O Brasil pode ter novos milionários a partir das 20h desta terça-feira (31/12), quando será divulgado o resultado da Mega da Virada 2024 — cujo prêmio está em R$ 600 milhões (para quem acertar as seis dezenas).
Este pode ser o maior prêmio da história da Mega da Virada, que está em sua 16ª edição. O valor mais alto já premiado foi de R$ 588 milhões, divididos entre cinco pessoas, no ano passado.
Apostas que acertarem cinco e quatro números também serão premiadas nesta terça-feira.
O sorteio será transmitido pela TV e no YouTube e no Facebook da Caixa Econômica Federal.
Mas quais são as chances de você vencer um prêmio desses, segundo a ciência?
Há formas de aumentar a probabilidade de ganhar? Existem combinações e números com mais ou menos chances? E participar de bolões e jogos coletivos, aumenta a probabilidade de ter que se preocupar com uma eventual taxação de fortunas?
O que é mais provável: ser atingido por um raio, nascer com seis dedos na mão, ser mordido por um tubarão ou ganhar na Mega da Virada?
A BBC News Brasil conversou com quatro matemáticos para responder a essa e outras dúvidas.
Confira enquanto você ainda não pode pagar alguém para ler as notícias para você.
E lembre-se de que é possível fazer sua aposta até às 18h do dia 31. O valor mínimo da aposta é de R$ 5.
De acordo com um cálculo do estatístico Euler Alencar, divulgado no site da própria Caixa, a probabilidade de se ganhar o prêmio principal com os seis números é de 1 em 50.063.860 — ou seja, 0,000001997% de chance.
O número de possíveis combinações de seis números, considerando os 60 disponíveis, é de mais de 50 milhões.
É semelhante a colocar 50 milhões de nomes em um saco aleatoriamente e alguém enfiar a mão e sortear o seu nome.
Segundo Diego Marques, professor do Departamento de Matemática da UnB (Universidade de Brasília), o que define as chances de uma pessoa ganhar na loteria é o número de combinações possíveis em um determinado sorteio.
"Quanto mais jogos possíveis, menor a chance de ganhar", diz o matemático.
Segundo os matemáticos, isso depende do número de apostas. Mas, considerando que em 2023 elas superaram os 485 milhões, esse é um evento muito improvável, já que são pouco mais de 50 milhões de combinações de seis números possíveis.
"Se tivermos 80 milhões de apostas simples, a chance de não ter ganhador é da ordem de 20%", calcula Gilcione Nonato da Costa, professor do Departamento de Matemática da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
"Mas é claro que, à medida que aumenta o número de apostas, essa probabilidade diminui", observa o matemático, estimando que, com 150 milhões de apostas, a chance de ninguém acertar os seis números cai a 5%.
A Mega da Virada, no entanto, tem uma colher de chá para os apostadores: ela não acumula, como os demais concursos da Mega-Sena ao longo do ano.
Assim, se ninguém acertar as seis dezenas, o prêmio vai para quem acertar cinco e quatro delas, e aí as chances de ganhar são mais favoráveis.
Isso acontece porque, jogando seis números, mas tendo que acertar apenas cinco, é como se o jogador fizesse vários jogos ao mesmo tempo, já que as combinações possíveis de cinco números ou menos passam a ser diversas.
De acordo com os matemáticos, a única forma de ter mais chance de ganhar é fazendo mais jogos.
Isso pode ser feito de duas maneiras: fazendo vários jogos de seis números ou apostando em mais números, na chamada aposta múltipla.
Mas, obviamente, quanto mais números forem selecionados, mais caro ficará o jogo.
Para apostar em sete números, o jogo sai por R$ 35. Para apostar em 15, é necessário desembolsar R$ 25.025.
"Quanto mais jogos você faz, mais chances tem de ganhar. E a chance ao apostar em mais números é a mesma [do que fazer mais jogos]", diz Marques, da UnB.
"Por exemplo, se você aposta em sete dezenas, é a mesma coisa que fazer sete apostas de seis dezenas. A probabilidade nos dois casos cai de 1 em 50 milhões, para 1 em 7 milhões. Então, de fato, essa é uma boa estratégia", afirma o matemático.
Mas por que a aposta múltipla aumenta a chance de ganhar?
"Quando você aposta em sete números, você tem que acertar só seis deles. Você tem uma 'gordurinha', uma dezena que você pode errar e isso aumenta muito a chance. Você pode errar qualquer uma delas e acertar as outras seis, isso multiplica sua chance por sete", explica.
Costa, da UFMG, concorda e deixa uma sugestão: em vez de fazer vários sorteios mais baratos — por exemplo, sete sorteios de R$ 5 —, é melhor jogar um único sorteio de R$ 35.
"A chance de ganhar é maior do que ao partir a aposta", afirma.
A resposta dos matemáticos a essa pergunta é direta e reta: não.
"A chance de qualquer combinação de seis dezenas é a mesma. Tanto faz você jogar os números que você sonhou ou os números 1, 2, 3, 4, 5 e 6. A probabilidade é a mesma: 1 em 50 milhões. Não vai mudar", diz Marques, da UnB.
"Alguém pode dizer: 'poxa, mas nunca deu 1, 2, 3, 4, 5, 6'. Mas eu posso dar milhões de exemplos de combinações que nunca saíram. Então, de fato, 1, 2, 3, 4, 5, 6 é só mais uma das combinações e a chance de ela aparecer é a mesma que qualquer outra."
Sempre perto da Mega da Virada, são comuns na imprensa as reportagens mostrando os números mais sorteados até hoje.
As pessoas então se perguntam: é melhor jogar nesses números ou não jogar neles?
"A verdade é que não faz a menor diferença. O que aconteceu no passado não influencia no sorteio futuro. Essa é uma premissa fundamental de um sorteio aleatório honesto", diz Moacyr Alvim, professor da EMAp-FGV (Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas).
"A conclusão é: ignore os números do passado, porque eles não vão te ajudar em nada."
Costa, da UFMG, alerta porém que, ao jogar números muitos apostados como datas de aniversário — o que restringe os palpites até a dezena 31, que é o número máximo de dias de um mês —, aumentam as chances de você acabar dividindo o prêmio com outros apostadores de aniversários.
Aqui uma boa notícia: apostar em grupo de fato aumenta as chances de ganhar.
"Em geral, em bolões, o pessoal junta muitas pessoas para poder fazer essas apostas com dez, onze dezenas. Então aumenta a chance porque cada um dá um pouquinho, você junta algumas centenas ou milhares de reais e consegue fazer muito mais jogos", diz Marques.
"Essa é a maneira mais inteligente e prática de aumentar sua chance. Você reúne seus amigos, consegue um dinheiro considerável e concorre com mais combinações. Com a contrapartida de o prêmio ser dividido, mas essa é uma boa estratégia", concorda Costa.
"A chance de ganhar é a mesma: de 1 em 50 milhões. Sua chance não vai mudar em nada se tem só você jogando ou o planeta Terra inteiro", afirma o professor da UnB.
"A chance de ganhar é individual, não depende do número de apostadores. Mas o prêmio que você vai ganhar, caso seja sorteado, isso claramente muda", diz Alvim, da FGV.
Na Mega da Virada, lembra ele, há duas "forças antagônicas".
"Ao mesmo tempo que aumenta o número de apostadores, também tem um prêmio muito maior, porque ele foi acumulando ao longo do ano. Diante do elevado número de apostas, dividir o prêmio com alguém é mais provável do que ganhar sozinho, mas mesmo dividindo, o valor é tão alto que deve ser maior do que o pago normalmente pela Mega-Sena no resto do ano."
"É bem mais provável que você seja mordido por um tubarão do que ganhe na Mega-Sena", alerta Régis Varão, matemático da Unicamp.
Segundo ele, as estimativas são de que há uma chance em 10 milhões de ser mordido por um tubarão, então são 5 vezes mais chances de parar entre as mandíbulas do peixão do que de se tornar milionário no dia 31.
A mesma lógica vale para levar um raio na cabeça.
"As chances de você ser atingido por um raio são em torno de uma em 1 milhão, ou seja, você tem 50 vezes mais chance de ser atingido por um raio do que de ganhar na Mega-Sena", calcula Varão.
Por fim, cerca de uma em cada 10 mil pessoas nascem com seis dedos na mão.
"Quer dizer que é em torno de 5 mil vezes mais fácil nascer com seis dedos do que ganhar na Mega-Sena", diz Marques, da UnB.
O professor de Brasília diz que existe uma frase no mundo matemático para isso.
"A loteria é um imposto para quem não sabe matemática", brinca.
"Não é para desmotivar ninguém, mas realmente, do ponto de vista matemático, as chances são muito pequenas. Mas eu já joguei, acho legal o aspecto psicológico de sonhar com o que você faria, isso faz bem à gente. Por trás da frieza dos números, tem coisas que nos ajudam."
Alvim, da FGV, lembra que é preciso ter clareza de que loteria não é uma forma de investimento.
"Quem acha que, se for esperto o suficiente ou investir muito dinheiro, tem chance de ganhar, está fazendo bobagem. Não é investimento, o jogo é todo feito para a grande maioria das pessoas perder dinheiro", observa.
"É simplesmente uma diversão. Como diversão, eu acho que está valendo. Eu, por exemplo, comprei um bilhete da Mega-Sena e dei para minha sogra de presente de Natal."
* Esta reportagem foi publicada originalmente em 30 de dezembro de 2021 e republicada com atualizações em 30 de dezembro de 2024
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