Famoso por circular nas redes sociais como possível droga contra o novo coronavírus mesmo sem evidências científicas que sustentem a afirmação, o vermífugo ivermectina está entre as cinco combinações de fármacos mais testados no mundo em pacientes acometidos por Covid-19. Tem sido ignorado, no entanto, por países que lideram as buscas de drogas na pandemia, como Alemanha e China.
Há, hoje, 32 registros de testes com a ivermectina em humanos para a doença causada pelo novo coronavírus. A maior quantidade deles está no Egito, onde há nove pesquisas em andamento. Uma delas testa a ivermectina para prevenção à infecção do vírus há uma pesquisa similar em Singapura. Todos os demais experimentos no mundo testam o vermífugo para o tratamento de doentes com a Covid-19.
Brasil, Argentina e México aparecem depois do Egito na lista de quem mais investe na ivermectina para Covid-19. Há três estudos com pacientes em andamento em cada um desses países.
A maior quantidade de testes de drogas em humanos para Covid-19, no entanto, segue com a associação dos antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina, que somam 208 pesquisas com pacientes registradas no mundo todo. Em seguida, figuram o antibiótico azitromicina (com 66 pesquisas com humanos para Covid-19), os antirretrovirais usados na infecção do HIV lopinavir/ritonavir (42) e o tocilizumabe, que é indicado para artrite (36).
Os dados são da base internacional Clinical Trials, que compila informações sobre testes de medicamentos em pacientes no mundo todo, como local da pesquisa, quantas pessoas são estudadas, duração do experimento e metodologia aplicada (por exemplo, um grupo recebe a droga e, outro, um placebo sem medicação).
Das 32 pesquisas registradas internacionalmente para ivermectina em pacientes, duas, no Iraque e em Bangladesh, já foram concluídas. Os resultados desses trabalhos, no entanto, ainda não foram publicados.
Até agora, a ivermectina só deu certo para Covid-19 em células, que, diferentemente das pessoas, sobrevivem a bombardeios de remédios. Uma pesquisa da Universidade Monash, na Austrália, publicada em abril, reduziu a quase zero o material viral do novo coronavírus em testes em cultura celular de laboratório com ivermectina. Os próprios cientistas australianos, no entanto, ressaltam no trabalho que a droga é segura para humanos em doses baixas, que não seriam suficientes para combater o novo coronavírus.
Os EUA também estão estudando ivermectina em pessoas, mas com poucas apostas: há, naquele país, apenas duas pesquisas com o vermífugo em andamento. Isso representa menos de 1% das investidas com drogas para Covid-19 nos EUA, que já registram mais de 250 experimentos de drogas com pacientes. Na lista de quem também tem estudado o vermífugo para a doença causada pelo novo coronavírus figuram países como Arábia Saudita, Índia e Paquistão.
Países como China e Alemanha, que têm se destacado nos testes de fármacos que já disponíveis para outras doenças para o tratamento de Covid-19, ainda não entraram na onda da ivermectina. Há 119 pesquisas com outras drogas em pacientes de Covid-19 na China; nas instituições alemãs, os experimentos com fármacos em pessoas somam 78 trabalhos.
Testar drogas disponíveis no mercado para novas doenças é prática comum na ciência. Isso porque desenvolver uma droga nova para cada enfermidade que aparece levaria muito mais tempo do que tentar usar um fármaco já conhecido. Mesmo assim, são necessárias muitas etapas de investigação: drogas seguras para uma doença podem agravar outras.
Esse é o caso do famoso analgésico aspirina, que, se usado em pacientes com dengue, pode levar a hemorragias graves. A aspirina tem efeito anticoagulante, que pode desencadear sangramentos internos em paciente acometidos pelo vírus da dengue.
No Brasil, as três pesquisas com ivermectina com pacientes de Covid-19 foram registradas na Clinical Trials entre final de junho e início de julho, após o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado que o vermífugo ivermectina é melhor que a cloroquina para Covid-19 "porque mata os vermes todos".
Os trabalhos estão em andamento na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) com 64 pacientes, na clínica de obesidade de Brasília Corpometria Institute com 254 pacientes e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo com 176 pacientes. De acordo com as informações da Clinical Trials, as três pesquisas brasileiras terminam a partir de janeiro do ano que vem.
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