Os democratas iniciaram o processo de impeachment do presidente republicano Donald Trump na esperança de que chegariam a um desfecho semelhante ao do pedido de afastamento do ex-presidente republicano Richard Nixon, em 1974.
Pressionado por revelações devastadoras do famoso caso Watergate, sobre operação de espionagem contra os democratas, Nixon acabou renunciando antes mesmo de as acusações de obstrução de justiça e abuso de poder serem julgadas.
No entanto, existe o risco de os democratas acabarem com um resultado bem mais parecido com o do processo do ex-presidente democrata Bill Clinton, em 1998.
Na época, a Câmara, liderada pelos republicanos aprovou o impeachment de Clinton, acusado de perjúrio e obstrução de justiça ao mentir sobre seu caso com a estagiária Monica Lewinsky.
No entanto, na guerra da opinião pública, Clinton conseguiu convencer os eleitores de que era alvo de uma perseguição injusta. O Senado votou contra o afastamento, e o impeachment acabou saindo pela culatra, com republicanos punidos nas urnas nas eleições legislativas e o líder republicano na Câmara, Newt Gingrich, renunciando. Clinton terminou o mandato com aprovação de 70%.
Para grande parte dos observadores, há uma enorme chance de prevalecer a narrativa de Donald Trump -de que o impeachment é um golpe de Estado contra ele e de que os democratas passam os dias tentando arrumar alguma coisa que anule o resultado da eleição de 2016.
Se a história colar, o risco é que parcela do eleitorado se irrite e acabe não votando em democratas (ou não saindo de casa para votar) na eleição presidencial de 2020.
Justamente por isso, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, resistiu tanto a iniciar o processo.
Desde que Trump assumiu, em 2017, integrantes das alas mais à esquerda do partido pediam que fosse iniciado um processo, seja pela interferência da Rússia na eleição e suposta conivência da campanha de Trump, seja por obstrução do Congresso nas investigações do caso, seja pelo uso do cargo para obter benefícios pessoais e receber presentes, no uso dos hotéis Trump por governos estrangeiros.
Pelosi só iniciou o processo quando chegou à conclusão de que era inevitável, que a tentativa de pressionar o governo ucraniano a investigar o democrata Joe Biden era absolutamente inadmissível e clara o suficiente para que os americanos entendessem.
A esperança dos democratas era que as audiências na Câmara seguissem o script do impeachment de Nixon, que renunciou antes de ser afastado, pois as revelações nas audiências levaram a perda de apoio até de republicanos.
No caso de Trump, os democratas sabiam que não conseguiriam nunca os votos necessários no Senado para aprovar o afastamento.
Mas apostavam que haveria revelações tão revoltantes durante as audiências que Trump perderia um número considerável de votos na eleição de 2020. Esse resultado ainda está em aberto.
É fato que os testemunhos corroboram a denúncia do "whistleblower" e a possível obstrução de justiça. Mas, em um impeachment, fatos contam muito menos do que o contexto político.
Não basta provar que se trata de crime passível de impeachment. É preciso ser horrível o suficiente para fazer seus apoiadores mudarem de lado. E, por enquanto, não houve revelação bombástica a ponto de fazer deputados republicanos mudarem de voto, que dizer de senadores ou eleitores.
Após algumas semanas de processo na Câmara, ninguém parece ter mudado de posição, mostra pesquisa do jornal Washington Post de 15 de dezembro -85% dos democratas apoiam o impeachment e 86% dos republicanos são contra. Os independentes, supostamente persuasíveis, estão completamente divididos: 47% querem impeachment e afastamento, 46% são contra.
Com o país mais polarizado do que nunca, é baixa a chance de as pessoas mudarem de ideia.
Portanto, caso a economia continue saudável e com pleno emprego, Trump entra com vantagem para a corrida eleitoral de 2020.
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