Enquanto o Brasil caminha para se tornar o novo epicentro da pandemia de coronavírus, o governo Bolsonaro trabalha para tentar minimizar notícias negativas, como a proibição pelos EUA da entrada de cidadãos não americanos que tenham estado em território brasileiro nos último 14 dias.
Tido por Bolsonaro como seu principal aliado, Donald Trump assinou no domingo (24) decreto que restringe a entrada de pessoas que estiveram no Brasil. A medida tem caráter sanitário, em uma tentativa de conter a circulação do vírus no país americano, em um momento em que suas cidades começam a reabrir.
Mas a ordem no Palácio do Planalto é não dar espaço para o anúncio feito por Trump.
Os poucos auxiliares do presidente que comentam o assunto tentam tratá-lo com naturalidade, afirmando ser uma medida circunstancial e que já foi adotada em relação a outros países que passaram por períodos críticos de disseminação da Covid-19, como China, Irã e alguns europeus.
Bolsonaro não tratou do assunto em suas publicações nas redes sociais. O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, também ficou em silêncio. Assessores palacianos vêm negando que a medida possa prejudicar o Brasil e afetar as relações comerciais. Eles argumentam que a decisão vai atingir mais especificamente o turismo, setor que está paralisado por causa do cenário de pandemia desde março.
Apesar da tentativa do governo de minimizar a situação, o Brasil tem mais de 23 mil mortes pela Covid-19 e o número de casos ultrapassa os 374 mil. A situação ganhou destaque na imprensa internacional em razão do agravamento do quadro e com fortes críticas à gestão Bolsonaro, que segue gerando aglomerações e minimizando a crise.
Depois de dois ministros da Saúde terem saído do cargo durante a pandemia, o Brasil continua sem um titular.
Na contramão do silêncio do Planalto, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, fez uma sequência de postagens na noite de domingo para minimizar o impacto da medida anunciada pelos americanos. Ele também aproveitou para criticar a imprensa por ter noticiado a decisão da Casa Branca.
"A restrição americana à entrada de brasileiros nos EUA tem o mesmo propósito de medida análoga adotada anteriormente pelo Brasil em relação a cidadãos de todas as origens, inclusive norte-americanos, e de medidas semelhantes tomadas por ampla gama de países no mundo todo", escreveu Martins. Ele ainda negou que a medida tenha caráter discriminatório.
Anunciado no domingo, o decreto foi feito de forma mais ampla do que o cogitado há algumas semanas por Trump, quando se falava em apenas restringir voos com origem no Brasil. O texto inclui estrangeiros que tenham passado por solo brasileiro, ainda que o voo de origem seja outro.
O decreto não se aplica para os que possuem green cards (residência permanente nos EUA), cônjuges, filhos e irmãos de americanos residentes no país e para estrangeiros que viajem a convite do governo americano, além de integrantes de tripulação aérea.
Apesar da reação pública, o governo brasileiro estava em contato diário com autoridades americanas e sabia que a Casa Branca e o Departamento de Estado monitoravam com preocupação a situação da Covid-19 no Brasil.
Houve esforços da chancelaria brasileira nas últimas semanas para tentar evitar que a medida fosse implementada a voos do Brasil, justificando que transporte aéreo estava sendo usado quase que somente para cargas e repatriação de cidadãos.
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