A renúncia do primeiro-ministro Hassan Diab e de membros do seu gabinete na segunda-feira (10), não foi suficiente para impedir que libaneses voltassem a ocupar as ruas de Beirute nesta terça para manifestar insatisfação política após as explosões que destruíram a capital do país. Neste momento, os libaneses pedem a saída do que enxergam como uma classe dominante corrupta.
Um protesto com o slogan "Enterre as autoridades primeiro" foi planejado perto do porto, onde o material altamente explosivo armazenado por anos foi detonado em 4 de agosto e matou ao menos 171 pessoas, ferindo 6 mil e deixando centenas de milhares desabrigados.
Uma imagem circula nas redes sociais informando que a crise "não termina com a renúncia do governo". "Ainda há (o presidente Michel) Aoun, (o presidente do Parlamento Nabih) Berri e todo o sistema", diz a imagem.
Muitas pessoas no Líbano e nas redes sociais acreditam que a renúncia não basta. "Foi bom que o governo renunciou, mas precisamos de sangue novo ou não funcionará", disse Avedis Anserlian à agência de notícias Reuters em frente à sua loja demolida.
"Não acho que (a renúncia) fará diferença. Todos os ministros no Líbano são apenas uma cara. Por trás disso estão as milícias que controlam tudo", disse Rony Lattouf, comerciante, à rede de televisão Al Jazira. "São essas milícias que decidem as coisas no Líbano. As pessoas têm que fazer um movimento poderoso para removê-las".
Mesmo antes da explosão, uma crise econômica no Líbano havia elevado os preços de produtos básicos e deixou muitos enfrentando a perspectiva de fome. Agora, não está claro quem vai se encarregar do processo de longo prazo de recuperação e reconstrução em Beirute e no país em geral. Com prejuízos estimados de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões, o processo pode levar anos.
Lina Khatib, chefe do Programa para o Oriente Médio e Norte da África do instituto de política internacional britânico Chatham House, disse que a pressão dos manifestantes pode acelerar a formação de um novo governo, mas não significa necessariamente que a mudança virá.
"A questão chave é se o novo gabinete será meramente uma (nova) versão do antigo", disse ela. Embora seja provável que o próximo governo inclua assentos no gabinete para aqueles de fora da classe dominante, há poucas chances de que eles tenham poder suficiente para realizar uma mudança real. "O status quo dominante não está disposto a renunciar totalmente ao poder", disse ela.
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