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'Meta mudou para direita, seguindo ventos políticos nos EUA': as reações da imprensa internacional ao fim da checagem no Facebook e Instagram

'Meta mudou para direita, seguindo ventos políticos nos EUA': as reações da imprensa internacional ao fim da checagem no Facebook e Instagram

Jornais no mundo todo repercutiram a decisão de abandonar o uso de checagem independente de fatos no Facebook e no Instagram.

Publicado em 8 de janeiro de 2025 às 07:44

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Imagem BBC Brasil
Mark Zuckerberg anunciou o fim da checagem independente de fatos no Facebook e Instagram. (Reuters)

Jornais no mundo todo repercutiram a decisão de abandonar o uso de checagem independente de fatos no Facebook e no Instagram, substituindo-os por "notas da comunidade", em um modelo semelhante ao do X, em que comentários sobre a precisão do conteúdo das postagens são deixados a cargo dos próprios usuários.

Em vídeo publicado no blog da empresa na terça-feira (7/1), o presidente-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, disse que os moderadores profissionais são "muito tendenciosos politicamente" e que era "hora de voltar às nossas raízes, em torno da liberdade de expressão".

Uma análise publicada no jornal britânico The Guardian afirma que a decisão de Zuckerberg inaugura uma fase de "política partidária da gigante de redes sociais", com o seu CEO "perseguindo o apoio de Trump".

"A Meta está mudando para a direita, seguindo os ventos políticos predominantes que sopram nos Estados Unidos. Uma era mais partidária agora se aproxima para a gigante da mídia social e seus líderes corporativos, embora o próprio Mark Zuckerberg tenha poucas políticas pessoais além da ambição", afirma uma análise do editor de tecnologia do Guardian, Blake Montgomery.

"O CEO Zuckerberg anunciou as mudanças enquanto tenta ganhar aprovação do novo governo de Donald Trump, demonstrando até onde ele está disposto a ir para ganhar a aprovação do presidente eleito", diz a análise. "Zuckerberg acredita que Trump está ditando os termos do discurso dominante em 2025."

"O Facebook e o Instagram são tão grandes que seus termos de serviço definem, na prática, a janela de Overton [espectro de ideias toleradas na sociedade em determinado momento] para conversas online em todo o mundo."

O Guardian também publicou um artigo de opinião do jornalista Chris Stokel-Walker, autor de livros sobre o YouTube e o TikTok, intitulado: "Uma nova era de mentiras: Mark Zuckerberg acaba de inaugurar um evento de extinção da verdade nas redes sociais".

"O comentário mais 'apito de cachorro' [mensagem cifrada enviada a grupos políticas — nesse caso, aos eleitores de Trump] foi uma observação de que a Meta estaria movendo o que restava de suas equipes de confiança, segurança e moderação de conteúdo para fora da Califórnia liberal e sua moderação de conteúdo dos EUA agora seria baseada no Texas, um Estado republicano ferrenho", diz Stokel-Walker.

"Só faltou no vídeo Zuckerberg usar um boné MAGA (sigla em inglês para "torne a América grande de novo", o slogan de Trump) e portar uma espingarda", diz o texto. "De certa forma, você não pode culpar Zuckerberg por se curvar para Donald Trump. O problema é que sua decisão tem enormes ramificações", diz o artigo.

"Este é um evento de nível de extinção para a ideia de verdade objetiva nas mídias sociais – um organismo que já estava em sistema de suporte de vida, mas sobrevivia em parte porque a Meta estava disposta a financiar organizações independentes de verificação de fatos para tentar manter algum elemento de veracidade, livre de viés político."

'Repensando obediência à esquerda democrata'

Em editorial na quarta-feira (8/1), o jornal Wall Street Journal elogiou a decisão de Zuckerberg.

"Um resultado da vitória de Donald Trump é que os CEOs das empresas estão repensando sua obediência à esquerda democrata. O exemplo mais recente é a decisão bem-vinda da Meta esta semana de abandonar seu regime de censura", afirma o jornal no editorial intitulado "O mea culpa sobre liberdade de expressão de Mark Zuckerberg".

"Em um mea culpa para entrar para história, o CEO Mark Zuckerberg retirou na terça-feira a maioria dos controles de liberdade de expressão da plataforma."

O Wall Street Journal lembra que, nos últimos anos, a Meta adotou políticas de checagem de informação. O jornal afirma que isso foi feito para agradar políticos democratas.

"Zuckerberg está redescobrindo a coragem de suas convicções de liberdade de expressão. Em seus primeiros anos, o Facebook adotou uma abordagem de não intervenção na moderação de conteúdo. Mas após a eleição de 2016, os democratas criticaram a plataforma por não fazer mais para remover a desinformação russa, que eles alegaram ter ajudado Trump a vencer."

O jornal critica o modelo de moderação implementado pela Meta — e que será abandonado após o anúncio de Zuckerberg feito na terça-feira (8/1).

"O Facebook então estabeleceu um sistema obscuro no qual parceiros terceirizados certificados, como veículos de comunicação e organizações sem fins lucrativos, checavam os fatos das postagens. As postagens classificadas como enganosas ou falsas eram rebaixadas nos feeds de usuários. O viés de esquerda nas checagens de fatos estimulou uma reação conservadora e pressão para emendar a Seção 230 para limitar as proteções de responsabilidade para plataformas online."

O jornal sugere que a estratégia da Meta é se aproximar de Trump e dos republicanos — e também do eleitorado americano.

"Essas mudanças podem ser motivadas em parte pelo desejo da Meta de reparar a relação com os republicanos que em breve controlarão Washington e evitarão mais regulamentação [das Big Techs]. Mas Zuckerberg sem dúvida também está respondendo à mensagem que os eleitores enviaram ao eleger Trump: interrompam o imperialismo progressista."

"Alguns conservadores pediram maior regulamentação das plataformas de mídia social sob a justificativa de que elas são praças públicas de fato. Mas Musk e Zuckerberg estão mostrando como os mercados, incluindo os mercados políticos, estão resolvendo o problema da censura. Mais controle do discurso do governo tornaria isso pior."

Imagem BBC Brasil
(Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images)

O New York Times afirma que a moderação de conteúdo nas redes sociais é retirada das mãos das plataformas e colocadas nas mãos dos usuários.

"A Meta gostaria de apresentar seu próximo verificador de fatos — aquele que identificará falsidades, escreverá correções convincentes e alertará outros sobre conteúdo enganoso. É você."

Diz, ainda, que "uma reviravolta assim teria sido inimaginável após as eleições presidenciais de 2016 ou mesmo de 2020, quando as empresas de mídia social se viam como guerreiras involuntárias na linha de frente de uma guerra de desinformação".

"Mentiras generalizadas durante a eleição presidencial de 2016 desencadearam reação pública e debate interno nas empresas de mídia social sobre seu papel na disseminação das notícias falsas. As empresas responderam investindo milhões em esforços de moderação de conteúdo, pagando verificadores de fatos terceirizados, criando algoritmos complexos para restringir conteúdo tóxico e lançando uma enxurrada de rótulos de advertência para retardar a disseminação de falsidades — movimentos vistos como necessários para restaurar a confiança pública."

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