Economistas e analistas de bancos já começam a projetar novas quedas da taxa básica de juros na próxima reunião do Copom do BC (Comitê de política monetária do Banco Central). A expectativa é que a Selic fique entre 3,75% e 3,5% no final deste ano.
O movimento aconteceu depois de Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) realizar uma reunião extraordinária nesta terça-feira (3), duas semanas antes da reunião ordinária de política monetária, e anunciar um novo corte de 0,50 ponto percentual nos juros americanos, para um intervalo entre 1% e 1,25%.
A medida, segundo o órgão, foi uma decisão emergencial para tentar conter os possíveis impactos econômicos do coronavírus sobre a atividade nos Estados Unidos.
O Fed ainda sinalizou, em comunicado, que continuaria monitorando de perto a evolução dos dados da doença e afirmou que agirá conforme apropriado: deixando a porta aberta para novos cortes de juros.
Em relatório, o UBS afirmou que, mesmo com o novo corte, ainda espera uma acentuada desaceleração no crescimento da economia americana no primeiro e no segundo trimestre e projeta outros dois novos cortes na taxa dos EUA até o final deste ano, trazendo os juros americanos para zero.
Segundo o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, a decisão do Fed tende a mudar a postura mais conservadora do BC brasileiro e a perspectiva de que novos cortes na Selic aconteçam já nas próximas reuniões não é descartada.
"A mudança no cenário internacional traz uma assimetria de riscos para uma baixa de inflação no Brasil. Temos um cenário base de corte de 0,25 ponto percentual na Selic, mas na teoria a queda pode até ser maior, a depender do que o BC manifestar. Trabalhamos, agora, com a Selic próxima a 3,5% ao final deste ano", afirmou Weeks.
O economista da Garde Asset também afirmou que reduziu as perspectivas de crescimento para a economia brasileira, de 2,5% para 2% em 2020.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, segue na mesma linha e espera um corte de 0,25 ponto percentual na Selic já na próxima reunião do Copom. "A decisão do Fed deu a chancela para o BC diminuir mais a Selic para 4%. Os dados ainda fracos da atividade, inflação bastante baixa e o desemprego elevado são sinais de que há espaço para queda adicional. E o coronavírus é o gatilho para isso", disse.
A mesma avaliação foi feita pelos economistas do ASA Bank que, em relatório, avaliaram uma redução de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom, seguido por mais um corte de 0,25 ponto percentual em maio, com a Selic atingindo os 3,5% e permanecendo neste patamar até o final de 2021.
"Não descartamos, no entanto, que a Selic seja reduzida ainda mais, eventualmente atingindo 3%, caso continuemos a ver sinais de ausência de tração na economia e/ou revisões baixista de inflação esperada para 2021", afirmou o ASA Bank em relatório.
Economistas do Goldman passaram a acreditar em um novo corte da taxa básica de juros e projetam que a Selic termine 2020 em 3,75% ao ano. O banco ainda reduziu as suas expectativas de crescimento econômico da economia brasileira neste ano, de 2,2% para 1,5%.
Segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, a discussão sobre o tema é complicada e tem conclusões diferenciadas. "O mercado reagiu ao Fomc [comitê de política monetária do Fed] com queda na curva de juros. Não há sinal de risco de repasse de altas no câmbio para inflação e não há razão para o BC frustrar o mercado", afirmou.
O banco também revisou a taxa de crescimento do PIB neste ano para 1,4%.
Há, porém, uma parcela dos economistas que projeta uma ação mais comedida do Banco Central e aguarda a manutenção da Selic nos atuais 4,25% ao ano, tanto pela pressão do dólar sobre o real, como também pela falta de evidências mais concretas do efeito do coronavírus na economia.
Segundo o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, a decisão do Fed foi precipitada e não deve trazer grande fôlego para a cadeira produtiva.
"Quando uma decisão dessa é tomada em reunião extraordinária, pode passar a impressão de que estão apavorados. Isso aumenta muito a incerteza em um cenário em que os dados da economia americana não mostraram queda forte da atividade industrial", diz.
Para Camargo, como a diferença entre os juros nos EUA e no Brasil aumentou, é provável que haja um aumento do fluxo de dólares ao país atrás de rendimentos maiores, aliviando a pressão no câmbio.
Ele aponta ainda para o risco de o BC brasileiro baixar o juro agora, o câmbio continuar subindo, e o Brasil ser obrigado a elevar a Selic novamente à frente por conta do contágio do dólar alto na inflação.
O economista-chefe da Necton, André Perfeito, partilha da mesma percepção. Segundo ele, o Fed acabou forçando a mão na liquidez americana e o BC brasileiro começará a sofrer pressões exageradas para que siga no mesmo caminho. "Por aqui, acredito que o BC não vai fazer nada antes de ter maiores evidências do efeito da crise biológica na economia. Não digo que não haja bons motivos para cortar a Selic, mas fazer isso do nada parece ser só para dizer que está tudo bem", afirmou.
Em relatório, a XP Investimentos afirmou que, diferente do que ocorre em outros países, o BC brasileiro prevê apenas o controle da inflação e a estabilidade financeira e que, portanto, não há necessidade de uma ação urgente de resposta à redução feita pelo Fed.
"O Banco Central tem sido claro sobre os fatores estruturais que condicionam a inflação e que está monitorando os desdobramentos de perto. Acreditamos que o BC manterá a Selic em 4,25% na sua próxima reunião e que ressaltará o aumento dos riscos em sua próxima comunicação", disse.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta