine Añez, ex-presidente interina da Bolívia, foi presa na madrugada deste sábado (13), pelas acusações de conspiração, sedição e terrorismo durante os dias que se seguiram à renúncia de Evo Morales, em novembro de 2019. A TV boliviana mostrou Añez chegando ao aeroporto de El Alto, nos arredores de La Paz. Ela estava ao lado de vários policiais e do atual ministro de Governo, Carlos Eduardo del Castillo.
O ministro anunciou a prisão de Añez nas redes sociais e parabenizou a polícia. "Não há perseguição política de nossa parte, e não temos medo de ninguém que pense diferente. O que o governo está fazendo é garantir que a Justiça exista em nosso país", disse Castillo.
Añez, 53, disse que sua prisão é ilegal e que se trata de um ato de perseguição política e que o governo a "acusa de ter participado de um golpe de Estado que nunca ocorreu".
A detenção foi ordenada pela Justiça na sexta (12). Também foram emitidos mandados de prisão para cinco ministros da ex-líder boliviana, incluindo Arturo Murillo, acusado de estar por trás da repressão a militantes do partido MAS (Movimento para o Socialismo) nos protestos realizados à época, e a Williams Kaliman, ex-comandante das Forças Armadas que pressionou Evo a renunciar.
A denúncia foi apresentada por um bloco de deputados e ex-deputados do MAS, legenda de Evo e do atual presidente do país, Luis Arce. No processo, a Justiça responsabiliza a cúpula do governo de Añez de ter causado mais de 30 mortes na repressão aos protestos devido à saída do líder indígena.
As penas para os crimes descritos, caso sejam confirmadas, vão de 5 a 20 anos de prisão. A ordem também atinge os ex-ministros Luis Fernando López (Defesa), Yerko Núñez (Presidência), Álvaro Coimbra (Justiça) e Rodrígo Guzmán (Energia). Coimbra e Guzmán foram detidos. Segundo a Interpol-Bolívia, os outros dois ex-ministros deixaram o país em novembro passado e estão nos Estados Unidos.
Evo, que presidia a Bolívia desde 2006, disputou um quarto mandato em 2019, mas houve acusações de fraude na eleição. Em meio a uma pressão das Forças Armadas e de movimentos populares, cujos protestos deixaram mortos e feridos pelo país, ele renunciou em 10 de novembro de 2019.
Dois dias depois da renúncia, Añez, 52, chegou ao poder em uma controversa manobra legislativa, aproveitando-se de uma brecha na legislação boliviana, uma vez que todos os que estavam na linha de sucessão direta renunciaram na sequência do ex-mandatário.
Sem ter reunido quórum nem na Câmara de Deputados nem no Senado, ela justificou que assumiria a Presidência de acordo com o que estabelece o regimento do Senado sobre sucessão na Casa.
Segundo as regras, ante a renúncia do presidente e do primeiro vice-presidente do Senado, o regimento permitia que ela, segunda vice-presidente, assumisse o comando.
Durante todo o seu mandato de 11 meses, Añez enfrentou uma dura oposição do partido de Evo, que incluiu atos violentos e bloqueios de estradas reprimidos pelo Estado.
Ela também foi criticada pela má gestão da crise sanitária e ainda houve casos de corrupção, como a compra superfaturada de respiradores, caso que levou à prisão do então ministro da Saúde. A um mês das eleições de outubro, ela desistiu de sua candidatura, pedindo "união" contra o partido de Evo.
No último fim de semana, em eleições regionais, o MAS perdeu disputas em locais importantes, como o departamento de Santa Cruz de la Sierra. Ali, foi eleito governador o direitista Luis Fernando Camacho, figura que teve papel determinante para a saída de Evo --a ação, inclusive, também é contra Camacho, embora o promotor responsável pelo caso, Omar Alcides Mejillones, não tenha ordenado sua prisão.
Uma dissidente do MAS, Eva Copa, que liderou o Senado durante a gestão de Añez, ganhou a prefeitura de El Alto, importante reduto do ex-presidente. Já La Paz ficou com Iván Arias, ex-ministro do último governo. No quadro geral, porém, o MAS saiu vitorioso, pois triunfou em 5 dos 9 departamentos do país.
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