Israel obteve um triunfo tático significativo no ataque contra o Hezbollah com pagers que explodiram na terça-feira (17/9) no Líbano — o tipo de golpe espetacular que você veria em um filme de ação e suspense.
Pelo menos 12 pessoas, incluindo duas crianças, morreram e cerca de 2,8 mil ficaram feridas, depois que pagers usados pelo grupo para se comunicar explodiram quase simultaneamente em todo o país.
Sem dúvida, é uma humilhação para o Hezbollah, que vai aumentar sua insegurança e afetar seu moral.
No entanto, há uma desvantagem estratégica potencialmente grave para Israel, porque embora o ataque possa humilhar a poderosa milícia e movimento político libanês, não detém o grupo.
Além disso, não chega perto do objetivo estratégico de Israel de interromper os ataques do Hezbollah, e permitir que os mais de 60 mil israelenses da fronteira ao norte do país, que estão desalojados há quase um ano, voltem para casa.
Os israelenses usaram uma arma importante e audaciosa, que é claramente muito eficaz nos termos deles.
Mas reportagens do Al Monitor, uma respeitada newsletter do Oriente Médio, dizem que eles não conseguiram usá-la da maneira que esperavam.
O plano original, segundo a newsletter, era que Israel continuasse lançando ataques devastadores, enquanto o Hezbollah ainda estava se recuperando. O ataque com pagers, dizem as reportagens, deveria ser o primeiro passo de uma grande escalada — como parte de uma ofensiva ou talvez uma invasão no sul do Líbano.
Mas estas mesmas reportagens afirmam que o Hezbollah estava ficando desconfiado, forçando Israel a lançar este ataque antes do planejado.
Os israelenses mostraram, portanto, que são capazes de entrar na rede de comunicação do Hezbollah e que podem humilhá-lo — mas este ataque não afasta a região um centímetro sequer da guerra total. Em vez disso, ele a aproxima ainda mais.
Tudo no momento, em termos de redução da escalada da tensão no Oriente Médio, depende de Gaza.
Enquanto esta guerra continuar — seja por meio do conflito com o Líbano, dos ataques dos houthis no Mar Vermelho ou das tensões com o Iraque —, nada vai apaziguar.
O enviado dos EUA ao Líbano, Amos Hochstein, vem trabalhando assiduamente há meses, conversando com os libaneses e, indiretamente, com o Hezbollah e com os israelenses, para tentar encontrar uma maneira de diminuir a escalada diplomaticamente. E, segundo consta, os israelenses não contaram aos EUA sobre o que fariam com este plano até o último momento — então, isso também não vai ajudar em seus esforços.
As previsões americanas de que um cessar-fogo em Gaza está próximo esbarraram novamente em dois obstáculos aparentemente intransponíveis.
Um deles é o líder do Hamas, Yahya Sinwar, que quer Israel fora da Faixa de Gaza permanentemente, além de uma grande libertação de prisioneiros palestinos em troca dos reféns israelenses remanescentes em Gaza.
O outro é o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que insiste na ideia de que Israel pode e vai obter uma vitória total sobre o Hamas.
O consenso em Israel é de que o país se beneficia ao prolongar a guerra, apesar da pressão das famílias dos reféns e de seus apoiadores por um acordo para que eles voltem para casa.
Os aliados ultranacionalistas do primeiro-ministro que fazem parte da sua coalizão também ameaçaram derrubar o governo se ele fizer um acordo.
Israel e seus aliados insistem que levar a guerra a seus inimigos de longa data do Hezbollah libanês é um ato totalmente legítimo de autodefesa.
Mais uma vez, no entanto, há importantes perguntas sem resposta sobre a forma como um ataque israelense feriu e matou civis que estavam presentes.
Imagens de câmeras de segurança mostram um pager explodindo em um mercado lotado, enquanto o dono do dispositivo comprava comida. Há relatos no Líbano de que uma jovem foi morta quando o pager do seu pai explodiu.
O Hezbollah está se recuperando do ataque, mas rapidamente vai se recompor como organização e vai encontrar outra maneira de se comunicar. O Líbano é um país pequeno, e as mensagens podem ser facilmente transmitidas de forma manual.
Sem dúvida, o Hezbollah e seus aliados no Irã, cujo embaixador em Beirute foi ferido no ataque, estão lambendo suas feridas agora.
Mas, mais uma vez, a região foi empurrada para a beira de uma guerra total.
Mais cedo ou mais tarde, se isso continuar, eles vão cair do penhasco.
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