Fernanda Torres — atriz principal do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles — fez história no cinema brasileiro ao ganhar o prêmio de melhor atriz em filme de drama no Globo de Ouro 2025 no domingo (5/1).
Este é apenas o segundo Globo de Ouro conquistado pelo cinema nacional — o primeiro foi Central do Brasil, outro filme também de Walter Salles, que ganhou na categoria de melhor filme em língua estrangeira em 1999.
O Globo de Ouro é uma das premiações mais prestigiadas do cinema americano e internacional. Desde 1944, jornalistas estrangeiros premiam as principais produções nos Estados Unidos.
Com o sucesso de Fernanda Torres no Globo de Ouro, existe a expectativa de que a atriz e o filme possam concorrer ao Oscar — a maior premiação do cinema americano, dada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
As indicações para o prêmio serão anunciadas no dia 17 de janeiro. A cerimônia de premiação acontecerá em 2 de março.
Até hoje o cinema nacional concorreu a melhor filme estrangeiro em apenas quatro ocasiões, com O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), O Que É Isso, Companheiro? (1997) e Central do Brasil (1999).
Ainda Estou Aqui já é um dos poucos filmes do cinema nacional a conquistar pelo menos um importante prêmio internacional.
Confira abaixo a lista dos filmes brasileiros mais premiados no exterior:
O primeiro filme a ganhar um grande prêmio internacional foi O Cangaceiro, escrito e dirigido pelo cineasta Lima Barreto.
Produzido na extinta companhia cinematográfica Vera Cruz, o filme conta a história do cangaceiro Galdino e seu bando — inspirado em Lampião.
Galdino, interpretado por Milton Ribeiro, se declara "governador da caatinga" e espalha terror pelo sertão nordestino. O filme conta ainda com Adoniran Barbosa e o próprio Lima Barreto no elenco.
O filme recebeu o prêmio de Melhor Filme de Aventura (uma categoria que não existe mais) do Festival de Cannes de 1953.
Escrito e dirigido por Anselmo Duarte, O Pagador de Promessas conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962.
Até hoje, é o único filme a ganhar a Palma de Ouro — o prêmio máximo de Cannes.
Baseado em peça do dramaturgo Dias Gomes, o filme conta a história de Zé (interpretado por Leonardo Villar), um homem muito pobre do interior, que vê seu bem mais precioso — um burro — adoecer.
Zé faz uma promessa a Santa Bárbara de carregar uma cruz desde sua cidade no interior da Bahia até a igreja de Santa Bárbara, em Salvador.
No Oscar, o filme de Anselmo Duarte perdeu para Sempre aos Domingos, do cineasta francês Serge Bourguignon.
Convidado para assistir à cerimônia do Oscar, Duarte recusou o convite. Não gostou quando soube que a Academia tinha alterado o título de seu filme para The Given Word ("A Palavra de Compromisso", em livre tradução). "Ganhei convites, passagens de avião, hotel pago e tudo mais", declarou, em 2004. "Recusei tudo."
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro concorreu no Festival de Cannes de 1969 à Palma de Ouro, mas não levou o prêmio. Mas Glauber Rocha venceu o prêmio de melhor diretor, consolidando internacionalmente a reputação do movimento conhecido como Cinema Novo — inspirado no neorrealismo italiano e na nouvelle vague francesa, com grande ênfase na crítica social.
O filme conta a história de Antônio das Mortes (interpretado por Maurício do Valle), um antigo assassino de líderes revolucionários no Brasil que largou a vida do crime. Ao ser contratado novamente, ele acaba se inspirando no seu novo alvo — um jovem líder com ideias revolucionárias.
Fernanda Torres já havia feito história no cinema nacional em 1986, aos 20 anos, quando ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.
Ela venceu por Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor, um filme sobre os problemas de relacionamento de um casal. Seu par romântico é o ator Thales Pan Chacon.
Em uma entrevista ao jornal O Globo na época, Fernanda Torres disse que não imaginava que ganharia o prêmio e que sequer viajou para a França para o festival, pois na época estava gravando a novela Selva de Pedra. Ela diz que ficou sabendo da conquista pelo telefone.
Ao ganhar o Globo de Ouro de 2025, Fernanda Torres lembrou que sua mãe havia estado na mesma cerimônia mais de duas décadas antes.
Fernanda Montenegro concorreu ao Globo de Ouro de melhor atriz por Central do Brasil, também de Walter Salles. Mas perdeu o prêmio para Cate Blanchett, do filme Elizabeth. Também concorriam Susan Sarandon, Meryl Streep e Emily Watson.
Mas na categoria de melhor filme em língua estrangeira, Central do Brasil foi vencedor. A estatueta foi dada pela atriz Annette Bening a Walter Salles, Fernanda Montenegro, o ator Vinicius Oliveira e o produtor Arthur Cohn.
Este havia sido o único Globo de Ouro do cinema nacional até 2025.
No Oscar, Fernanda Montenegro concorreu, mas perdeu a estatueta para Gwyneth Paltrow, de Shakespeare Apaixonado. E Central do Brasil perdeu para A Vida É Bela, de Roberto Benigni.
Cidade de Deus (2001), de Henrique Meirelles, ganhou o prêmio de melhor edição — para Daniel Rezende — nos British Academy Film Awards (Bafta), a principal premiação da indústria cinematográfica britânica.
O filme foi um sucesso de bilheteria e de crítica e até hoje ainda é um dos filmes brasileiros mais conhecidos no exterior. A trama baseada em livro de Paulo Lins conta a violenta história do bairro Cidade de Deus, no Rio de Janeiro nos anos 1970.
No entanto, o filme não ganhou nenhum outro grande prêmio além do de Rezende. No Oscar, Cidade de Deus concorreu a melhor diretor (Henrique Meirelles), melhor edição (Rezende), melhor roteiro adaptado (Braulio Mantovani) e melhor fotografia (Cesar Charlone).
Perdeu em todas as categorias para O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei — com exceção da última, que perdeu para Mestre dos Mares — O Lado Mais Distante do Mundo.
A atriz brasileira Sandra Corveloni recebeu o prêmio de melhor atriz no 61º Festival de Cannes por sua atuação no filme Linha de passe, dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas.
Naquele ano, outras atrizes vinham sendo destacadas pela imprensa como candidatas ao prêmio, como Angelina Jolie e Catherine Deneuve.
Linha de Passe foi o primeiro filme de Sandra Corveloni, então com 43 anos, uma atriz com carreira no teatro.
O filme conta a história de quatro irmãos que vivem na periferia de São Paulo, todos filhos de mãe solteira — o papel interpretado por Corveloni.
Outro sucesso de bilheteria e crítica, Tropa de Elite, de José Padilha, levou o Urso de Ouro de melhor filme — o maior prêmio do festival de Berlim de cinema, um dos maiores do mundo.
O filme estrelado por Wagner Moura fala sobre corrupção policial nas favelas do Rio de Janeiro.
O prêmio foi uma surpresa — até mesmo Padilha havia dito que tinha poucas esperanças de ganhar. O filme foi recebido com pouco entusiasmo no festival, e algumas críticas na imprensa foram bastante duras.
Tropa de Elite não ganhou nem sequer a indicação brasileira ao Oscar, que naquele ano ficou com O ano em que meus pais saíram de férias — que acabou não concorrendo.
Ao receber o prêmio, Padilha se emocionou e agradeceu ao presidente do júri, o diretor grego Costa-Gavras
Em 2019, o filme brasileiro Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em empate com o drama francês Les Misérables.
Foi a primeira vez que o Brasil ganhou o Prêmio do Júri, que é o terceiro mais importante da competição oficial.
O filme conta a história de estranhos acontecimentos em uma cidade fictícia no sertão nordestino após a morte da matriarca Carmelita, com 94 anos.
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