A OMS (Organização Mundial da Saúde) foi questionada, nesta quarta (1º), sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que distorceu as orientações da organização para conter o avanço da Covid-19.
Na terça (31) de manhã, Bolsonaro disse que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, havia defendido que os trabalhadores informais continuassem trabalhando, o que não é verdade. Tedros disse que, ao elaborar políticas de restrição de circulação, indicadas para conter o coronavírus, é preciso levar em conta os profissionais que precisam ganhar o pão de cada dia.
À noite, durante pronunciamento em rede nacional, Bolsonaro voltou a citar o diretor da OMS, mas dessa vez para sustentar a tese que equipara o salvamento de vidas ao de empregos. O presidente citou trechos maiores da entrevista do chefe da entidade na véspera, na qual enfatizava que os governos devem ter preocupação com os mais pobres durante a pandemia, mas novamente não disse que Tedros defende o isolamento e as restrições de mobilidade para conter o coronavírus.
Nesta quarta, Tedros foi questionado por um jornalista sobre a fala de Bolsonaro e passou a palavra para Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências sanitárias da entidade.
Ele disse: "Além das medidas de lockdown, precisamos de estratégias abrangentes baseadas em vigilância, em intervenção de saúde pública, detecção de casos, testagem, isolamento, quarentena, e fortalecer nossos sistemas de saúde para absorver o golpe", afirmou Ryan, que ainda ressaltou que a mensagem era direcionada a todos os países, não somente ao Brasil.
"Engaje suas comunidades, eduque as comunidades e as traga a bordo. Não deixe ninguém para trás", disse Ryan.
Bolsonaro tem defendido que pessoas saiam às ruas e para que os estados interrompam as medidas de isolamento mais severas. O presidente defende o que ele chama de "isolamento vertical", o que seria um isolamento somente do grupo de risco do novo coronavírus. Algo parecido foi tentado no Reino Unido e, em pouco tempo, abandonado. O país agora tem quase 30 mil casos e mais de 2.000 mortos.
Na terça, o próprio Ryan havia afirmado que as ações restritivas são lamentáveis, mas são também as únicas possíveis no momento. "Essas medidas não são fáceis e estão machucando as pessoas. Mas a alternativa é ainda pior", disse.
A sequência de afirmações teve início após pergunta de uma jornalista da Índia. Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, ordenou um lockdown (com proibição para que as pessoas saiam de casa), mas fez o anúncio da medida de tal forma que a população teve menos de 4 horas para se preparar para uma confinamento de 21 dias. A ação levou a corrida por mantimentos e, nas redes sociais, imagens mostraram multidões se aglomerando em frente a lojas e mercados de Nova Déli e Mumbai, as duas principais cidades do país.
Além disso, há uma crise local porque uma parte migrante da população come e vive no mesmo local em que trabalha. Dessa forma, o anúncio de Modi fez com que muita gente, inclusive famílias inteiras, tenha se tornado sem teto e não tenha o que comer. Muitos migrantes juntaram seus pertences e planejam andar até milhares de quilômetros por rodovias, segundo reportou o jornal americano The New York Times.
Os representantes da OMS afirmaram que é preciso ser transparente com a população.
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