> >
Lula cobra de Maduro dados de votação: 'Como resolve essa briga? Apresenta a ata'

Lula cobra de Maduro dados de votação: 'Como resolve essa briga? Apresenta a ata'

Presidente indicou nesta terça-feira (30) que só reconhecerá resultado na Venezuela após apresentação dos dados; governo venezuelano alega que houve um ataque de hackers ao sistema, o que impediu divulgação das atas

Publicado em 30 de julho de 2024 às 21:15

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Imagem BBC Brasil
Lula falou pela primeira vez nesta terça-feira (30) sobre o impasse na eleição presidencial na Venezuela. ( EPA-EFE/REX/Shutterstock)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou pela primeira vez nesta terça-feira (30) sobre o impasse na eleição presidencial na Venezuela, realizada no domingo.

O resultado oficial, apresentado pelo Comitê Nacional Eleitoral (CNE), aponta o atual presidente, Nicolás Maduro, como vencedor, com 51,2% dos votos.

Mas a oposição e autoridades estrangeiras dizem ter havido fraude e que o vencedor foi o oposicionista Edmundo Gonzalez.

"É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata", disse Lula em entrevista exclusiva à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso.

"Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo", prosseguiu Lula, segundo o portal G1, que publicou trechos da entrevista na tarde desta terça-feira.

A oposição venezuelana, porém, diz que o Poder Judiciário é dominado por Maduro. Também contesta a noção de que haja uma normalidade no processo político do país, apontando que, ao longo dos anos, o chavismo passou a controlar órgãos como a Suprema Corte e o Conselho Eleitoral.

Nas eleições venezuelanas, as atas são boletins que registram os votos em cada urna. Elas ainda não foram apresentadas pelas autoridades do país. O governo da Venezuela diz que houve um ataque de hackers ao sistema, o que impediu a divulgação dos dados.

Lula indicou que só reconhecerá o resultado eleitoral após a apresentação das atas.

"Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela", disse o presidente.

Posição do Itamaraty

A fala de Lula vai na mesma linha de nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores na segunda-feira.

No documento, o Itamaraty saudou "o caráter pacífico da jornada eleitoral na Venezuela", disse acompanhar "com atenção o processo de apuração", mas ressaltou a importância da transparência na divulgação dos dados.

"[O governo brasileiro] Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados", diz a nota do Itamaraty.

A nota diz ainda que o governo brasileiro aguarda "a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".

Imagem BBC Brasil
Lula começou seu terceiro mandato buscando reintegrar Maduro aos debates na América Latina. (Reuters)

Nota do PT

Divergindo da cautela adotada pelo Itamaraty, a Executiva Nacional do PT publicou na noite da segunda-feira uma nota reconhecendo a vitória de Maduro, ao tratá-lo com "presidente agora reeleito".

Imagem BBC Brasil
Nota da Executiva Nacional do PT sobre eleições na Venezuela. (Reprodução)

A nota teria causado desconforto no Planalto, segundo informações de bastidores publicadas pela imprensa nesta terça-feira.

Na entrevista à afiliada da Globo, Lula buscou minimizar as críticas sofridas pelo partido pela publicação da nota da Executiva Nacional.

"O PT reconheceu, a nota do Partido dos Trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houve. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não", disse Lula,

"Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e Justiça faz."

Conversa com Biden e nota conjunta com Colômbia e México

Nesta terça-feira, Lula também conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre o impasse eleitoral na Venezuela.

A conversa foi marcada a pedido do governo americano.

Em nota, o Palácio do Planalto diz que, na conversa, Lula "reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo".

A nota diz que "Biden concordou com a importância das divulgações das atas".

Ainda segundo o texto, Lula "reiterou a posição do Brasil de seguir trabalhando pela normalização do processo político no país vizinho, que terá efeitos positivos para toda a região".

A conversa, que durou cerca de meia hora, também tratou de temas bilaterais e multilaterais, segundo o Palácio do Planalto. No telefonema, Lula também cumprimentou Biden pela decisão de se retirar da disputa eleitoral americana, diz a nota.

Imagem BBC Brasil
Lula conversou por telefone com Joe Biden sobre o impasse eleitoral na Venezuela. (Reuters)

O Brasil também estaria avaliando emitir uma declaração conjunta com Colômbia e México sobre o processo eleitoral na Venezuela.

Os países já se manifestaram individualmente pedindo transparência do resultado.

Contudo, um posicionamento em grupo de três países com governos de esquerda poderia aumentar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais