Jornalistas argentinos tiveram de sair de La Paz, na Bolívia, após receberem ameaças da polícia e de seguidores do líder opositor Luis Fernando Camacho.
Em uma transmissão ao vivo, Mariano García, da emissora Telefé, perguntou a Camacho, em frente ao Palácio Quemado, por que o líder dizia que Santa Cruz estava em paz quando no dia anterior ele mesmo havia presenciado muita violência aí.
Camacho o chamou de radical e o acusou de estar mentindo.
A partir de então, seguidores de Camacho começaram a ameaçá-lo, inclusive postando "fake news" sobre ele.
"Usaram uma foto de umas férias minhas em Cuba para dizer que eu era comunista. Depois, uma imagem em que aparecíamos de pé filmando manifestantes que estavam no chão. Diziam que eu tinha montado a cena, quando, no fundo, os manifestantes estavam no chão para poder respirar, porque de pé seriam contaminados pelo gás lacrimogêneo", contou, em depoimento à reportagem.
García diz não entender o nível de agressividade, uma vez que apenas reportou o que via. "Jamais fiz um juízo de valor, não disse que era golpe nem nada". E acrescenta: "Eu dizia para eles que perseguir a jornalistas desse modo era parecido com a postura que era realizada pelo governo anterior, que eles tanto queriam que saísse de cena".
Um relatório divulgado no sábado (16) pela CIDH subiu para 23 o total de mortos após quase um mês de manifestações da Bolívia. Segundo a entidade, nove pessoas morreram após confronto entre apoiadores do ex-presidente Evo Morales e as forças policiais e militares na sexta-feira (15), em Cochabamba.
Outra jornalista argentina, Teresa Bo, da emissora Al Jazeera, recebeu um jorro de gás lacrimogêneo nos olhos enquanto fazia uma transmissão ao vivo. Ela afirmou que não queria ser a notícia, "mas que esse tipo de imagem tem de ser divulgada". O vídeo viralizou nas redes sociais.
Outros meios argentinos também foram vítimas de ameaças pelos militantes anti-Evo Morales, como os profissionais dos canais América, canal 9, Crónica e Todo Notícias (emissora de notícias do Clarín).
Mariano García disse que "a gota d'água" foi quando lhe avisaram que seu nome estava em uma lista de jornalistas que o novo ministério da comunicação, comandado por Roxana Lizárraga, fazia circular como meios "sediciosos", a serem vigiados e limitados.
Os jornalistas, então, decidiram sair do país. Primeiro, foram à embaixada argentina e, de lá, foram escoltados até o aeroporto de El Alto. Na saída da embaixada e no aeroporto, ouviram: "Voltem para seu país, seus mentirosos".
A chancelaria argentina lançou um comunicado, pedindo que "as autoridades no poder na Bolívia velem pela segurança e pela integridade física dos meios argentinos presentes na cobertura dos eventos".
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