A China se indignou nesta quinta-feira (24), na ONU com os Estados Unidos, que mais uma vez a apontaram como responsável pela disseminação do coronavírus no mundo, em uma reunião por videoconferência do Conselho de Segurança sobre o futuro da governança global.
"Já chega! Já criaram problemas suficientes no mundo!", disse Zhang Jun, embaixador chinês na ONU, à embaixadora americana, Kelly Craft, sob o olhar impassível do chefe da ONU, António Guterres.
"Antes de apontar o dedo aos outros, qual é a causa dos 7 milhões de casos de infecção e mais de 200 mil mortes nos Estados Unidos?", questionou o embaixador chinês, acusando Washington de espalhar "o vírus da desinformação", "mentir" e "enganar".
Agir dessa forma "não resolverá nenhum problema", insistiu. "Parem de politizar o vírus (...) uma grande potência deve se comportar como uma grande potência", disse ele antes de receber o apoio de seu colega russo, Vasili Nebenzia.
As intensas trocas de acusações, no final da reunião virtual sobre Governança Global Pós-Covid-19, refletiram as profundas divisões entre os três membros do Conselho com poder de veto (França e Reino Unido também têm poder de veto) que aumentaram desde que o vírus surgiu pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan, em janeiro.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, falando primeiro, enfatizou a importância do multilateralismo centrado nas Nações Unidas e criticou os países - incluindo os Estados Unidos - que optaram por não tornar a vacina contra a covid-19 um bem público global disponível para pessoas em todos os lugares.
"Em um momento tão desafiador, os principais países estão ainda mais obrigados a colocar o futuro da humanidade em primeiro lugar, descartar a mentalidade da Guerra Fria e o preconceito ideológico e se unir no espírito de parceria para superar as dificuldades", disse Wang.
E em uma investida contra as sanções dos EUA e da União Europeia contra a Rússia, Síria e outros, ele disse: "Sanções unilaterais precisam ser combatidas a fim de salvaguardar a autoridade e a santidade do direito internacional".
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse que a pandemia e seu "infortúnio comum não eliminaram as diferenças interestaduais, mas, ao contrário, as aprofundaram".
"Em vários países, existe a tentação de procurar no exterior aqueles que são responsáveis por seus próprios problemas internos", disse ele."E vemos tentativas por parte de países individuais de usar a situação atual a fim de avançar seus interesses do momento e acertar as contas com os governos indesejáveis ou competidores geopolíticos."
Tudo isso foi demais para a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Kelly Craft, que abriu seus comentários no final da reunião com uma réplica direta, reiterando as acusações feitas pelo presidente Donald Trump na terça-feira em seu discurso ante a Assembleia-Geral da ONU.
"Deveria ter vergonha! Estou chocada e indignada com o conteúdo da discussão de hoje", disse Craft no início de seu discurso.
"Na verdade, estou bastante envergonhada deste Conselho, com membros que aproveitaram a oportunidade para se concentrar em ressentimentos políticos em vez de na questão crítica da agenda", acrescentou.
"A decisão do Partido Comunista Chinês de ocultar a origem desse vírus, de minimizar seu perigo e de suprimir a cooperação científica transformou uma epidemia local em uma pandemia global", denunciou a embaixadora.
"Mais importante ainda, essas decisões já custaram centenas de milhares de vidas em todo o mundo. Centenas de milhares."
Então, após o discurso do embaixador chinês, Craft desapareceu da tela e foi substituída por um diplomata de segundo escalão da missão dos Estados Unidos na ONU.
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