As sanções econômicas que a Rússia vem sofrendo após invadir a Ucrânia não estão sendo aplicadas apenas por países e organizações internacionais. Diante da escalada bélica dos últimos dias, as retaliações passaram a vir também do setor privado.
Grandes multinacionais ocidentais de diversos setores fecharam operações locais, suspenderam negociações com companhias russas e anunciaram a retirada de investimentos diretos no país.
Empresas como Shell e BP abandonaram negócios bilionários na Rússia, enquanto a Volvo, Apple e gigantes dos transportes, como MSC e Maersk, suspenderam remessas.
O governo de Vladimir Putin, por sua vez, baixou nesta terça (1º) um decreto proibindo os estrangeiros de vender ativos russos, com a intenção de ganhar tempo e dificultar a saída dos investidores. E ainda dá argumentos às empresas, particularmente às de capital aberto, para justificar a permanência na Rússia.
A debandada das companhias adiciona ainda mais pressão ao caldeirão econômico russo que, diante de sanções sem precedentes, viu o rublo cair para mínimos recordes, obrigando o banco central do país a dobrar sua taxa de juros.
A interrupção dos negócios com a Rússia não é necessariamente um posicionamento contra a guerra. Os anúncios vêm de grupos empresariais que buscam equilibrar o impacto em suas reputações, minimizando a exposição às pesadas sanções ocidentais.
Entre as companhias brasileiras com investimentos no território russo, a catarinense WEG, fabricante de motores elétricos listada na B3, a Bolsa de Valores brasileira, é destaque.
Operando no país comandado por Putin através da subsidiária WRU, em setembro passado anunciou investimentos na Sibéria, onde abriu escritório na cidade de Novosibirski.
Também no ano passado, a WRU anunciou a venda de um motor de grande porte, encomendado pela maior mineradora de ouro da Rússia, capaz de operar com temperaturas de até -50º C.
Por fazer parte dos principais rankings de ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês), a WEG está entre as empresas de capital aberto que agora, segundo analistas do mercado, serão pressionadas por investidores e empresas de rating a respeito dos negócios na Rússia.
Procurada, a WEG não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.
Veja a lista de empresas que cortaram negócios com a Rússia:
Shell
A Shell anunciou que encerrará suas operações russas, incluindo sua participação minoritária em uma grande usina de gás natural liquefeito.
Em comunicado, a empresa informou que deixará seu principal negócio de GNL, o Sakhalin 2, do qual detém 27,5%. A operação é controlada pela gigante russa de gás Gazprom, dona de metade do negócio.
Instalada na costa nordeste da Rússia, a usina produz cerca de 11,5 milhões de toneladas de GNL por ano, produto vendido para China e Japão, entre outros mercados.
BP
O grupo de energia britânico pretende alienar sua participação na Rosneft, empresa de energia russa.
A participação de 19,75% na gigante petrolífera russa Rosneft responde por cerca de metade das reservas de petróleo e gás da BP, em um movimento que pode custar à empresa britânica mais de US$ 25 bilhões (R$ 128,5 bilhões). A companhia disse ainda que a notícia não afetará suas metas financeiras.
Equinor
A norueguesa disse na segunda-feira (28) que deseja sair de joint-ventures na Rússia, incluída a parceria estratégica com a Rosneft, abrangendo projetos em toda a Sibéria.
TotalEnergies
A gigante francesa de petróleo anunciou nesta terça (1º) que não investirá em novos projetos na Rússia.
Orsted
A Orsted da Dinamarca parou de fornecer carvão e biomassa russos para suas usinas de energia, mas continuará comprando até dois bilhões de metros cúbicos de gás natural da Gazprom. Também afirmou que não firmará novos contratos com empresas russas ou que ou possuam fornecedores no país.
ExxonMobil
A multinacional de petróleo e gás norte-americana ExxonMobil afirmou nesta terça (1°) que sairá do projeto Sakhalin-1, um dos maiores campos de petróleo e gás operados por estrangeiros na Rússia, e deixará de investir no país.
Volvo
A montadora sueca Volvo Cars informou nesta segunda-feira que suspenderá as remessas de carros para o mercado russo. Foi a primeira montadora internacional a fazer isso. A decisão foi tomada devido a riscos potenciais associados ao comércio de material com a Rússia, incluindo sanções impostas pela UE e pelos EUA.
Volvo Caminhões
A fabricante de caminhões Volvo, que é independente da montadora de automóveis, disse na segunda-feira que interrompeu a produção em sua fábrica na Rússia, assim como as vendas para o mercado russo.
Renault
A Renault anunciou o fechamento temporário de sua fábrica em Moscou, responsável pela produção de modelos como o Renault Captur e seus SUVs Arkana, por problemas na cadeia de suprimentos. A Renault possui a maior montadora do país, a Avtovaz, sendo responsável por cerca de um terço do mercado russo.
Harley-Davidson
A Harley-Davidson suspendeu seus negócios na Rússia, assim como os embarques de suas motos, usadas por Putin em mais de uma ocasião, inclusive na Ucrânia, em 2010.
GM
A General Motors também pretende interromper os embarques de veículos para a Rússia. A fabricante norte-americana exporta cerca de 3.000 veículos por ano, modelos fabricados nos EUA.
BMW
Em entrevista ao Wall Street Journal, um porta-voz da BMW disse que a empresa vai parar com a produção local e exportação para o mercado russo até novo aviso. O executivo também afirmou que a montadora de carros e motos condena a agressão contra a Ucrânia e que cessaria a montagem de veículos com um parceiro em Kaliningrado.
Jaguar Land Rover
A multinacional inglesa disse na última segunda-feira que estava pausando a entrega de veículos no mercado russo por causa dos desafios comerciais impostos pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Daimler Truck
A Daimler Truck, maior fabricante de caminhões do mundo, tomou a decisão de suspender imediatamente todas suas atividades comerciais na Rússia.
A companhia tem um contrato com a Kamaz, fabricante de veículos local, mas que é limitada à fabricação de veículos civis. A Kamaz, que foi estabelecida sob a União Soviética, fabrica separadamente veículos utilitários para as forças armadas da Rússia.
Nokian Tyres
A fabricante de pneus Nokian Tyres está transferindo a produção de algumas de suas principais linhas de produtos da Rússia para Finlândia e Estados Unidos, como forma de se preparar para possíveis sanções adicionais.
A companhia já vinha aumentando sua produção nos países, mas ainda produz aproximadamente 80% de sua capacidade anual de 20 milhões de pneus na Rússia, onde emprega cerca de 1.600 pessoas.
Ford
A Ford, que já teve três fábricas na Rússia, está suspendendo suas operações restantes no país por tempo indeterminado por causa da invasão, segundo o New York Times. A montadora faz parte de uma joint-venture que fabrica pequenas vans de entrega em uma fábrica em Yelabuga, a mais de 600 milhas a leste de Moscou. Também trabalha com um distribuidor que vende seus veículos importados.
Em comunicado, a empresa diz que está profundamente preocupada com a invasão da Ucrânia e com as ameaças resultantes à paz e à estabilidade. "A situação nos obrigou a reavaliar nossas operações na Rússia", afirma.
Maersk
Disse nesta terça-feira (1º) que todo o transporte de contêineres para a Rússia será temporariamente interrompido.
A companhia opera rotas de transporte de contêineres para São Petersburgo e Kaliningrado no Mar Báltico, Novorossiysk no Mar Negro e Vladivostok e Vostochny na costa leste da Rússia.
MSC
Em comunicado publicado nesta terça-feira, a MSC também informou que vai implementar uma paralisação temporária em suas reservas de carga a Rússia, cobrindo todas as áreas de acesso, incluindo Báltico, Mar Negro e Extremo Oriente da Rússia.
"A MSC continuará a aceitar e selecionar reservas para entrega de bens essenciais, como alimentos, equipamentos médicos e bens humanitários", diz a empresa.
ONE (Ocean Network Express)
A Ocean Network Express, uma das principais empresas de transporte de contêineres do mundo, suspendeu suas remessas de e para a Rússia.
Com sede em Cingapura, a companhia afirmou que a aceitação de reservas com destino e saída para São Petersburgo ficará parada até novo aviso.
Hapag Lloyd
No dia 24 de fevereiro, a companhia de transporte marítimo anunciou a suspensão temporária das reservas para Rússia e Ucrânia. Um porta-voz da companhia disse que a decisão foi tomada para garantir o cumprimento de todas as sanções impostas.
AerCap Holdings
A empresa de leasing AerCap Holdings, a maior locadora de aviões do mundo, disse que vai encerrar centenas de arrendamentos de aeronaves com a Rússia por causa de sanções.
A AerCap tem cerca de 5% de sua frota alugada para companhias aéreas russas. No entanto, a forma como os aviões serão recuperados não foi explicada
BOC Aviation
A empresa de aeronaves informou que a maioria de seus leasings para companhias aéreas russas teria que ser rescindida até o dia 28 de março. A BOC Aviation tem 18 aviões com no país, representando 4,5% de sua frota própria com sede na Rússia.
Ups, FedEx e DHL
As companhias de logística United Parcel Service (UPS) e Federal Express (FedEx) suspenderam entregas na Rússia e na Ucrânia.
A UPS disse que a suspensão de todos os serviços de transporte internacional se aplica para chegadas e saídas dos dois países, o que também vale para Belarus. Segundo as companhias, o foco da decisão é a segurança de seus funcionários.
A alemã DHL também suspendeu as operações de e para a Ucrânia.
Boeing
A Boeing, fabricante americana de aviões, anunciou nesta terça a suspensão de suporte técnico, de peças e de manutenção de aeronaves para empresas aéreas russas.
Além disso, a fabricante paralisou suas operações principais em Moscou.
"Enquanto o conflito continua, nossas equipes estão concentradas em garantir a segurança de nossos funcionários na região", disse um porta-voz da Boeing.
Na segunda, a empresa pausou as operações do centro de treinamento da empresa na capital russa e fechou seu escritório em Kiev.
HSBC
O banco britânico HSBC informou que está começando a encerrar relações com uma série de instituições russas, incluindo o segundo maior, VTB, um dos alvos de sanções.
Visa e Mastercard
As empresas de cartões de pagamento americanas bloquearam diversas instituições financeiras russas de sua rede.
As medidas foram tomadas para garantir o cumprimento das sanções aplicadas pelo Ocidente. Os embargos do governo americano exigem, por exemplo, que a Visa suspenda o acesso à sua rede para entidades que integram uma lista de exclusão.
McKinsey
Na última semana, Bob Sternfel, chefe da consultoria internacional McKinsey, disse que a companhia não servirá mais a nenhuma entidade governamental da Rússia, país onde a empresa tem mais de 400 funcionários e parceiros.
Outras consultorias globais vêm considerando medidas. O BCG (Boston Consulting Group) disse estar avaliando minuciosamente seu portfólio de trabalho no país. Já a Bain afirmou que está revendo suas operações na Rússia.
Apple
Nesta terça-feira, a empresa mais valiosa do mundo se juntou a outras multinacionais e suspendeu a venda de seus produtos na Rússia. Na semana passada, a companhia já tinha suspendido todas as exportações no canal de vendas que tem no país.
A Apple também seguiu o Google Maps ao desativar atualizações de tráfego ao vivo em seu aplicativo de mapas na Ucrânia, que alguns temiam que pudesse representar um risco para civis ao destacar áreas lotadas.
Ericson
A companhia sueca de equipamentos de telecomunicações suspendeu as entregas à Rússia para avaliar como as sanções do Ocidente vão impactar seus negócios.
Nokia
A rival finlandesa da Ericson também afirmou que interromperá as remessas ao país para se alinhar aos embargos econômicos impostos a Moscou.
Meta
A Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) informou que restringirá o acesso aos meios de comunicação estatais russos RT e Sputnik em suas plataformas na União Europeia. Na segunda-feira, o acesso aos conteúdos já haviam sido bloqueados pelo Facebook.
YouTube, Twitter e Microsoft
Assim como fez o Facebook, o YouTube disse estar bloqueando os canais estatais russos RT e Sputnik em toda a Europa. De acordo com a empresa, que é operada pelo Google, os sistemas precisam de tempo para serem atualizados, mas a situação está sendo monitorada.
Twitter e Microsoft também limitaram a divulgação de informações dos canais oficiais usados por Moscou.
Disney, Warner e Sony
O setor de entretenimento também se mobilizou para retaliar a Rússia. Na segunda-feira, três organizações (Disney, Warner e Sony) anunciaram que não vão exibir seus próximos lançamentos em cinemas russos até que Putin ponha um fim aos ataques contra a Ucrânia.
Entre os filmes suspensos, estão a releitura de "Batman" com Robert Pattinson, um dos lançamentos mais aguardados do ano
Sandvik
O grupo sueco de engenharia decidiu pausar todas suas operações na Rússia. Na segunda-feira, a Sandvik justificou sua decisão por questões de segurança.
Em 2021, a Rússia respondeu por por 3,5% das vendas da Sandvik. A fabricante de ferramentas de corte de metal e equipamentos de mineração não tem produção no país, mas conta com aproximadamente 900 funcionários nas áreas de vendas e serviços.
Adidas
Na terça-feira, a gigante mundial de equipamentos esportivos anunciou a suspensão de seu patrocínio à Federação Russa de Futebol. A adidas registrou, em 2020, 2,9% de seu faturamento na região da Rússia, Ucrânia e países da extinta União Soviética.
Uefa
A União das Associações Europeias de Futebol rescindiu um patrocínio com a Gazprom, gigante russa do setor energético. O valor do contrato era estimado em 40 milhões de euros (R$ 231,1 milhões).
O patrocínio cobria a Champions League, uma das maiores competições de futebol do mundo, além de campeonatos internacionais organizados pela Uefa e a Eurocopa-2024.
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