A reação do corpo contra o coronavírus Sars-CoV-2, uma atividade combinada de células imunológicas e anticorpos que podem combater a infecção e evitar um retorno da Covid-19, permanecem no organismo por pelo menos oito meses depois do início dos sintomas da doença, indica um estudo publicado nesta quarta-feira (6) na revista científica Science.
No artigo, pesquisadores de diversas instituições dos Estados Unidos descrevem a análise de mais de 250 amostras de sangue de 188 homens e mulheres recuperados da Covid-19. A maioria dos voluntários teve sintomas moderados da doença, e apenas 7% deles precisaram de internação -que indica um quadro mais grave.
Os resultados mostraram que a resposta imunológica contra o coronavírus Sars-CoV-2 ainda estava presente na maioria dos voluntários mesmo após oito meses do início dos sintomas. Alguns tipos de anticorpos foram encontrados em amostras de cerca de 90% dos participantes no período de seis a oito meses após a infecção.
Os anticorpos são proteínas geradas pelo corpo que conseguem combater diretamente os vírus e bactérias causadores de doenças. Alguns tipos de anticorpos neutralizam o patógeno ao se ligar à estrutura usada pelo invasor para infectar as células e, assim, impedem a entrada do vírus.
No estudo, anticorpos voltados especificamente para a estrutura em forma de espinho que reveste o Sars-CoV-2 e facilita sua entrada nas células foi encontrado em amostras de 90% dos voluntários após seis a oito meses da infecção.
Ainda não é possível garantir que essa resposta imunológica protege contra o vírus, uma vez que, até o momento, não se sabe quais elementos do sistema imunológico dão a proteção eficaz contra o Sars-CoV-2, dizem os autores.
"Nossos dados mostram que o sistema imunológico do corpo se lembra do novo coronavírus por pelo menos oito meses após a Covid-19, e diferentes braços imunes colaboram para isso", disse Shane Crotty, virologista no Instituto de Imunologia La Jolla, na Califórnia (EUA) e um dos autores do artigo, em redes sociais.
"Os resultados sugerem que o sistema imune pode se lembrar do vírus por anos, e muitas das pessoas [já infectadas] podem estar protegidas da forma grave da Covid-19 por um tempo significativo. Certamente é uma boa notícia", completou o cientista.
Para a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19, organização de cientistas que coleta, analisa e divulga dados sobre a doença, o artigo mostra que a memória imunológica contra a doença pode permanecer, mas essa resposta ainda precisa ser melhor estudada.
"Estamos construindo o conhecimento sobre a doença e não sabemos quão abrangente é a proteção que uma infecção pode dar", diz a pesquisadora.
"As vacinas parecem fornecer uma proteção mais abrangente e duradoura, por isso é indicado que mesmo quem já teve a Covid-19 tome a vacina", afirma.
O estudo mostra também que a resposta contra a Covid-19 é complexa, segundo Fontes-Dutra. O trabalho é um dos primeiros e mais completos a investigar a dinâmica do sistema imunológico ao responder à infecção.
Enquanto o número de anticorpos permaneceu relativamente estável, a quantidade de células T, que destroem as células infectadas e estimulam a ação de outras moléculas contra o invasor, teve um leve declínio. A quantidade de células B, que dão origem aos anticorpos, foi maior seis meses após a doença do que no primeiro mês de sintomas em alguns casos.
"É uma resposta que varia para cada um desses compartimentos imunológicos e para cada pessoa", diz a biomédica.
O estudo não avaliou a resposta imunológica em assintomáticos. Segundo estimativas, infectados pelo Sars-CoV-2 que não manifestam nenhum sintoma da doença podem corresponder a pelo menos 50% do total de contaminados. A pesquisa também não investigou se pessoas que já tiveram a doença podem transmiti-la caso venham a ter um novo contato com o vírus.
"As pessoas não podem se descuidar na prevenção. Temos as novas variantes do vírus surgindo e não sabemos ainda se a resposta imunológica protege contra essas linhagens, que podem ser foco de novas infecções", afirma Fontes-Dutra.
No Brasil, casos de reinfecção pelo Sars-CoV-2 foram confirmados pelo Ministério da Saúde. No mundo todo, o acontecimento é raro, mas tem alertado os pesquisadores.
Mutações no coronavírus são esperadas em grandes quantidades, mas algumas delas podem mudar as características do patógeno. Em dezembro, o Reino Unido anunciou a existência de uma variante do vírus potencialmente mais transmissível que as anteriores. Mais de uma dezena de países já detectaram a presença da linhagem em seu território.
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