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Incursão da Ucrânia na Rússia põe em xeque discurso de que guerra está saindo como planejado por Moscou

Incursão da Ucrânia na Rússia põe em xeque discurso de que guerra está saindo como planejado por Moscou

Ataque ucraniano a região fronteiriça de Kursk surpreendeu autoridades russas.

Publicado em 8 de agosto de 2024 às 22:15

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Imagem BBC Brasil
Depois de dois anos e meio, guerra na Ucrânia mostra sinais de que está fora do que foi planejado pela Rússia. (Kremlim)

Steve Rosenberg

A invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia foi planejada pelo Kremlin para ser uma operação militar curta e rápida.

A expectativa era que levaria alguns dias, algumas semanas no máximo, para a Rússia estabelecer o controle sobre o país vizinho.

Isso foi há quase dois anos e meio.

A guerra na Ucrânia continua. Não aconteceu como Moscou pretendia.

Mas aqui está a questão. Nos últimos 29 meses, ouvimos muitas vezes altos funcionários russos alegando que a operação está indo "conforme o planejado".

O presidente russo Vladimir Putin disse isso pela última vez em maio de 2024, apesar de tudo o que aconteceu nos dois anos anteriores: as pesadas baixas russas no campo de batalha, a destruição de vários navios de guerra russos no Mar Negro, ataques de drones feitos no interior da Rússia (até mesmo no próprio Kremlin), o bombardeio de cidades e aldeias russas perto da fronteira com a Ucrânia e o motim dos mercenários do Grupo Wagner que marcharam sobre Moscou.

Agora, há um novo elemento na lista: o ataque ucraniano transfronteiriço desta semana na região russa de Kursk.

Primeiro, um aviso: é difícil saber exatamente o que está acontecendo agora no distrito de Sudzha, na região de Kursk. Não está claro quantos soldados ucranianos estão lá, quanto território eles tomaram e qual pode ser seu objetivo final.

A edição de hoje do jornal russo Nezavisimaya Gazeta declarou: "Os eventos na região de Kursk estão envoltos na notória névoa da guerra."

Mas, mesmo na névoa, algumas coisas estão claras.

É evidente que o que está se desenrolando na região de Kursk é mais uma prova de que a guerra da Rússia na Ucrânia não ocorreu "conforme o planejado". Os eventos parecem ter pego a liderança política e militar da Rússia completamente de surpresa.

Não espere que Moscou admita isso.

Mais provavelmente, as autoridades russas usarão o ataque ucraniano para tentar unir o público russo em torno do governo e reforçar a narrativa oficial do Kremlin de que neste conflito a Rússia não é o agressor e que o país é uma fortaleza sitiada cercada por inimigos que estão conspirando para invadir e destruí-la.

Imagem BBC Brasil
Ataque transfronteiriço feito pela Ucrânia preocupa o Kremlin. (Getty Images)

Na realidade, foi a Rússia que lançou uma invasão em grande escala contra seu vizinho.

Há claramente uma grande diferença na linguagem. Quando a Rússia enviou suas tropas através da fronteira para a Ucrânia em fevereiro de 2022, o Kremlin chamou isso de "operação militar especial" e afirmou que a Rússia estava "libertando" cidades e vilas.

Moscou descreveu as tropas ucranianas avançando contra a Rússia como "um ataque terrorista" e "uma provocação".

O ataque das forças ucranianas na região de Kursk e os combates ferozes na região são um sinal de que as hostilidades estão se aproximando de casa. Mas isso vai virar a opinião pública russa contra a guerra?

Não necessariamente.

No ano passado, visitei Belgorod, uma região russa que, como Kursk, faz fronteira com a Ucrânia. O local estava sendo bombardeado do outro lado da fronteira. Todos que conheci me disseram que nada parecido havia acontecido antes da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia: antes de fevereiro de 2022, tudo era paz e tranquilidade na região de Belgorod.

Mas, em vez de concluir que a "operação militar especial" havia sido um erro, a maioria das pessoas com quem conversei pediu que a Rússia intensificasse sua ação militar e avançasse mais profundamente no território ucraniano.

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev está pedindo exatamente isso. Em uma publicação nas redes sociais nesta quinta-feira (8/8), ele escreveu:

"Podemos e devemos pegar mais terras da Ucrânia que ainda existem. (Devemos ir para) Odesa, para Kharkiv, para Dnipro, Mykolaiv. Para Kiev e em diante."

Mas Dmitry Medvedev não dá ordens. Vladimir Putin, sim. Agora, é esperar para ver como ele responde ao que têm sido dias dramáticos no sul da Rússia.

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