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O que explica o sucesso do Chile na vacinação contra a Covid-19

O que explica o sucesso do Chile na vacinação contra a Covid-19

No ranking de doses a cada 100 habitantes, o Chile (42/100) é o quarto país do mundo que mais vacinou. No Brasil, enquanto isso, o cenário é de 6,1 doses a cada 100 habitantes

Publicado em 19 de março de 2021 às 08:49- Atualizado há 4 anos

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Campanha de vacinação no Brasil ainda caminha a passos lentos
O Chile já aplicou ao menos uma dose em 28% dos seus 18,7 milhões de habitantes, e a meta é chegar a 80% até junho. (Torstensimon/ Pixabay )

Enquanto grande parte da América Latina lida com campanhas de imunização contra Covid-19 lentas ou interrompidas, permeadas por desinformação e escândalos de desvios, o Chile virou um modelo de vacinação na região.

Com uma campanha iniciada em 24 de dezembro, o país já aplicou ao menos uma dose em 28% dos seus 18,7 milhões de habitantes, e a meta é chegar a 80% até junho. Os que já receberam as duas doses do imunizante contra a Covid, por sua vez, correspondem a 13%, de acordo com o Ministério da Saúde local.

No ranking de doses a cada 100 habitantes, o Chile (42/100) é o quarto país do mundo que mais vacinou, de acordo com dados compilados pelo jornal americano The New York Times, atrás apenas de Israel (108/100), Seychelles (93/100) e Emirados Árabes Unidos (71/100).

Para comparação, o Brasil apresenta, neste momento, 6,1 doses a cada 100 habitantes.

"O que explica a celeridade é um conjunto de fatores", explica Miguel O'Ryan, infectologista do Instituto Biomédico da Universidad de Chile. "Em primeiro lugar, foram feitos contatos muito antecipados com os fabricantes de vacinas, já em maio do ano passado, e o governo apostou em mais de um imunizante. A ideia foi fechar contratos com várias empresas, para não ficar refém da capacidade de produção de apenas um laboratório ou correr o risco de a vacina escolhida ter problemas."

O cenário descrito por O'Ryan aconteceu na Argentina, que a princípio fechou contrato apenas para receber a russa Sputink V. A fornecedora, no entanto, não vem entregando a quantidade de doses estipulada no acordo, o que obrigou o governo a sair, atrasado, em busca de outras vacinas, como as fabricadas pela britânica AstraZeneca em conjunto com a Universidade Oxford e a chinesa Sinopharm.

No Chile, estão sendo aplicados os imunizantes da Sinopharm, da Pfizer e da AstraZeneca/Oxford.

O infectologista destaca também o esforço do governo para garantir a chegada rápida dos imunizantes ao país. Para isso, foi oferecido às farmacêuticas a possibilidade de que a fase 3 do desenvolvimento das vacinas fosse realizado no Chile, "o que nos deu prioridade para a compra dos primeiros lotes".

"Depois, houve um bom planejamento centralizado pelo governo nacional, sem provocar competição regional nem áreas do país imunizadas mais rapidamente que outras", afirma O'Ryan.

Esse planejamento foi facilitado pelo sistema de imunização que existe no Chile desde 1978 e que conta com 1.400 locais de vacinação, incluindo regiões afastadas dos grandes centros.

Rodrigo Yáñez, secretário de Comércio Exterior, lembra que, além dos US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão, na cotação desta quinta) incluídos no orçamento de 2021 para a compra de vacinas, outros US$ 100 milhões foram adicionados recentemente ao montante.

Já Fernando Leanes, da Organização Panamericana de Saúde, acrescenta que parte do êxito da vacinação chilena se deve a uma integração harmoniosa entre os ministérios da Saúde e da Ciência, além do envolvimento das universidades do país em pesquisas e testes relacionados ao coronavírus.

MOVIMENTO ANTIVACINA É FRACO NO CHILE

Questionado sobre desconfianças em torno da efetividade da vacina, o epidemiologista O'Ryan diz que o problema no Chile é pontual. "Pouca gente exibe esse discurso, é ínfima a desconfiança na vacina. Neste ponto, tem ajudado muito a atuação dos veículos de comunicação, que estimulam a vacinação, e do governo, por meio de campanha de esclarecimento."

O sucesso na campanha de imunização, no entanto, contrasta com a situação atual da pandemia no país. No começo de março, os chilenos viram o número diário de casos de Covid ultrapassar 5.000. Depois do pico, com 8.122 infecções, em junho do ano passado, o Chile passou meses com cifras baixas, que dificilmente superavam 2.000 casos. O repique começou em janeiro, após as festas de fim de ano.

"Nós sabíamos que isso aconteceria, pois é o preço a pagar pelo relaxamento que houve no fim do ano", afirma O'Ryan. "Além disso, a vacinação demora um tempo para ter impacto. Calculamos que os casos começarão a cair por volta de 15 de abril, quando a maior parte dos idosos e da população de maior risco à doença já terá recebido as duas doses."

Por isso, o governo voltou a aplicar restrições, e diferentes tipos de confinamento estão sendo impostos no país. Na região periférica de Santiago, muito populosa, há um novo lockdown. Também aumentaram as regras para viagens, com quarentenas mais vigiadas no retorno do exterior. Até o momento, foram registrados no país 911.469 casos e 21.988 mortes devido à Covid-19.

EM BAIXA, PRESIDENTE TEM MELHORA NA POPULARIDADE

Diante do panorama otimista, até o presidente Sebastián Piñera, que desde 2019 enfrenta uma das mais intensas ondas de protestos da história recente do Chile, tem se beneficiado em termos de popularidade. Ele ainda compete com os lanterninhas da região, como Nicolás Maduro (14% de aprovação, segundo o Datanálisis), mas subiu dos 12% que tinha em meados de 2020 para 20%, de acordo com o Cadem.

Uma das preocupações do governo é que há três eleições importantes marcadas para ocorrer neste ano, e adiamentos não estão descartados. O ministro da Saúde, Enrique Paris, afirmou nesta semana que a votação que escolherá os membros da nova Assembleia Constituinte por ora está mantida e deve ocorrer em dois dias, 10 e 11 de abril. A realização do pleito pode servir de farol para as eleições regionais em julho e a presidencial, em novembro, quando será definido o sucessor de Piñera.

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