O Prêmio Nobel de Química de 2020, 100% feminino, foi para Emmauelle Charpentier, do Instituto Max Planck, da Alemanha, e Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, pela possibilidade de reescrever o código da vida a partir do desenvolvimento de um método de edição genética.
As pesquisadoras desenvolveram o método Crispr/Cas9 (pronuncia-se "crísper") de edição do genoma, uma tesoura genética, criada apenas 8 anos atrás, e já está ajudando na busca da cura de doenças genéticas e de câncer.
Com a técnica, é possível editar com precisão o DNA de micro-organismos, plantas e animais.
"Espero que seja uma mensagem positiva para as meninas jovens que queriam seguir o caminho da ciência. Mulheres na ciência podem ter um impacto com a pesquisa na qual trabalham", afirma Charpentier. "Mas não só para mulheres. Vemos um desinteresse em seguir esse caminho, o que é preocupante."
A descoberta ocorreu graças ao estudo do sistema imune presente em bactérias e micro-organismos ancestrais. Da mesma forma que os seres humanos, bactérias também podem ser infectadas por vírus e, quando isso acontece, elas "guardam" um pedaço do DNA do invasor. Essa região com pequenos pedaços de DNA de memória são chamadas de Crispr (acrônimo para "repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas").
Charpentier descobriu uma molécula de RNA, chamada tracrRNA, nessas antigas bactérias. A pesquisadora observou que essa estrutura se ligava ao RNA Crispr (transcrição do DNA Crispr, de memória de infecções) e, junto com duas proteínas da bactéria, Cas9 e RNase III, cortaria o RNA Crispr em pedaços menores.
A pesquisadora do Max Planck e Doudna, em seguida, descobriram que a estrutura Crispr e a proteína Cas9 vasculhavam o bactéria em busca do DNA viral que desse "match" com a memória de infecções passadas. Quando isso ocorria, a tesoura molecular formada por Crispr e Cas9 extirpava o vírus.
O anúncio das laureadas ocorreu na manhã desta quarta-feira (7), na Academia Real Sueca de Ciências, em Estocolmo, na Suécia.
A premiação do Nobel de 2020, de 10 milhões de coroas suecas -equivalente a pouco mais de R$ 6 milhões de reais--, será dividida igualmente pelas pesquisadoras. O prêmio atual recebeu um aumento de 1 milhão em relação ao ano anterior. Até 2011, a premiação era de 10 milhões, mas, naquele ano, foi reduzida para 8 milhões de coroas suecas.
O dinheiro é proveniente de um fundo atualmente com 4,6 bilhões de coroas suecas, deixado por Alfred Nobel (1833-1896).
Além do valor, os vencedores ganham uma medalha com o rosto de Nobel e um diploma.
O testamento de Nobel afirma que a láurea da área é destinada aos que fizeram as mais importantes descobertas ou aperfeiçoamentos químicos.
A nomeação para o prêmio começa com o Comitê do Nobel para Química, que envia fichas confidenciais para pesquisadores qualificados --membros da Academia Real Sueca de Ciências, laureados anteriores nas áreas de física e química-- fazerem indicações. Autoindicações não podem ser feitas.
A partir dos nomes indicados, a academia seleciona os laureados.
A reunião para tomada de decisão do prêmio acontece quase normalmente neste ano, apesar da pandemia. A única diferença é que, para evitar possíveis contaminações pelo novo coronavírus, ela foi dividida em encontros menores paralelos, a partir dos quais é feita a escolha do laureado.
Além disso, os laureados em 2020 não irão até Estocolmo para receber a premiação, que provavelmente será enviada para os países dos vencedores.
A química era a ciência de maior importância no trabalho de Nobel, inventor da dinamite. Ele também foi responsável pelo desenvolvimento de borracha e couro sintéticos. Nobel registrou 355 patentes em 63 anos de vida.
No Nobel deste ano, a láurea de Medicina foi para a descoberta do vírus da hepatite C. Foram premiados Harvey Alter, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), Michael Houghton, da Universidade de Alberta, e Charles Rice, da Universidade Rockefeller.
Já a láurea de Física ficou com os pesquisadores Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez, que melhoraram o entendimento humano sobre buracos negros.
Em 2019, o Nobel de Química ficou com John B. Goodenough, M. Stanley Whittingham e Akira Yoshino pelo desenvolvimento das baterias de íons de lítio, que revolucionaram a tecnologia.
A premiação em 2018 foi para pesquisadores que conseguiram, de certa forma, controlar a evolução e levá-la para tubos de ensaios. Com isso, puderam desenvolver proteínas que ajudaram a solucionar problemas. Os ganhadores daquele ano foram Frances H. Arnold, dos EUA, George P. Smith, também dos EUA e Gregory P. Winter, do Reino Unido.
Em 2017, o Nobel de Química premiou pesquisas de criomicroscopia eletrônica, processo pelo qual é possível congelar moléculas em meio a processos bioquímicos. Dessa forma, é possível ver com maior precisão a superfície delas e o funcionamento do organismo, quase uma fotografia da vida. Os laureados naquela ocasião foram Jacques Dubochet, da Universidade de Lausanne, Joachim Frank, da Universidade Columbia e Richard Henderson, da Universidade de Cambridge.
Entre as pesquisas já premiadas estão a descoberta e trabalho com elementos químicos rádio e polônio (Marie Curie, 1911) e a pesquisa sobre ligações químicas (Linus Pauling - 1954).
Ainda restam as entregas das láureas de Literatura, na quinta (8), da Paz, na sexta (9), e de Economia, na segunda (12).
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta