Os meus generais," dizia Donald Trump, quando se referia aos militares que alistou para integrar seu gabinete mesmo antes de tomar posse, em janeiro de 2017.
Na quinta-feira (11), o mais importante militar da ativa no país deixou claro que o Exército não vai terceirizar um general para Trump chamar de seu.
O chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark A. Milley, pediu desculpas ao povo americano e às Forças Armadas por ter participado da encenação promovida pelo presidente no dia 1º, quando manifestantes pacíficos protestando contra a morte de George Floyd foram dispersados com bombas de gás para que Trump saísse numa caminhada em direção a uma igreja que não frequenta e onde posou com uma Bíblia.
Milley estava em uniforme de camuflagem, reforçando a imagem de inserção oficial do Exército num artifício de propaganda política presidencial.
O pedido de desculpas de Milley foi um recado cristalino, diz à Folha o historiador e autor Richard Kohn, professor emérito da Universidade da Carolina do Norte.
"Milley lembrou ao país que o militar é o servo neutro do Estado", disse Kohn, "sem recorrer a um ataque pessoal ao presidente" que, nos Estados Unidos, é o comandante-chefe das Forças Armadas.
Um ponto de virada na tensão com o presidente pode ter sido a declaração do general Jim Mattis, condecorado ex-secretário de Defesa de Trump, que renunciou em 2018.
Depois que Trump ameaçou convocar o Exército para reprimir protestos contra o assassinato de Floyd, Mattis condenou o uso de forças armadas para política interna. "Devemos rejeitar a responsabilizar aqueles eleitos que zombam da nossa constituição," disse Mattis.
Em agosto de 1974, pouco antes de Nixon renunciar para não sofrer impeachment pelo escândalo Watergate, seu secretário de Defesa James Schlesinger, preocupado com a instabilidade, disse ao chefe do Estado-Maior Conjunto, George Brown, para conferir primeiro com ele qualquer ordem militar emitida por Nixon. Tecnicamente seria um golpe branco contra a autoridade constitucional do chefe de Estado?
Timothy Naftali dirigiu a Biblioteca Nixon de 2007 a 2011. Falando por telefone com a Folha, ele diz que a iniciativa de Schlesinger foi motivada pela covardia de Nixon, que delegava a subordinados decisões controversas, e Schlesinger temia que um renegado subalterno desse ordens malucas em nome do presidente.
O democrata Joe Biden sugeriu, na quinta, que Trump ia tentar roubar a eleição de novembro. Pergunto a Richard Kohn se, como em 1974, os militares discutem a cadeia de comando sob um presidente tão instável. Com certeza, admite. "Desde o começo deste governo, eles conversam sobre cenários incomuns."
Mas lembra que, ao meio dia de 20 de janeiro de 2020, se o perdedor da eleição estiver na Casa Branca, deve ser escoltado pelo Serviço Secreto a um helicóptero. E não terá qualquer poder constitucional, seja de apertar o botão nuclear ou pedir um hambúrguer.
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