O avanço da guerra entre Ucrânia e Rússia fez deste sábado (5) um dia movimentado na alta diplomacia mundial.
Até agora, representantes dos dois lados se encontraram duas vezes, ambas na fronteira de Belarus. A última, na quinta-feira (3), determinou a abertura de corredores humanitários com cessar-fogo para retirada de civis das zonas de combate - os ucranianos, no entanto, acusam os russos de terem desrespeitado a medida.
Uma terceira rodada de negociação deve acontecer na segunda-feira (7). Até lá, países como EUA, China, Israel, Alemanha e França seguem movimentando suas peças nos bastidores.
O premiê israelense, Naftali Bennett, foi a Moscou e passou três horas no Kremlin conversando com o presidente russo, Vladimir Putin. Segundo um porta-voz, conversaram sobre a guerra, a grande população judaica na Ucrânia e até sobre o acordo nuclear do Irã. Não foram divulgadas mais informações.
Na sequência, Bennett ligou para o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Então, deixou a Rússia rumo à Alemanha, onde encontrou o premiê Olaf Scholz, em Berlim. Antes de iniciar a série de viagens, ele havia conversado ao telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron.
Segundo seu porta-voz, Bennett, judeu, não violou o descanso sagrado do sábado ao viajar a Moscou porque a lei do judaísmo prevê exceções quando o objetivo é preservar a vida humana.
Em que pese ser aliado dos Estados Unidos, ter enviado ajuda humanitária aos ucranianos e condenado a invasão russa, Israel se ofereceu para tentar ajudar no diálogo entre os países em guerra. Durante a viagem, Bennett teve ao seu lado o ministro da Habitação israelense, Zeev Elkin, que é nascido na Ucrânia e já serviu de intérprete em encontros de Putin com Binyamin Netanyahu, ex-premiê de Israel.
Neste sábado, o Ministério da Saúde do país anunciou que vai enviar médicos para montar um hospital temporário de atenção aos refugiados de guerra.
Israel está atento ao apoio militar de Moscou ao ditador Bashar al-Assad na vizinha Síria, onde Israel ataca regularmente alvos militares iranianos.
Quem também viajou com fins diplomáticos neste sábado foi o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Na fronteira entre a Polônia e a Ucrânia, ele se encontrou com o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitro Kuleba.
O americano reiterou seu apoio ao país do Leste Europeu. Kuleba, por sua vez, pediu mais ajuda militar, em especial defesa anti-aérea e aviões.
Apelo semelhante fez o presidente ucraniano, também aos EUA, mas em uma reunião virtual com senadores americanos.
Volodimir Zelenski "fez um pedido desesperado para que países europeus providenciem aviões russos para a Ucrânia", disse Chuck Schumer, líder da maioria do Senado, sobre a conversa.
Não está claro, porém, como o país americano pode ajudar na transferência dessas aeronaves russas, que teriam que vir de nações europeias que já disponham delas.
A China voltou a pedir diálogo aos envolvidos no conflito.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do gigante asiático, o chanceler Wang Yi conversou com Blinken e reiterou que Kiev e Moscou precisam se engajar em um diálogo direto.
Segundo nota do ministério, o chanceler disse ao americano que qualquer resolução da guerra precisa atender os "interesses de segurança das duas partes", mas voltou a ressaltar o "impacto negativo da expansão da Otan em direção ao espaço de segurança da Rússia" --ponto que vai ao encontro com o argumento de Putin.
Do lado do Kremlin, aliás, o presidente russo manteve o discurso de que as operações estão indo conforme o esperado.
Subiu o tom contra as sanções que seu país tem sofrido, dizendo que se trata de uma "tentativa de guerra contra a Rússia" e atacou a ideia de uma zona de exclusão sobre o espaço aéreo ucraniano, o que seria "catastrófico" para a Europa.
Tal zona foi um pedido do presidente ucraniano para a Otan, a aliança militar ocidental. A entidade e os EUA não acataram a medida, com receio de que isso aumentasse as tensões com Moscou.
A demanda de Zelesnki, inclusive, foi criticada pelo chanceler russo Sergei Lavrov. Segundo ele, as declarações em tom irritado do ucraniano não inspiram otimismo sobre o destino das negociações --mais cedo, Kuleba havia se colocado aberto a conversas com Lavrov, mas apenas se tais negociações fossem "significativas".
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta