A sonda Osiris-Rex concluiu nesta terça-feira (21), aparentemente com sucesso, a primeira coleta de amostras feita pela Nasa em um asteroide.
O procedimento ocorreu conforme o previsto, e o rápido toque no solo se deu às 18h54 (horário de Brasília), seguindo a programação prévia inserida no computador de bordo da espaçonave. Ao controle da missão só restou assistir aos dados de telemetria. Como o asteroide Bennu está neste momento a mais de 320 milhões de km da Terra, o atraso nas comunicações é de 18,5 minutos, o que equivale a dizer que o sinal do pouso bem-sucedido só chegou aqui às 19h12.
A ansiedade dos cientistas era grande, diante das incertezas da operação, descrita como TAG, "Touch and Go" - é praticamente um beijo roubado no asteroide, seguido por uma subida rápida de volta à órbita.
A coisa se desenrolou assim: primeiro a nave disparou os propulsores para sair da órbita operacional a 770 metros da superfície. São quatro horas até chegar aos 125 metros de distância, com um ajuste de velocidade e posição. Mais 11 minutos, a 54 metros de altura, e um disparo rápido reduz a velocidade de descida, com os painéis solares inclinados para cima e o braço robótico apontado para baixo.
O toque na superfície se deu por menos de 16 segundos, acompanhado pelo disparo de um jato de nitrogênio pressurizado na direção do chão que levanta poeira e pequenas pedras do asteroide, fazendo-as entrar no mecanismo de coleta. A manobra terminou com a sonda fazendo uma disparada de volta à órbita, com o material recolhido.
Pousar num asteroide é mais difícil do que parece. Mesmo um de tamanho considerável como o Bennu, com seus 490 metros, tem uma gravidade muito pequena, de modo que, se a sonda tocar nele depressa demais, por simples ação e reação, ela sobe de volta. Além da velocidade certa no pouso, a espaçonave precisa ajustar sua trajetória para compensar a rotação do astro, que dá uma volta em torno de si a cada 4,3 horas.
Por fim, há o fato de que a superfície se revelou muito mais acidentada do que se esperava. Para realizar uma descida segura, foi preciso acertar uma região não muito maior que seis espaços de vaga de estacionamento de carros, no local de pouso denominado Nightingale (Rouxinol). A Osiris-Rex em si tem o tamanho de uma van de 15 passageiros.
Com o resultado, a Osiris-Rex deve ter se convertido na terceira missão a colher amostras de um asteroide, a um custo de US$ 1 bilhão. Antes dela, vieram as japonesas Hayabusa e Hayabusa2, que exploraram os asteroides Itokawa e Ryugu, respectivamente, antes de trazerem farelinhos deles para a Terra. (A Hayabusa2 ainda precisa concluir a entrega, o que deve acontecer em dezembro deste ano.)
Se a missão americana não é a primeira a ir e voltar de um asteroide, ao menos é a que promete trazer maior carga. A Osiris-Rex espera recolher pelo menos 60 gramas (e quem sabe até 2 kg) do Bennu para retorno à Terra, o que faria dela a responsável pelo maior retorno de amostras do espaço desde as missões Apollo à Lua, nos anos 1960 e 1970.
Agora que o procedimento foi concluído, os pesquisadores devem analisar as imagens produzidas durante o pouso e se certificar de que realmente tudo se deu conforme o previsto. A Nasa promete para esta quarta-feira (21) a divulgação das imagens do encontro, acompanhado em tempo "real" (com o atraso de 18,5 minutos) apenas pela telemetria.
A Osiris-Rex (acrônimo de Origins, Spectral Interpretation, Resource Indentification, Security, Regolith Explorer) foi lançada em 2016 e tem por missão investigar as origens, composição, recursos naturais, estrutura interna e superficial do asteroide Bennu, classificado como um objeto celeste potencialmente ameaçador à Terra.
Trata-se de uma pilha de rochas agregadas que nasceu praticamente com o Sistema Solar, 4,5 bilhões de anos atrás, no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Desde então, veio gradualmente "descendo a ladeira", até se tornar um dos chamados objetos próximos à Terra. No final do século 22, entre 2175 e 2199, há uma chance em 2.700 de que colida com nosso planeta.
Daí vem a palavra "segurança" mencionada no acrônimo da missão. Se um dia precisarmos nos preocupar para valer com esse asteroide e tentar desviá-lo (não pergunte como), será útil que já o tenhamos visitado e estudado.
Asteroides têm sido um tema cada vez mais importante no portfolio de missões espaciais. Desde a pioneira Near-Shoemaker, lançada em 1996 com destino ao asteroide Eros, já tivemos as duas missões Hayabusa (2003 e 2014), do Japão, e a Dawn (2007), da Nasa, que visitou Vesta e Ceres, os dois maiores membros do cinturão de asteroides. Isso sem falar em outras espaçonaves, como Deep Space 1, Galileo e Rosetta, que fizeram sobrevoos de alguns desses objetos.
Na fila para o futuro, tem um monte também: a DART, parceria entre americanos e europeus, para testar uma técnica de desviar asteroide por impacto, voa em 2021. A Lucy, também a ser lançada em 2021, visitará vários asteroides troianos de Júpiter (família de astros que acompanham o planeta em sua órbita ao redor do Sol), e a Psyche, com voo marcado para 2022, irá até o asteroide de mesmo nome no cinturão entre Marte e Júpiter.
Remanescentes da formação do Sistema Solar, esses objetos todos representam uma fonte muito rica de informações para desvendar os mistérios do surgimento da nossa família de planetas. E, claro, quando mais conhecermos os asteroides, maiores as chances de que possamos fazer algo para impedir uma catástrofe se algum desses resolver fazer um estrago aqui na Terra.
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