SÃO PAULO - Israel ampliou sua ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza, executando o maior bombardeio em 24 dias de guerra contra o grupo terrorista palestino que comanda o território desde 2007. Tanques e blindados de Tel Aviv já operam na periferia da capital homônima da região, em combate com forças rivais.
Segundo o porta-voz militar Daniel Hagari, caças israelenses atingiram 600 alvos de domingo (29) a esta segunda (30). Ele afirmou que "dezenas" de terroristas foram mortos, citando ao menos 20 integrantes do Hamas atingidos por artilharia, e divulgou vídeos em que tanques Merkava são vistos em ação ao lado de grandes escavadeiras.
A operação terrestre, cujo começo foi objeto de debate entre Israel e seu maior aliado, os EUA, que temiam pela segurança dos 239 reféns confirmados por Tel Aviv nas mãos do Hamas e pela repercussão política da morte de civis em Gaza, ganhou tração na sexta (27).
O grupo terrorista atacou Israel no dia 7 passado, matando cerca de 1.300 pessoas, brutalizando e sequestrando civis. O Hamas diz que 8.300 palestinos morreram na retaliação até aqui, número que é contestado por Israel nesta segunda, sites do país destacavam um suposto corpo de vítima de bombardeio cuja cabeça se mexia, insinuando fraude para as câmeras.
Ao que tudo indica, Israel adotou o gradualismo na intensidade da arriscada ação por terra, em vez de lançar um ataque avassaladora. Hagari disse que a ação "está progredindo gradualmente de acordo com nossos planos operacionais" e irá "se intensificar de acordo com as fases da guerra".
Ele afirmou que a questão dos reféns pesa nessa dosimetria, o que não impede relatos de brutalidade na ação. Em um vídeo feito por um morador de Gaza, um Merkava manobra numa rua e atira em um carro que ia em sua direção e deu meia-volta. Não houve comentários sobre o episódio ainda em Tel Aviv.
Enquanto a ação se desenrola em Gaza, a ajuda humanitária a seus 2,3 milhões de moradores segue claudicante, entrando aos poucos pela fronteira egípcia em Rafah. Lá, onde estão 18 dos 34 brasileiros e palestinos assistidos pelo Itamaraty, os bombardeios seguem constantes. "A noite foi terrível, não conseguimos dormir", afirmou a estudante Shahed al-Banna, 18.
O grupo tem usado lenha para cozinhar, mas a comunicação ao menos foi retomada parcialmente, após o corte na internet local por ataques de Israel.
A situação é mais grave, contudo, na zona de exclusão na parte norte da faixa, a partir da capital homônima. Ali, a ONU estima que 117 mil pessoas estão refugiadas junto a pacientes e médicos de hospitais ainda em funcionamento.
As forças israelenses também mantêm prontidão na fronteira norte do país, onde voltaram a se digladiar em escaramuças com o Hezbollah, grupo libanês aliado do Hamas que, de todo modo, não entrou de forma integral no conflito. No domingo, caças de Israel bombardearam posições do grupo no sul do Líbano e pontos de lançamento de foguetes na Síria.
Com isso, segue acesa a chama do temor de um espraiamento do conflito, até aqui mantido sob relativo controle pela enorme pressão militar americana e pelo fato de que o grande rival estratégico dos EUA e de Israel, o Irã que banca o Hamas e o Hezbollah, também se mantém ativo apenas por meio de prepostos.
Contribui para isso o poder de fogo descomunal que os EUA direcionaram para a região. O segundo grupo de porta-aviões de propulsão nuclear, liderado pelo USS Dwight Eisenhower, deve chegar até quarta (1º) ao canal de Suez, e de lá irá para as águas em torno da península Arábica.
O grupo do USS Gerald Ford, maior navio de guerra do mundo, já está no Mediterrâneo desde o início da crise, e será acompanhado agora por um grande navio de desembarque anfíbio. Ao todo, estarão perto da costa israelense quase 20 mil marinheiros, aviadores e fuzileiros navais embarcados.
Eles miram evitar a escalada regional, ainda que a presença de tantas embarcações gere a tentação de uma ação espetacular por parte dos rivais dos EUA. Mas isso só poderia ocorrer de forma indireta, dado que o Irã não tem nada a ganhar com uma guerra ampliada.
Os impactos da tensão se intensificam em Israel. Houve uma grande ação das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa) e do Shin Bet (serviço de espionagem) em um campo de refugiados em Jenin, na Cisjordânia, com diversos mortos. E a violência se espalha pelo cotidiano.
Nesta segunda, um soldado israelense foi preso por matar um palestino que colhia azeitonas em Nablus, também na Cisjordânia, que é o território administrado pela Autoridade Nacional Palestina, rival do Hamas que perde crescentemente influência na guerra. O militar disse que temia ser atacado. Já em Jerusalém, um policial foi gravemente ferido ao ser esfaqueado na rua por um árabe-israelense, que foi baleado.
Fora do país, a crise reverbera em protestos na Europa e nos EUA, assim como no bizarro incidente em que um aeroporto no sul da Rússia foi invadido por uma turba muçulmana buscando passageiros judeus de um voo vindo de Tel Aviv.
O episódio, ocorrido domingo na capital do Daguestão, Makhatchkala, foi descrito nesta segunda pelo Kremlin como resultado de provocação e "influência externa", que depois a chancelaria russa disse sem provas ter sido obra da Ucrânia, país invadido por Moscou em 2022. A região do norte do Cáucaso é predominantemente muçulmana, e a Rússia decidiu desviar os poucos voos que a ligavam a Tel Aviv para outros aeroportos.
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