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Mundo está pior do que na crise de 2008, diz Lula na abertura do G20

Mundo está pior do que na crise de 2008, diz Lula na abertura do G20

Presidente iniciou Cúpula de Líderes no Rio com lançamento de aliança inédita contra a fome e a pobreza

Publicado em 18 de novembro de 2024 às 12:44

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Imagem BBC Brasil
Lula abriu a cúpula do G20. (REUTERS/Ricardo Moraes)

Mariana Schreiber

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a Cúpula de Líderes do G20 nesta segunda-feira (18/11) enfatizando o agravamento de crises globais, com aumento de guerras, extremos climáticos, fome e pobreza.

"Estive na primeira reunião de líderes do G20, convocada em Washington no contexto da crise financeira de 2008. Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior", afirmou.

A fala foi feita na primeira sessão da cúpula, realizada este ano no Rio de Janeiro, que começou com o lançamento oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

A iniciativa liderada pelo Brasil, presidente do G20 neste ano, nasce com 147 membros fundadores, incluindo 81 países e grandes instituições internacionais, como o Banco Mundial e organismos das Nações Unidas (ONU).

"Esse será o nosso maior legado", disse o presidente sobre a Aliança.

Dos membros do G20 — formado por 19 países mais União Europeia e União Africana —, apenas a Argentina não aderiu.

O país, presidido por Javier Milei, tem apresentado resistência a diferentes agendas multilaterais, desde que seu aliado, Donald Trump, foi eleito como novo presidente dos Estados Unidos. A postura argentina está, inclusive, dificultando que os líderes fechem uma declaração consensual para a Cúpula.

Lula criticou o gasto mundial de US$ 2,4 trilhões em armamentos no ano passado, quando existiam 733 milhões de pessoas subnutridas no mundo, segundo dados da ONU para 2023.

"Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada. Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta", continuou Lula, em fala aos líderes mundiais.

O presidente destacou ainda que "as desigualdades sociais, raciais e de gênero se aprofundaram, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas".

"O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza", acrescentou.

Brasil driblou 'tretas' do G20 com Aliança

Imagem BBC Brasil
Líderes de todo o mundo estão no Rio para reunião do G20. (REUTERS/Ricardo Moraes)

Com a missão espinhosa de presidir neste ano o G20 — grupo das maiores economias do mundo — em meio a conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio e à maior crise climática da história, o Brasil optou por colocar no centro da agenda o combate à fome e à pobreza, bandeira que marca os governos Lula.

Diplomatas brasileiros e de outros países ouvidos pela BBC News Brasil concordam que foi uma boa estratégia trazer um tema mais agregador para a mesa de negociações, o que possibilitou a criação de uma iniciativa considerada inédita, por seu formato e peso político: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

A Aliança é apontada como um raro exemplo de um impacto concreto do G20, que costuma se restringir a declarações de intenções dos seus membros — mas sua eficácia ainda será testada e dependerá, sobretudo, da capacidade de liberar recursos, ressaltou à reportagem o economista-chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o peruano Maximo Torero.

A iniciativa pretende facilitar a implementação de políticas públicas já testadas com sucesso em diferentes países — como o Bolsa Família, programas de merenda escolar, agricultura familiar e microcrédito — em nações pobres ou de renda média baixa, que careçam de ações estruturadas nacionalmente.

Além disso, a Aliança pretende ser um facilitador dos fluxos de financiamento, tornando menos burocrático o acesso desses países a recursos existentes em instituições financeiras multilaterais, como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e outras fontes.

Um dos membros, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) se comprometeu a fornecer até US$ 25 bilhões (R$ 140 bilhões) em financiamento para apoiar países em políticas contra a fome e a pobreza.

As primeiras metas anunciadas preveem a ampliação de programas de transferência de renda em países como Togo, Chile e Nigéria, com previsão de atingir 500 milhões de pessoas. Também está previsto dobrar a quantidade de crianças com acesso à alimentação escolar em países pobres, alcançando 150 milhões de alunos até 2030.

Do outro lado, países como França, Alemanha e Noruega se comprometeram a apoiar financeiramente a expansão de refeições escolares.

Segundo dados da ONU, havia 733 milhões de pessoas famintas no mundo em 2023, um aumento de 152 milhões em comparação com 2019. A projeção atual é que, sem esforços adicionais, não será possível atingir o objetivo firmado em 2015 de zerar a fome global até 2030.

Os membros são aceitos após firmarem compromisso e podem participar de três formas: como financiadores, fornecedores de conhecimento (políticas públicas bem-sucedidas) ou como implementadores desses programas em escala nacional.

A intenção da Aliança é fomentar ações de larga escala, lideradas pelos Estados, após o diagnóstico de que, hoje, as iniciativas de combate à pobreza e à fome são fragmentadas e, muitas vezes, lideradas por organizações filantrópicas, com impacto limitado.

Cúpula acontece no Brasil pela primeira vez

Imagem BBC Brasil
Brasil sedia pela primeira vez o evento. (REUTERS/Pilar Olivare)

Esta é a primeira vez que o G20 é realizado no Brasil, que está na presidência temporária do grupo desde o fim de 2023.

Fazem parte do grupo, além do Brasil: Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Rússia, Índia, Canadá, Coreia do Sul, Arábia Saudita, México, Argentina, Turquia, Indonésia, Austrália e África do Sul.

Originalmente, são esses 19 países somados à União Europeia — daí o nome G20 (Grupo dos 20). Em 2023, também foi incorporada a União Africana, que reúne os 55 países e territórios da África.

Além dos membros, a cúpula do Rio conta ainda com 19 convidados, entre eles Espanha, Portugal, Chile, Colômbia, Emirados Árabes e Angola.

O encontro, que termina na terça-feira (19/10), representa a conclusão dos trabalhos conduzidos pelo Brasil na liderança.

Nele, os chefes de Estado "aprovam os acordos negociados ao longo do ano, e apontam caminhos para lidar com os desafios globais", segundo a organização do evento.

O Brasil escolheu três prioridades para a sua presidência: combate à fome e às desigualdades; reforma da governança global; e transição energética e desenvolvimento sustentável.

Os debates têm como pano de fundo crescentes tensões globais, com guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, crise climática histórica e um mundo marcado pela polarização entre Estados Unidos e China.

Esse contexto tem dificultado os membros do grupo a fechar um texto consensual para o comunicado final da Cúpula.

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