Enquanto sirenes soavam em Kiev e outras cidades ucranianas, anunciando a ofensiva russa contra o país, Moscou acordou para uma quinta-feira (24) quase normal em sua superfície.
Houve até aqui um incidente isolado, de uma manifestante chamada Irina que tentou levantar um cartaz contra a guerra junto ao popular monumento ao poeta Alexander Púchkin (1799-1837), na elegante rua Tverskaia. Na Rússia, é proibido fazer atos sem permissão prévia das prefeituras.
A reportagem andou por lá, pouco ao norte do Kremlin, e também ao sul, passando, passando pelo centro nervoso da cidade, a praça Vermelha. Havia um número algo maior de policiais na região, concentrados discretamente nos cantos do logradouro, mas nada tão chamativo.
Turistas locais tiravam fotos junto ao mausoléu de Vladimir Lênin, o fundador da União Soviética cujo xará Putin disse ser o criador de uma ficção chamada Estado ucraniano, como sempre. Eram poucos, cortesia da pandemia e do frio de zero grau sob um céu plúmbeo. Era o caso de Ievguêni, morador de Iekaterimburgo (Urais, centro do país), que está visitando parentes. Ele disse ter chegado na véspera e se assustado com "grandes explosões e o céu vermelho". "Só depois lembrei do feriado", disse.
De fato, por volta das 20h da quarta (23), Moscou tremeu com grandes explosões e fogos de artifício que coloriram a região central a cidade: era o Dia do Defensor da Pátria, uma das datas militares sagradas para Putin, que remete à vitória soviética contra a Alemanha nazista, pilar ideológico do presidente.
Basta ler o discurso do presidente anunciando a guerra para ver como ele trabalha o tema, falando em "desnazificar" a Ucrânia. Devido ao passado que associa a resistência aos soviéticos à invasão nazista do país vizinho, de fato vivo sem muitos disfarces em algumas unidades militares de Kiev, é algo que fala ao público russo.
Lá do lado, no Jardim de Alexandre que margeia a muralha do Kremlin, o premiê paquistanês, Imran Khan, repetiu Jair Bolsonaro e Olaf Scholz na semana passada e depositou uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido antes de se encontrar com Putin.
No sempre movimentado metrô de Moscou, não havia nada que indicasse que este é um país em guerra. As pessoas seguiam cabisbaixas, olhando para as telas de seus celulares. Já o mercado financeiro, sabendo do rebote inevitável que virá, o Banco Central tomou algumas medidas, banindo por exemplo as vendas de curto prazo de títulos russos por tempo indeterminado. A Bolsa despencou, levando ao rumor de que o pregão será suspenso.
As casas de câmbio onipresentes nas ruas já vendiam o dólar a mais de 80 rublos, maior nível da história. A cotação bateu 85 rublos por dólar, e alguns pontos perto de áreas turísticas suspenderam os negócios. Nada parecido com o que acontece no vizinho, claro, onde os saques acima de 100 mil hrivnias (cerca de R$ 17 mil) foram proibidos nos bancos, embora as transações com cartão e online sigam normais. Compra e venda de moeda estrangeira também foram suspensas.
O país está sob lei marcial, e o metrô de Kiev serviu tanto de abrigo antiaéreo quanto de rota de fuga para muitos moradores da capital.
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