O Instagram ocultou do público em geral algumas postagens que mencionam o aborto. A rede passou a exigir a confirmação da idade dos usuários antes de permitir que eles vejam conteúdos que oferecem informações sobre o procedimento.
Nesta segunda-feira, 27, os administradores de várias contas do Instagram que defendem o direito ao aborto encontraram as postagens ocultas e com um aviso da empresa classificando-as como "conteúdo sensível". A plataforma não oferece a opção para usuários contestarem a restrição.
Uma das postagens ocultadas, por exemplo, foi a de uma página com mais de 25 mil seguidores com um texto intitulado "Aborto na América, como você pode ajudar". O post incentiva os seguidores a doarem dinheiro para organizações pró-aborto e protestar contra a decisão da Suprema Corte dos EUA, que derrubou as garantias ao aborto na constituição nacional e delegou a legislação sobre o tema aos Estados.
A postagem recebeu um aviso do Instagram que diz "Esta foto pode conter conteúdo gráfico ou violento".
A empresa foi questionada sobre o procedimento nesta terça-feira, 28. Horas depois, o departamento de comunicação reconheceu no Twitter o problema e disse que se trata de uma falha. A Meta, empresa proprietária do Instagram, disse que não impõe restrições de idade em torno de conteúdos sobre o aborto. "Estamos ouvindo que pessoas ao redor do mundo estão vendo nossas 'telas de sensibilidade' em muitos tipos diferentes de conteúdo quando não deveriam. Estamos analisando esse bug e trabalhando em uma correção agora", tuitou a empresa.
Anteriormente, a rede social, assim como o Facebook - ambas pertencentes à Meta, de Mark Zuckerberg - já estava excluindo postagens que se ofereciam para enviar pílulas abortivas em Estados dos EUA que proíbem o procedimento. As plataformas alegaram que a exclusão violava as políticas contra venda de certos produtos, como produtos farmacêuticos, drogas e armas de fogo.
Uma reportagem da Associated Press revelou, no entanto, que postagens que ofereciam a venda de maconha ou de armas de fogo estavam no ar no Facebook. A empresa não respondeu o por quê da diferença de tratamentos, segundo a AP.
A fotógrafa inglesa Zoe Noble é uma das administradoras com conteúdo referente ao aborto restrito nos últimos dias. A página administrada por ela conta a história há mais de um ano de mulheres que decidiram não ter filhos. Ela não teve problemas até esta segunda, quando um post que falava sobre o procedimento foi restrito. "Fiquei realmente confusa porque nunca aconteceu isso antes, e já falamos sobre aborto antes", declarou à Associated Press.
Segundo a AP, quase uma dúzia de outras postagens que mencionavam a palavra "aborto" foram ocultadas pela rede social. Todas postagens eram de natureza informativa e nenhuma apresentava fotos de abortos ou conteúdo semelhante. Até mesmo uma postagem de um repórter da agência de notícias que perguntou às pessoas se elas estavam enfrentando o problema foi ocultada nesta terça-feira, exigindo que os usuários informassem a idade antes de visualizá-la.
Segundo Brooke Erin Duffy, professora da Cornell University, que estuda redes sociais, a empresa pode ocultar algumas tomadas de decisão, incluindo sobre os algoritmos, para manipular os conteúdos das redes sociais de uma maneira que promova ou rebaixe postagens ou palavas-chave. "Isso tudo pode acontecer nos bastidores e pode ser atribuído a uma falha", disse Duffy. "Não sabemos o que aconteceu. Isso é o que é temeroso sobre isso."
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